A arquiteta Vanessa Bomm, de Palotina, no Paraná, trocou de profissão há sete anos, quando assumiu a operação da propriedade rural que está na família há mais de sete décadas. Apesar de ter abandonado as pranchetas, as lições da arquitetura, de prestar atenção aos pequenos detalhes, acompanharam Vanessa nos novos desafios e provaram fazer a diferença também no campo.
O cultivo de soja, milho e trigo da Fazenda Mareva se alterna com períodos em que os campos recebem sementes de plantas que nunca serão colhidas. Na época de maturação, elas são incorporadas ao solo, virando “adubação verde” ou plantio de cobertura. Esses cultivos envolvem aveia, nabo, trigo mourisco, sorgo, milheto, e os capins braquiária e crotalária. Ou um mix dessas plantas.
Em pouco tempo, Vanessa constatou que a produtividade das áreas em que pratica a adubação verde ficou 20% maior. E ainda aumentou a resistência dos talhões às extremidades climáticas, atenuando as perdas pela seca, por exemplo. “É um investimento. Com mais raízes, com mais palhada, a gente consegue mais microrganismos, mais saúde e vida no solo. E ainda sequestra carbono”, sublinha.
Boas práticas são destaque no Prêmio Mulheres do Agro
A arquiteta convertida em produtora rural ganhou destaque nesta semana na sétima edição do Prêmio Mulheres do Agro, dentro do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), em São Paulo (SP). Considerado o maior evento global do agro feminino, o encontro reuniu mais de três mil mulheres. Vanessa venceu a categoria de grande propriedade, acima de 15 módulos rurais (cerca de 270 hectares em Palotina).
As boas práticas da fazenda paranaense ganharam hoje apelidos da moda, como ESG ou agricultura regenerativa. Na realidade, envolvem técnicas e cuidados agronômicos cada vez mais comuns nas propriedades rurais, administradas por novas gerações antenadas com a tecnologia. E, também, pelo simples fato de que o solo é o principal patrimônio de um agricultor.
Na categoria de pequena propriedade, o prêmio foi para a produtora Gabi Rodrigues, empreendedora da Palmitolândia, em Iporanga (SP). Utilizando apenas 20% da propriedade de 170 alqueires na Mata Atlântica, Gabi cultiva 100 mil pés de palmito pupunha. Ao contrário do palmito juçara, cuja planta morre se o talo for extraído, a pupunha gera novos brotos a cada colheita, por tempo indeterminado.
Cercar não protege matas, mas o turismo sim
A produtora acredita que a experiência bem-sucedida de sua propriedade, que alia preservação com produção sustentável e turismo, é replicável em qualquer bioma, inclusive os mais ameaçados.
“Estou entre o Parque Estadual do Alto Ribeira e o Parque da Caverna do Diabo. Minha experiência em 20 anos é de que quanto mais você cerca, quanto mais tenta proteger, mais você deixa descoberto, e terra desocupada é lugar para palmiteiro e tudo mais”, afirma.
“A partir do momento que eu abri a fazenda para o turismo, o turismo me salvou. Porque ao receber grupos de 21 bugues andando na plantação, por exemplo, eu automaticamente espanto o palmiteiro, espanto o cara que quer pegar meu tiê-roxo, meu tiê-sangue, para vender esses passarinhos raros que tem ali. Não fiquei milionária, nem é o caso, mas consegui manter a floresta em pé”, sublinha Gabi.
Cafés especiais que desafiam tabus
Na categoria de média propriedade, a vencedora do 7º Prêmio Mulheres do Agro foi Luiza Oliveira Macedo, da Fazenda Tapera do Baú, de Boa Esperança (MG). Engenheira agrônoma com mestrado e doutorado, Luiza desafiou o tabu de que não seria possível produzir cafés especiais próximo a um lago e em terras de média altitude (cerca de 700 metros). Também inaugurou na região a irrigação por gotejamento dos cafezais.
“O pessoal falava que para produzir café especial é preciso 1.300 metros. Foi a primeira quebra de paradigma, a gente aprendeu a processar. Fizemos estudos de fermentação e no primeiro ano já tiramos o primeiro lugar regional no concurso da minha cidade", conta Luiza.
"Boa Esperança é uma região em que o pessoal fazia muito café de má qualidade, o café riado. A gente está na beira de Furnas, tem muito orvalho, o café se perde ali no processo. Mas com boas práticas, a gente provou que consegue fazer café especial, e não só bons cafés, mas cafés muito pontuados, que dá para ganhar concurso nacional”, destaca a produtora.
Dois milhões de mulheres lideram agro no país
O concurso das mulheres do agro premiou também protagonistas do campo envolvidas com Ciência e Pesquisa. Nesta categoria, a vencedora foi Danielle Pereira Baliza, de Minas Gerais. Pós-doutora em Agronomia e Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Danielle tem mais de 40 artigos científicos publicados, sendo pioneira nos estudos sobre sistemas agroflorestais (SAFs) com café.
Para Daniela Barros, diretora de comunicação da divisão agrícola da Bayer, uma das patrocinadoras do congresso, o protagonismo feminino segue ampliando espaços no agro.
“O último censo do IBGE apontou que, de cada dez fazendas, duas são lideradas por mulheres. E se juntar em liderança compartilhada, com marido, pai ou irmão, vai para 35%. São 2 milhões de mulheres liderando temas estratégicos no mercado. E a mulher tem essa característica, essa habilidade de cuidar. Ela traz, além de muita inovação, muito cuidado em toda a operação agrícola”, assegura.
*O jornalista viajou ao Congresso Nacional das Mulheres no Agronegócio a convite da Bayer.
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