O leilão de concessão de um trecho da BR-262 em Minas Gerais, realizado nesta quinta-feira (31) na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), põe fim a uma espera de 20 anos. O bloco de 438 quilômetros é um dos mais movimentados do país e liga a região do Triângulo Mineiro à região metropolitana de Belo Horizonte, atendendo à demanda de diversos setores produtivos do estado, como o agronegócio, e as indústrias localizadas em Betim e Contagem, próximas à capital.
O grupo vencedor, Rotas do Brasil S.A., formado pelo grupo de construtoras Way Brasil e Kinea, representado pela Guida Investimentos, ofereceu 15,3% de desconto sobre os valores da tarifa básica de pedágio, vencendo o BTG Pactual Infraestrutura III, que também participou do leilão.
Promessa desde o primeiro governo de Lula (PT), quando foi então considerada prioritária no PAC 1, a “Rota do Zebu” é alvo frequente de reclamações dos usuários, em razão do volume de tráfego, manutenção precária e pouca segurança. O trecho entre Uberaba (ponto final do bloco licitado) e Belo Horizonte tem 475,9 quilômetros, e uma viagem de ônibus entre as duas cidades pode durar 9 horas. Entre Uberaba e São Paulo, que tem uma quilometragem parecida (482,4 km), o trajeto pela Rodovia Anhanguera, privatizada e totalmente duplicada, pode ser percorrido em até 7 horas.
Entre as obrigatoridades que agora são de responsabilidade da nova concessionária estão a duplicação de 44,3 quilômetros de rodovia, implantação de 168,87 quilômetros de faixas adicionais e de 3,63 quilômetros de vias marginais. Além disso, a Rotas do Brasil ficará encarregada de instalar um ponto de parada e descanso, 17 passarelas de pedestres, 100 pontos de ônibus e três passagens de fauna. A previsão é de que ao menos 4,4 milhões de pessoas sejam diretamente beneficiadas, e mais de 63 mil empregos diretos e indiretos sejam gerados.
Quilometragem a ser duplicada na BR-262 foi alvo de críticas dos prefeitos
Apesar da evidente necessidade de uma melhor administração da rodovia, a concessão despertou discussões. A previsão de apenas 44 quilômetros duplicados foi a base para que a Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Rio Grande (AmVale) questionasse a avaliação feita pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), tendo protocolado uma ação junto à 1ª Vara da Justiça Federal de Uberaba nesta semana para pedir a suspensão para revisão ou anulação do edital vigente.
Em nota, a AmVale explicou que “a perspectiva da realização de uma nova concessão, conforme o projeto finalizado pela ANTT, aprovado pelo Ministério dos Transportes e referendado com ressalvas pelo Tribunal de Contas da União dos ‘Estudos e da nova Proposta de Concessão’ para o trecho de 440,21 km da BR-262 entre Betim e Uberaba — denominado ‘Rota do Zebu’ — causou ‘estranheza e descrédito’ aos órgãos envolvidos diretamente na nova concessão. Isto porque os ‘estudos’ citados contemplam apenas a duplicação de 44,30 km (10% da extensão total do trecho), a construção de 127 km de 3ª faixa (63,5 km aproximadamente para cada sentido, o que equivale a 15% do total) e uma dezena de curvas que terão seu traçado corrigido, para uma concessão por um período de 30 anos”.
Na mesma nota, a presidente da Associação e prefeita reeleita de Uberaba, Elisa Araújo (PSD), ressaltou que, mesmo antes da publicação do edital, diversos pedidos de reavaliação foram encaminhados à ANTT, pois a avaliação que indicava não haver necessidade de mais trechos duplicados foi realizada durante a pandemia de Covid-19, quando o tráfego era, de fato, menor - porém, todos os pedidos foram em vão.
A prefeita recebeu em Uberaba a visita do vice-governador mineiro, Mateus Simões (Novo), em setembro, durante a campanha eleitoral. Na ocasião, Simões afirmou que estaria sendo discutida a inclusão de uma cláusula no contrato que garantiria recursos para custear uma duplicação, caso ficasse demonstrado que o fluxo de veículos é maior que a contagem feita no projeto inicial.
Outras medidas podem ser incorporadas para substituir as duplicações, explica governo de Minas
O secretário adjunto de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) do governo de Minas, Pedro Calixto, reforça que as duplicações nem sempre são a melhor opção. “Do ponto de vista técnico, a duplicação de uma rodovia é necessária quando há demanda para tal, e nem sempre essa é a solução para questões de segurança. Nesse caso, medidas que podem compensar a eventual ausência de duplicação em algum trecho não previsto são a criação de terceiras faixas para garantir ultrapassagens, melhorias nos acostamentos e na via de forma geral, segurança, sinalização, entre outros dispositivos”.
Para o secretário, a segurança da rodovia "deve ocorrer naturalmente" à medida que os investimentos obrigatórios comecem a ser realizados pela nova concessionária, o que contribui não apenas com a fluidez do trânsito como pode avançar para redução de acidentes.
Calixto ainda reforçou que existe "um bom e frequente contato com a ANTT", em diversas frentes, o que facilitaria tanto a fiscalização quanto a solicitação de novas demandas do governo de Minas que possam beneficiar a população. “O Estado, por estar mais próximo da realidade do cidadão, acaba recebendo muitas demandas. Nosso trabalho é fazer com que, por meio dessa articulação no âmbito federal, junto às agências, elas sejam atendidas e que a gente consiga transmitir as necessidades dos cidadãos mineiros, para que as agências cumpram seu papel de fiscalização e garantam que as políticas públicas sejam eficazes no dia a dia da população”.
Para o secretário, um grande desafio de todas as concessões está em chancelar que o custo seja suficiente para viabilizar os investimentos, sem onerar excessivamente o usuário. “Com os investimentos no modelo de concessão, há melhorias na rodovia, redução no tempo de tráfego, diminuição de acidentes e do desgaste dos veículos. Esses benefícios justificam o valor pago no pedágio, oferecendo uma experiência mais ágil, segura e econômica para os usuários”, afirma Calixto.
Uberaba, conhecida como “capital do gado Zebu”, é um dos principais polos de genética e criação de gado do país. Também possui três distritos industriais. Além da conexão com Belo Horizonte e São Paulo, a cidade dista cerca de 500 quilômetros de Brasília, sendo assim um ponto logístico crucial. Os investimentos na rodovia devem facilitar o escoamento da produção tanto do Triângulo Mineiro para a região metropolitana do estado quanto de Minas para outros estados.
Governo promete reforma, mas evita falar em corte de gastos com servidores
Bolsonaro chora e apoiadores traçam estratégia contra Alexandre de Moraes; acompanhe o Entrelinhas
“Vamos falar quando tudo acabar” diz Tomás Paiva sobre operação “Contragolpe”
Brasil tem portas fechadas em comissão da OEA para denunciar abusos do STF
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião