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Minas Gerais

Cratera de vulcão brasileiro esconde jazida de terras raras e atrai mineradoras estrangeiras

Vulcão com jazida de terras raras, em Minas Gerais
Área de 800 quilômetros quadrados no sul de MG, onde está localizado o vulcão extinto há 120 milhões de anos. (Foto: Divulgação/Viridis Mining & Metals)

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A descoberta de uma jazida de terras raras na cratera de um vulcão extinto em Minas Gerais reforça o papel mundial do Brasil na corrida por metais críticos, alvo de disputa de grandes potências como Estados Unidos e China. A área de aproximadamente 800 quilômetros quadrados possui argilas com íons de terras raras, entre o sul do estado mineiro e a divisa de São Paulo.

De acordo com os estudos, o vulcão está inativo há 120 milhões de anos e contém a argila iônica há cerca de 30 metros de profundidade com potencial para chegar ao fornecimento de 10 bilhões de toneladas de terras raras, um dos metais críticos considerados mais importantes no processo de transição energética. O cenário atrai investidores estrangeiros para Minas Gerais, principalmente mineradoras da Austrália, por conta da característica da descoberta geológica com facilidade de extração dos metais no terreno argiloso.

No entanto, o gerente de Cadeias de Mineração Siderurgia e Metal-Mecânicas da Invest Minas, Henrique Tavares, explica que, apesar do interesse de grupos estrangeiros no estado líder do setor no país, a indústria mineral exige prazos longos e muito capital para amadurecer os projetos até se chegar à extração dos minérios.

“Temos terras raras na região sul entre os municípios de Poços de Caldas e Caldas, assim como em outras regiões do estado como em Araxá, que curiosamente também é a região do nióbio. Há dois anos, muitas empresas vieram para a extração do lítio, que avançou, e agora surgiu o interesse pelas terras raras em Minas”, explicou. 

O “Vale do Lítio” tem como foco as jazidas no norte e noroeste mineiro, onde também existe o potencial para mineração de grafite. Segundo a Invest Minas - agência de promoção de investimentos ligada ao governo mineiro - o estado é responsável por 47% da produção mineral do Brasil e pelo fornecimento de 75% de todo o nióbio mundial. 

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De acordo com o estudo The Global Hub for Critical Minerals, o estado de Minas Gerais se consolida como um polo emergente pela produção em escala mundial de minerais estratégicos para descarbonização, transição energética e segurança alimentar. A apresentação do governo mineiro para os investidores internacionais classifica o estado como "nova fronteira global para a exploração de terras raras em depósitos de argila iônica", pelo interesse internacional na cratera vulcânica.

De acordo com o levantamento, a combinação de recursos minerais de três empresas envolvidas nos projetos excedem 3 bilhões de toneladas, com a extração prevista para as regiões sul e centro-oeste de Minas Gerais, volume comparado à região do sul da China, que lidera o mercado mundial de terras raras.

Todo o potencial atraiu investimentos de mineradoras australianas, confirmados pelo governo mineiro com foco nas pesquisas para extração de terras raras. Os investimentos previstos contemplam:

  • Meteoric: R$ 1,18 bilhão em Caldas
  • Viridis: R$ 1,35 bilhão em Poços de Caldas, com joint venture com a Ionic Technologies (Irlanda do Norte) para processamento local.
  • Axel: protocolo de intenção de R$ 400 milhões em Padre Paraíso e Caldas.

Ainda conforme o Invest Minas, um protocolo de intenções foi firmado com a canadense Resouro para extração de titânio, em Tiros, município situado entre o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba, onde as terras raras estão associadas como subproduto. Da mesma forma, existe a previsão de investimentos da australiana St. George, em Araxá, onde o nióbio é o principal produto no processo de extração, com as terras raras como mineral secundário.  

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Com terras raras, laboratório-fábrica deve produzir ímãs de alta performance em Minas Gerais

Assessora estratégia da Invest Minas, Ana Beatriz Sullato, ressalta o projeto de verticalização da cadeia para agregar valor ao minério e não apenas exportá-lo como matéria-prima. O laboratório-fábrica em Lagoa Santa - desenvolvido pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) com a operação a cargo do Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) do Senai - deve receber as terras raras extraídas para a produção de ímãs de alta performance.  

“É algo muito relevante e não vejo isso se concretizando de forma tão realista quanto em Minas Gerais, fora da China. O objetivo é justamente a extração e o processamento até chegar aos ímãs e, possivelmente, incluir também a reciclagem desses produtos”, explica Sullato.

A join venture Viridium - formada pela Viridis e pela Ionic Technologies - ficará responsável pelo desenvolvimento da rota de processamento. “Além da geologia, a vantagem de Minas Gerais em relação a um contexto global, é que temos a infraestrutura e somos um estado industrializado. [...] Existem áreas de mineração no mundo que não são acessíveis e o estado de Minas Gerais tem um pacote com estradas, ferrovias e energia”, comenta a assessora.

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