O slogan global da BASF – “Nós criamos química” – está meio desatualizado, em que pese se tratar da maior companhia química do mundo. Falta agricultura nesse mote. A multinacional alemã sofreu a maior mudança de perfil de sua história quando, há um ano, concluiu por US$ 9 bilhões (R$ 36,9 bilhões) a compra de vários negócios e ativos que a Bayer, ao adquirir a americana Monsanto, foi obrigada a vender para não infringir legislações antitruste. Além de 4.500 novos funcionários, vieram divisões inteiras de projetos, pesquisas e novas tecnologias em herbicidas, tratamento de sementes e agricultura digital.
Como se diz no meio rural, a BASF comprou ativos da Bayer de “porteira fechada”. “Foi a maior mudança na história de 150 anos da companhia. É o início de um novo capítulo. Na agricultura, não somos mais apenas uma empresa inovadora na proteção de cultivos, agora estamos oferecendo soluções integradas, combinando proteção das lavouras, tratamento de sementes, biotecnologia e plataformas digitais. E isso está fazendo uma enorme diferença em termos de estratégia e em nossa forma de fazer negócios”, diz o francês Vincent Gros, presidente global da Divisão de Agricultura da BASF.
Nesta semana, Vincent e a cúpula de executivos da área agrícola da BASF na América Latina receberam jornalistas no centro de pesquisas da empresa em Trindade, Goiás. O próprio centro é uma espécie de cartão de visitas do novo momento da companhia: ali foram investidos R$ 60 milhões para acelerar a pesquisa de novas cultivares de algodão e soja. Curiosamente, na visita às estufas e laboratórios, dos oito técnicos contatados pela reportagem, apenas um era originário da BASF. Todos os outros “vieram” com o pacote adquirido da concorrente Bayer.
"Um motor novo"
A BASF, que começou em 1865 como Fábrica de Anilina e Soda de Baden (formando as iniciais BASF, em alemão), destinou para a recém estruturada divisão agrícola 900 milhões de euros (R$ 4 bilhões), apenas na rubrica "pesquisa e desenvolvimento'.
“Temos um motor novo no carro”, brinca o alemão Rolf Reinecke, vice-presidente de Marketing Estratégico Global da BASF.
Para crescer globalmente, a BASF elegeu quatro grandes cadeias produtivas, que concentram 70% das receitas das commodities agrícolas. Nas Américas, quer ganhar mercado provendo soluções para grãos (como soja e milho), que dominam a paisagem rural, e também para o algodão, que é forte na Bahia e no Mato Grosso. No segmento combinado de proteção de cultivos, sementes e plataformas digitais, a BASF está em quarto lugar entre as multinacionais que atuam no Brasil, atrás da Bayer (líder), Corteva e Syngenta.
Na Europa e América do Norte, a frente de expansão está nas cadeias produtivas da canola, trigo e girassol – segmento em que a empresa detém 12% do mercado e mira a liderança. Uma terceira prioridade da multinacional alemã é alcançar o 3º lugar global no sistema de proteção de cultivo e produção de sementes para frutas e vegetais, em que hoje responde por 18%. Por fim, está uma atenção especial ao arroz, principal driver de crescimento dos negócios na Ásia, em que a BASF detém 8% do mercado. Esses quatro grandes eixos, segundo a BASF, movimentam mais de US$ 100 bilhões (R$ 410 bilhões) por ano.
Portfólio ampliado
Exemplos de projetos em andamento nos centros de pesquisa brasileiros ilustram bem como a BASF tenta “virar a chave” do foco exclusivo na proteção dos cultivos para um amplo portfólio de soluções agrícolas.
No cultivo mais importante do país, a soja, a companhia testa variedades com maior resistência a nematoides e à ferrugem asiática. Na área digital, a tecnologia Xarvio (também “herdada da Bayer”) utiliza fotos tiradas por drones para identificar onde estão as ervas daninhas resistentes e direcionar a aplicação do herbicida. Com a ferramenta Smart Sprayer, que ainda está em testes, câmeras instaladas pela Bosch na barra de pulverização analisam planta por planta e ordenam a aplicação do veneno apenas quando surge a espécie invasora e em doses individuais. Há ainda serviços gratuitos, como os do aplicativo Xarvio Scouting APR, que utiliza o celular para identificar plantas daninhas, reconhecer doenças e calcular os danos causados.
A América Latina detém um quarto de todos os negócios da BASF. E, desses, 40% estão no Brasil. “São números que ainda devem crescer, devido à maneira rápida como a inovação é assimilada por aqui”, diz Vincent Gros.
A empresa promete entregar nos próximos dez anos quase 30 variedades de algodão e mais de 80 variedades de soja, desenvolvidos em 18 campos experimentais no país. Até 2028, serão quatro novos ingredientes ativos. Em média, uma nova biotecnologia consome R$ 200 milhões em investimentos e leva de 13 a 14 anos da concepção, pesquisa e desenvolvimento até a aprovação do registro e comercialização.
*O jornalista viajou a convite da BASF.
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