Em meio às preocupações com os extremos climáticos e a segurança alimentar global, a ciência traz uma boa notícia sobre a possibilidade de dar um salto na produtividade das plantações realçando o papel de genes ligados à fotossíntese. Dois anos de ensaios e provas no campo, liderados por uma cientista brasileira que faz pós-doutorado nos Estados Unidos, apontaram para um aumento de até 33% na produtividade de uma nova soja geneticamente modificada.
O impacto já seria imenso por envolver a leguminosa que é principal fonte de proteína vegetal no mundo e produto líder da pauta de exportações do Brasil. As esperanças, contudo, vão além, vislumbrando-se a possibilidade de incrementar as colheitas de outros cultivos alimentares essenciais à alimentação humana, como arroz, feijão, milho e mandioca.
Os primeiros resultados da pesquisa com a nova soja transgênica foram publicados em artigo de capa da edição de agosto da revista científica Science. À frente dos estudos, está a brasileira Amanda Pereira de Souza, biológa, doutora em Ciências pela USP e pós-doutoranda na Universidade de Illinois, no projeto Realizing Increased Photosynthetic Efficiency (RIPE).
O avanço expressivo na produtividade da leguminosa ocorreu pelo aprimoramento no processo de fotossíntese, acelerando a adaptação da planta às variações de luminosidade. Dentre cinco linhagens testadas, a média de incremento no volume de grãos colhidos foi de 24,5%, chegando a um pico de 33% em um dos campos.
Os experimentos já tinham dado resultado parecido no cultivo de tabaco, mas ainda era uma incógnita se funcionariam também para um cultivo alimentar. Apesar do grande aumento da quantidade de vagens por planta de soja, os níveis de óleo e de proteína mantiveram-se inalterados nas plantas geneticamente modificadas.
Como a nova soja transgênica otimiza a fotossíntese
Para se protegerem do sol, as plantas dissipam na forma de calor o excesso de energia luminosa absorvida. Mesmo quando aparecem nuvens no céu, e a planta fica à sombra, a dissipação ainda segue por alguns minutos, desacelerando a fotossíntese. O que os pesquisadores fizeram foi superexpressar características de três genes que otimizam a adaptação da planta em condições de luz flutuante. Curiosamente, as plantas expostas a uma taxa maior de variações de luz e sombra ao longo do dia foram as que mais aumentaram a produtividade.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Amanda de Souza diz-se otimista quanto ao potencial de a descoberta levar ao aumento na produção de outros alimentos, como trigo, arroz e milho. "Acreditamos que sim, devido ao fato de que o processo fisiológico que foi alterado é comum em todas as diferentes culturas. Há uma variabilidade significativa entre as diferentes culturas que precisa ser explorada para entender o quanto o processo pode ser melhorado em cada cultura, mas o mecanismo é bem semelhante em todas elas", explica.
Novas pesquisas com outras culturas ainda serão feitas
Em entrevista ao New York Times, o cientista Thomas R. Sinclair, da Universidade da Carolina do Norte, especialista em culturas agronômicas alimentares, que não integrou o estudo, diz que será preciso ainda alguns anos de testes, em condições variadas, para confirmar se, realmente, a intervenção na fotossíntese resulta em colheitas maiores. A tese dele é de que a produtividade de grãos é muito mais dependente do acúmulo de nitrogênio e transferência para as sementes. Outras pesquisas que envolveram manipulação da fotossíntese, nos anos 70 e 80, não trouxeram avanços significativos. Alguns concluíram que se um processo fundamental como a fotossíntese pudesse ser melhorado, a seleção genética natural já teria feito.
Stephen Long, um dos colegas de Amanda de Souza no estudo, no entanto, defende a linha de pesquisa. As plantas evoluem com vistas à reprodução, disse ele, e não para maximizar o número de sementes e outras partes que interessam para matar a fome dos seres humanos.
A cientista brasileira considera que foi dado "um primeiro passo" ao se demonstrar que o processo fisiológico modificado tem enorme potencial para aumentar a produtividade da soja. Experimentos de campo em maior escala, considerando diferentes variáveis ambientais e localidades, ainda serão necessários. "Os passos entre esses primeiros resultados no setor acadêmico até a chegada a plantas comerciais são muitos, e somente depois de diversas validações (especialmente porque são plantas transgênicas), é possível que essa tecnologia seja realmente considerada para comercialização", conclui Amanda. A pesquisa deve continuar ainda por mais cinco anos, antes de conclusões definitivas.
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