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Agro brasileiro tem os atributos ambientais mais valorizados pela bioeconomia
Agro brasileiro tem os atributos ambientais mais valorizados pela bioeconomia| Foto: Wenderson Araújo/CNA

Transição energética, descarbonização, combustíveis renováveis, produção sustentável de alimentos. Todos esses termos estão ligados à nova economia do século 21, a bioeconomia, em que o Brasil tem as condições de ser protagonista e recuperar décadas de estagnação no desenvolvimento industrial.

A avaliação é de Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), que promove nesta semana seu congresso anual, em São Paulo, com o tema da biocompetitividade no contexto de uma geopolítica global cada vez mais fragmentada.

“Neste novo mundo da bioeconomia, nós somos o paradigma, somos os protagonistas. Existe um potencial muito grande de agregação de valor com tecnologia, e é uma oportunidade para a indústria se recuperar da perda profunda que teve nos últimos anos”, diz Caio Carvalho.

Ele aponta que o momento é de organização das cadeias produtivas dessa bioeconomia, e há muito interesse em investir no Brasil. "Desde que o país faça uma escolha correta. O mundo está com muita liquidez, uma nova realidade de juros mais altos, e a gente vai ter que, inevitavelmente, escolher um caminho. Essa é a discussão", pontua.

O executivo lamenta que o atual governo tenha perdido muito tempo agredindo o agronegócio, em vez de contribuir para uma articulação nacional que realce os diferenciais sustentáveis de nossa produção.

Memes e o risco de repetir Dilma

“O agro de fato reagiu a uma sequência de agressões, em que, depois, passam um remedinho para aliviar e assoprar. Foram vários momentos que não vale a pena relembrar, mas nitidamente houve um acirramento nas relações. Agora há uma procura para tentar melhorar isso do lado do governo”, observa Carvalho.

Dentre outros atritos, Lula chamou de fascistas os organizadores da maior feira tecnológica rural do país, a Agrishow. Ao mesmo tempo, ministros do Planalto prestigiavam feira do MST em São Paulo e sem-terra invadiam área de pesquisa da Embrapa em Pernambuco. Neste ano, o governo Lula antagonizou com os produtores insistindo na realização de um leilão de arroz que poderia desestabilizar toda a cadeia produtiva.

Carvalho teme a repetição de um dos maiores erros do governo Dilma, que foi imaginar que a gastança do governo iria desenvolver o país. “É uma preocupação constante, está todo mundo de olho. Veja essa questão de receita, receita, receita, que virou meme do ministro da Fazenda. Ficou até uma coisa ridícula, porque é samba de uma nota só. O Brasil já perdeu muito tempo, não tem mais tempo a perder”, sublinha.

Caio Carvalho, presidente da Abag
Caio Carvalho é presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)| Divulgação / Abag

Desempenho parecido com o da Argentina

Em relação a tempo perdido, o presidente da Abag traça um paralelo com o desenvolvimento da Argentina. Apesar de muita gente enxergar a estagnação do país vizinho, a realidade brasileira não seria muito diferente. Um estudo da MB Associados mostra que, nos últimos 20 anos, o Brasil teve crescimento real de 53% e a Argentina, de 45%. “Em determinados momentos de ideologia, como foi o momento da Dilma, o Brasil literalmente perdeu o ângulo de crescimento, voltou para baixo e acompanhou a Argentina. Essas posturas internas atrapalham muito”, observa.

Ajustando o foco para o ano de 2024, novamente são as atitudes do governo que acendem luzes de alerta. “Tudo isso é muito preocupante, principalmente quando temos um mandatário preocupado com a sua imagem, preocupado em achar uma forma de fazer o arroz e não sei mais o que ficarem mais barato. São coisas muito populistas, com fórmulas já testadas e reprovadas. Você faz uma bobagem dessa e depois paga por dez anos à frente”, diz Carvalho.

Seria o momento de redobrar a atenção na condução diplomática da inserção global do agronegócio brasileiro. O congresso da Abag pretende debater qual a melhor postura diante da polarização crescente e divisão do mundo em blocos de influência geopolítica, liderados antagonicamente por China e Estados Unidos.

Evitar cair em armadilhas geopolíticas

“Não vejo outro caminho que não seja o de mantermos a nossa tradição do ponto de vista diplomático. Sabermos aproveitar o que temos de especial dos EUA, inclusive o conceito de democracia, de mercado e de liberdade", diz o dirigente da Abag.

"Ao mesmo tempo, temos o incrível mercado asiático, com países muito distintos que nos interessam, como é o caso do Japão, com o combustível de aviação, e a China, com grãos e agregação de valor, biocombustíveis e outros produtos de alimentação. E a própria Europa, com a tentativa de discussão de um acordo que, na verdade, até dê a eles um pouco mais de segurança alimentar do que aquela que eles já têm”, emenda.

Dentre barbeiragens a ser evitadas, Carvalho cita dois exemplos: “O governo anterior quase entrou na armadilha envolvendo Israel e os árabes, escolhendo Israel e se esquecendo que o grande mercado é o árabe. E aí você tem atualmente essa conversinha com o Brics e com a China. São armadilhas soltas, são cascas de banana que nos deixam muito assustados”.

Lei antidesmatamento deve ser adiada

No relacionamento com a Europa, Carvalho diz estar seguro de que o bloco deve adiar o início de suas novas regulações ambientais, marcado para 1º de janeiro de 2025.

“Particularmente temos certeza de que eles vão ter que adiar isso, é um pedido formal dos Estados Unidos. Então, eles vão ter que adiar, vão ter que rever uma série de coisas que o agricultor da União Europeia não está aceitando, e vão ter que se compor numa lógica de pressão. Por que, apesar de todas as dificuldades, a Organização Mundial do Comércio (OMC) está viva, é formal, e é um campo de grande discussão que o Brasil talvez ainda venha a utilizar com o apoio de uma série de países”, conclui.

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