Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Detecção em 28 países

Contra globalização do PCC, forças de segurança investem em cooperação internacional inédita

PCC tem buscado outros países não apenas para viagens temporárias para “abrir mercados” e firmar parcerias com organizações locais, mas sim como moradia fixa, estabelecimento de operações criminosas próprias e infiltração em cadeias.
PCC tem buscado outros países não apenas para viagens temporárias para “abrir mercados” e firmar parcerias com organizações locais, mas sim como moradia fixa, estabelecimento de operações criminosas próprias e infiltração em cadeias. (Foto: Imagem criada utilizando ChatGPT/Gazeta do Povo)

Ouça este conteúdo

No último dia 1º, a Polícia Federal (PF) montou uma operação e prendeu seis foragidos brasileiros na região da Tríplice Fronteira. Eles são acusados por crimes como roubo, tráfico de drogas, homicídio e estelionato, e trafegavam entre Brasil, Argentina e Paraguai com documentos falsos. No dia anterior, a PF, em ação conjunta com a Polícia Nacional do Paraguai, tinha prendido um homem procurado pela Justiça brasileira por tráfico de drogas.

O indivíduo, que seria ligado a uma facção criminosa, foi localizado no território paraguaio e detido pelas autoridades locais, que o encaminharam à aduana da Ponte Internacional da Amizade, onde foi entregue à Polícia Federal para cumprimento dos mandados judiciais.

O preso possui duas condenações expedidas pela Vara Federal de Londrina (PR), com penas que somam 24 anos de reclusão em regime fechado. Após os trâmites de entrega, ele foi conduzido à Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR) para comunicação da prisão ao juízo competente e início do cumprimento da pena.

Esses dois casos na mesma região em um intervalo de 24 horas passaram praticamente despercebidos e sem destaque na imprensa, mas são exemplos de uma iniciativa cada vez mais frequente: contra a “globalização" crescente de facções criminosas, autoridades brasileiras têm intensificado esforços de cooperação internacional.

Desde dezembro, a PF assinou pelo menos seis acordos para o estreitamento na cooperação policial internacional contra o tráfico de drogas e os grupos criminosos transnacionais — com as polícias federais do Paraguai, Angola, Nigéria, Itália, França e União Europeia (neste caso, com a Europol).

O próprio Ministério Público de São Paulo (MP-SP) — uma das linhas de frente no combate ao PCC, facção que nasceu, cresceu e é hegemônica em São Paulo — busca ampliar sua atuação internacional para dar conta da tarefa. No último dia 25, o MP-SP e a Procuradoria Nacional Antimáfia e Antiterrorismo da Itália (DNA) formalizaram um acordo de cooperação técnica para o compartilhamento de dados e informações, intercâmbio de experiências e capacitação de membros e funcionários, com o objetivo de prevenir e reprimir organizações criminosas.

A iniciativa é inédita. Nunca as promotorias da Itália e Brasil firmaram um acordo para compartilhamento de informações permanente e sem prazo para acabar. Antes, havia apenas investigações colaborativas pontuais entre as respectivas polícias. 

Faturamento do PCC está estimado em pelo menos R$ 1 bilhão por ano, a maior parte proveniente do tráfico nacional e internacional de drogas. 

Os acordos diretos, sem intermediação ou participação dos governos dos países envolvidos, surgem no âmbito da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, também conhecida como Convenção de Palermo, e seus protocolos adicionais, que promovem a cooperação direta entre as autoridades competentes, o intercâmbio de informações, a criação de equipes conjuntas de investigação e a capacitação de funcionários e agentes públicos como instrumentos fundamentais no combate ao crime organizado internacional. 

Na esfera federal, o governo tem ampliado as parcerias para tentar represar o problema. No começo de junho, foi assinado um acordo de cooperação internacional para o enfrentamento ao crime organizado transnacional com a Interpol. Com Portugal, também foi assinado um acordo de cooperação para investigação e combate à criminalidade organizada transnacional e ao terrorismo. Os termos foram definidos na 14ª Cúpula Brasil-Portugal, em fevereiro, e definiram o intercâmbio de informações e dados, além de operações conjuntas entre a Polícia Federal brasileira e as forças de segurança portuguesas.

VEJA TAMBÉM:

Estimativa é de mais de 2 mil membros do PCC no exterior

De acordo com levantamento do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) está disseminada em pelo menos 28 países mundo afora. O mapeamento, revelado em primeira mão pela GloboNews, tem sido apresentado a embaixadas e consulados no exterior para cooperação internacional no combate a crimes transnacionais em pelo menos quatro continentes.

Segundo o documento são, no total, 2.078 integrantes do PCC identificados no exterior — fora os mais de 40 mil no Brasil. O faturamento da facção criminosa está estimado em pelo menos R$ 1 bilhão por ano, a maior parte proveniente do tráfico nacional e internacional de drogas. 

Portugal é o principal país da Europa em proporção com presença do PCC.

O mapeamento é fruto de um cruzamento de informações de inteligência obtidas por meio do monitoramento de integrantes do PCC que fazem parte das chamadas "Sintonia dos Estados" e "Sintonia dos Países", setores do PCC cujos membros são responsáveis pelo acompanhamento do desenvolvimento da facção fora do estado de São Paulo e fora do Brasil, além da análise de dados a partir da quebra do sigilo telefônico e telemático de investigados e da troca de informações com autoridades estrangeiras.

A maioria dos integrantes do PCC no exterior se concentra na América do Sul. Os países com o maior número de membros são Paraguai, Venezuela, Bolívia e Uruguai. Portugal aparece em 5º lugar da lista de países com o maior número de integrantes do grupo criminoso e é o principal país da Europa em proporção da presença da facção.

Também aparecem na lista do MP-SP os seguintes países com presença de membros do PCC:

  • Alemanha
  • Argentina
  • Bélgica
  • Chile
  • Colômbia
  • Equador
  • Espanha
  • Estados Unidos
  • França
  • Guiana
  • Guiana Francesa
  • Holanda
  • Inglaterra
  • Irlanda
  • Japão
  • Líbano
  • México
  • Peru
  • Suriname
  • Suíça
  • Sérvia
  • Turquia

Além da expansão internacional, o que tem chamado a atenção das autoridades brasileiras e estrangeiras é que o PCC tem buscado outros países não apenas para viagens temporárias para “abrir mercados” e firmar parcerias com organizações locais, mas sim como moradia fixa, estabelecimento de operações criminosas próprias e infiltração em cadeias

VEJA TAMBÉM:

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.