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Uma formação geológica do tamanho da França, submersa no Oceano Atlântico Sul, está no centro de uma crescente tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos. Trata-se da Elevação do Rio Grande, uma espécie de "ilha submersa" de 500 mil km² situada a cerca de 1.200 km da costa do Rio Grande do Sul. Rica em “terras raras” – minerais estratégicos para a transição energética e produção de tecnologias de ponta –, a região é alvo de uma disputa geopolítica silenciosa, mas com potencial de impactos globais.
A Elevação do Rio Grande insere-se num contexto mais amplo de corrida global por recursos minerais estratégicos. Assim como o Ártico, a Groenlândia e o fundo do mar do Pacífico, o Atlântico Sul começa a atrair a atenção das grandes potências. Nesse jogo, o Brasil luta para assegurar uma posição soberana sobre seus potenciais recursos, mas enfrenta a realidade geopolítica de um cenário competitivo e assimétrico.
O Brasil reivindica soberania sobre a Elevação do Rio Grande junto à Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2018. O pedido tramita atualmente na Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC), vinculada à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), mas ainda não há prazo para decisão. Enquanto isso, os Estados Unidos, que não são signatários da convenção, já acenam interesse pelos recursos minerais da região, acirrando os ânimos em Brasília.
A manifestação do interesse norte-americano veio à tona em julho, quando o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, mencionou os minerais críticos e estratégicos da Elevação do Rio Grande como de relevância para os Estados Unidos. No mesmo dia, durante um evento em Minas Gerais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com veemência, dizendo que “os recursos do Brasil pertencem ao povo brasileiro, e ninguém põe a mão”.
Disputa deve ser longa
Atualmente, a Elevação do Rio Grande é considerada área internacional. O Brasil busca ampliar seus limites marítimos na ONU com base em critérios geológicos – uma prerrogativa prevista na Convenção do Direito do Mar, da qual é signatário. Os EUA, porém, não fazem parte do tratado, o que abre uma brecha jurídica: não estariam, em tese, legalmente impedidos de explorar a região.
Para o Brasil, o principal risco é estratégico: perder o controle efetivo sobre uma área de valor incalculável. Além disso, o tema pode se tornar moeda de troca em futuras negociações comerciais, tarifárias ou diplomáticas com os Estados Unidos – como já ocorreu durante o governo Trump em disputas envolvendo aço, tecnologia e meio ambiente.
Mas independente de quem vá explorar a região, demorará anos para que os possíveis minerais acumulados na região sejam explorados. Carina Ulsen, vice-coordenadora do projeto da Elevação do Rio Grande no Instituto Oceanográfico (IO) da USP, ponta que a extração mineral na Elevação do Rio Grande seria "muito complexa", e que, em terra, o processo entre pesquisa e mineração leva cerca de dez anos, sendo ainda mais longo no terreno submarino.
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