Nesta quarta-feira a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Arroz se reúne para debater o abastecimento no país, a logística de escoamento da produção do Rio Grande do Sul e o impacto das medidas intervencionistas do governo sobre o mercado.
Por envolver interesse público, essas reuniões em formato híbrido (online e presencial) costumam ser abertas, mas, desta vez, o encontro foi blindado pelo Ministério da Agricultura, que vetou a participação de jornalistas. A perspectiva era de um debate acalorado, porque, nos últimos dias, o governo vem sendo alvo de fortes críticas do setor após anunciar a importação de um milhão de toneladas de arroz, com a justificativa de evitar a alta de preços.
O efeito, até agora, foi o contrário, alarmando a população quanto à disponibilidade do produto e provocando uma corrida às compras. O primeiro leilão de aquisição, que seria realizado na terça-feira (21), acabou suspenso, após alta de 30% nos preços dos fornecedores vizinhos, do Mercosul. “Demos demonstração ao Mercosul de que, se for querer especular, nós buscamos de outro lugar”, reagiu o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
País tem arroz para 10 meses
A alternativa encontrada por Brasília, então, foi a de zerar as alíquotas para importação de arroz de outros países, que não atendem necessariamente aos padrões fitossanitários exigidos do produtor brasileiro. A medida também desagradou o setor produtivo, que vem insistindo que há arroz em estoque para dez meses de consumo no país e que medidas intervencionistas vão apenas alterar artificialmente os preços, desencorajando o cultivo para os próximos ciclos.
“Muitos produtores já estão com prejuízos e produtividade baixa. Daí vem esse choque de oferta, derruba o preço e o produtor fica a temporada toda operando com margem negativa. É algo fora da realidade”, avaliou Evandro Oliveira, analista da agência Safras & Mercado.
Reportagem da Gazeta do Povo já mostrou que, mesmo com a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, a safra gaúcha, que atende 70% do consumo nacional, foi pouco afetada, ficando apenas 1,24% menor do que no ciclo anterior. Em nota à sociedade, entidades ligadas à orizicultura, afirmaram que “inexiste risco de desabastecimento de arroz ao mercado consumidor”. Para o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, a medida pretendida pelo governo Lula é “demagogia barata”.
Um jornalista gaúcho que havia solicitado participar da reunião da Câmara Setorial como observador se surpreendeu com a negativa. "Já contava com a anuência do presidente da Câmara e diversos outros agentes da cadeia produtiva, inclusive ligados ao Ministério. Mas foi negado o acesso como ouvinte. Trata-se de uma das mais importantes reuniões em quase duas décadas de existência do órgão, pois serão debatidas questões extremamente delicadas e relevantes para o futuro da orizicultura brasileira e do Mercosul. Para um governo que se diz democrático e transparente, consideramos ser um grande retrocesso", afirmou.
Na véspera do encontro, a reportagem da Gazeta do Povo enviou ao Ministério da Agricultura solicitação do link para participação, como ouvinte, na reunião da Câmara Setorial do Arroz. Mas não houve retorno ao pedido.
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