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Valorização

Com a saca valendo R$ 500, hospital pede doações de café para pagar as contas

Hospital psiquiátrico Allan Kardec desenvolve uma campanha na qual pretende receber mais de cem sacas de café como doação

Quando as doações forem todas recebidas, o hospital venderá o produto e usará o dinheiro em seu custeio e no pagamento de servidores. | ml/dc/MAURICIO LIMA
Quando as doações forem todas recebidas, o hospital venderá o produto e usará o dinheiro em seu custeio e no pagamento de servidores. (Foto: ml/dc/MAURICIO LIMA)

O café está tão valorizado que, além de servir de chamariz para pequenos assaltantes ou para quadrilhas especializadas, também tem despertado a atenção de entidades filantrópicas e servido como uma moeda de troca para a compra de máquinas e implementos agrícolas.

Na região de Franca (a 400 km de SP), um dos polos cafeeiros do país, o hospital psiquiátrico Allan Kardec desenvolve uma campanha na qual pretende receber mais de cem sacas de café como doação.

Se a meta for cumprida, isso significará, na cotação atual, R$ 50 mil a mais nos cofres da instituição, que enfrenta dificuldades financeiras e chegou até a atrasar salários.

No último ano, quando a campanha também foi desenvolvida, o hospital conseguiu amealhar cerca de 70 sacas.

Quando as doações forem todas recebidas, o hospital venderá o produto e usará o dinheiro em seu custeio e no pagamento de servidores.

“Também é possível que o produtor doe o café e o deixe depositado num armazém, que é mais seguro, e só nos comunique. Quando o armazém vender, repassará o dinheiro para o hospital”, disse o cafeicultor Wanderley Cintra Ferreira, presidente do hospital Allan Kardec.

No sul de Minas Gerais, uma feira agrícola de uma cooperativa de cafeicultores, realizada no primeiro semestre, teve ao menos 80% das vendas pagas pelos produtores rurais por meio de operações com sacas de café.

Negócios

O pagamento de equipamentos agrícolas com a produção do campo é chamado de Barter e ocorre há décadas no meio rural, mas, com a cultura num bom momento em relação a outras atividades, essa modalidade teve alta entre os produtores.

A estimativa da Cooxupé (cooperativa que organizou a feira) é que os negócios fechados atingiram R$ 139,2 milhões, 16% a mais que a edição do ano passado.

Além de pagar com a produção, o cafeicultor ainda conseguiu dividir o valor da compra em três safras --uma parcela agora, em setembro, e as demais no mesmo mês de 2017 e 2018.

O produtor Adalberto Araújo, que tem produção anual estimada em mil sacas -- R$ 500 mil brutos, conforme a cotação atual--, comprou cerca de R$ 20 mil em implementos, ou 40 sacas, a serem pagos nessas condições.

“Com o parcelamento e o pagamento feito a partir do próprio café que a gente tem, fica mais fácil comprar. Assim não fico dependendo de como está a cotação no dia, não fico tendo de fazer contas para o momento certo de comprar”, disse o produtor.

Receptador

Presidente da Cooxupé, Carlos Paulino disse que a procura dos criminosos pelo café se explica pelo valor que os ladrões podem obter em comparação a roubos de cargas de outras culturas.

“O café não está com um preço excepcional, mas está com preço bom. Um saco de milho gira em torno de R$ 40 ou R$ 50, dependendo da região, enquanto o café passa de R$ 500. E deve ter algum receptador pagando bem. Café não tem carimbo de origem. Saiu de uma mão, chegou à outra, acabou”, disse.

O país, segundo dados do Ministério da Agricultura, manteve em 2015 sua posição de principal produtor e exportador mundial de café, além de ser o segundo maior consumidor.

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