O ex-agente de segurança penitenciária Albino Santos de Lima, de 42 anos, é acusado de ser o maior assassino em série de Alagoas. Ele teria cometido pelo menos 10 homicídios na capital Maceió no período de um ano: sete mulheres e três homens.
Os crimes tinham um padrão: as vítimas eram jovens, com menos de 25 anos, incluindo dois adolescentes de 13 anos. Albino Santos de Lima confessou oito dos crimes, mas negou envolvimento na morte de um casal evangélico. A polícia acredita que ele possa estar relacionado a outros oito assassinatos ocorridos entre 2019 e 2020.
A investigação da Polícia Civil de Alagoas revelou que Albino Santos de Lima planejava os crimes com frieza e organização. Ele monitorava as vítimas por meio da rede social Instagram, rastreando rotinas, locais frequentados e trajetos diários. Além disso, marcava em um calendário as datas em que cometeria cada assassinato. Todas as vítimas moravam a cerca de 800 metros da casa dele. A polícia continua investigando possibilidades de envolvimento do acusado.
Albino Santos de Lima fez segurança de eventos e de condomínio
O acusado de ser o maior assassino em série da história de Alagoas trabalhou como segurança penitenciário terceirizado e fazia "bicos" como segurança em eventos e em um condomínio. Com 42 anos, ele é filho de um policial militar aposentado.
De acordo com as investigações, ele atrelava os crimes a um monitoramento nas redes sociais. O acusado mantinha dois perfis que usava para monitorar a rotina de das vítimas e para seguir mulheres com perfil semelhante. Ele demonstrava ter obsessão por um determinado perfil, de acordo com a apuração da polícia.
"Identificamos 10 vítimas, três delas eram do sexo masculino e sete mulheres, todas com o perfil muito semelhante: morenas, jovens, geralmente de cabelo cacheado, e dentre elas tinha uma mulher trans também com esse mesmo perfil físico”, explicou o delegado Gilson Rego na última segunda-feira (19).
A polícia também confirmou que Albino Santos de Lima usavauma conta para acompanhar sites de notícias de Alagoas e fazer comentários sobre assuntos da atualidade. De acordo com jornais locais, ele fez uma publicação se posicionando pró-Rússia na guerra contra a Ucrânia. "A Rússia está certa; a Ucrânia é um estado desertor da Rússia e deve ser tomada à força", teria escrito ele.
Lima é descrito pelos delegados e peritos como "calculista" e não teria demonstrado arrependimento pelos crimes cometidos. Os peritos encontraram no celular dele uma lista com nomes que seriam de eventuais alvos, além de fotos e nomes das vítimas organizados por datas. Ele visitava os túmulos das vítimas para gravar vídeos e tirar fotos, em tom de deboche.
O delegado Gilson Rego afirmou que o criminoso chegou a tentar justificar os homicídios alegando que as vítimas pertenciam a facções criminosas. A polícia descarta a versão, destacando que nenhuma delas tinha envolvimento com grupos criminosos.
Em trecho de depoimento divulgado pelo site G1, Albino Santos de Lima relata que queria ser um "justiceiro" e matar criminosos. "Eu resolvi ser um justiceiro, um Charles Bronson [personagem do filme 'Desejo de matar', de 1974], fazer um bem para a sociedade, um bem para a humanidade. Então, por livre e espontânea vontade, como eu sou um homem tático, tenho vários cursos, vários conhecimentos, fiz todo o planejamento", disse.
A versão da defesa de Lima é de que ele é um sociopata com transtornos mentais. "Por enquanto ele está sendo tratado como preso comum, mas vou tentar provar através de laudos que ele não tem capacidade mental, dessa forma, ele ser torna inimputável. A cabeça dele é de uma pessoa doente, de um sociopata. E esse vai ser o caminhar da minha defesa", afirmou ao G1 o advogado Geoberto de Luna.
Celular do acusado continha detalhes dos crimes
Uma perícia no celular de Albino Santos de Lima foi essencial para caracterizar o caso como o de um matador em série. A análise inicial permitiu acessar dados armazenados na nuvem, onde foram encontrados vestígios relacionados a diversos homicídios, incluindo o da menina Ana Beatriz, cuja investigação foi o ponto de partida. O laudo pericial resultante tem 105 páginas e reúne evidências detalhadas sobre os crimes.
“Os registros foram encontrados em duas pastas: "odiada Instagram" e "mortes especiais". Fotos e nomes de vítimas de homicídio eram colocados junto de um calendário com a data do fato marcada. Ele também tirava prints de matérias de sites relacionadas aos crimes e chegou a tirar fotos dentro do cemitério onde as vítimas foram enterradas. "Havia também registros de homicídios ocorridos entre 2019 e 2020, que devem ser alvos de análise pela Polícia Civil”, explicou o perito criminal José de Farias, responsável pelo exame.
O exame no celular de Albino Santos de Lima também revelou pastas com imagens de pessoas consideradas sobreviventes e como potenciais futuras vítimas. As polícias Civil e Científica acreditam que esse achado evitou a continuidade da série de homicídios. “Esse caso evidencia a integração entre as forças de segurança, com destaque para a Delegacia de Homicídios e o Instituto de Criminalística, que demonstraram uma atuação exemplar na resolução deste que é, até agora, o mais grave caso de homicídios em série na história recente de Maceió”, afirmou o chefe do Instituto de Criminalística de Maceió, Charles Mariano.
Investigações envolveram polícias Civil e Científica de Alagoas
A conexão entre os crimes executados por aquele que é considerado pelas autoridades locais como um assassino em série de Alagoas foi descoberta depois da morte da última vítima do acusado, a adolescente Ana Beatriz, de 13 anos, que foi perseguida e atingida por disparos de arma de fogo ao sair de uma arena de esportes junto com a irmã, na noite de 8 de agosto. Ela foi socorrida, mas morreu no Hospital Geral do estado.
Ao iniciar a apuração sobre o caso da adolescente, a Polícia Civil encontrou imagens capturadas por câmeras de segurança que mostravam o assassino circulando de roupas pretas e boné em cenas próximas ao crime e que ajudaram a identificá-lo. Ele foi preso após mandado de prisão expedido pela Justiça. Durante a operação, deflagrada no dia 17 de setembro, uma pistola calibre 380 e um celular foram apreendidos.
O delegado Gilson Rego explicou que, depois da prisão, equipes da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) conseguiram fazer conexões com outros homicídios ocorridos na mesma região e com características semelhantes, como o calibre das munições da arma usada.
O modus operandi do assassino revelava um padrão de comportamento nos crimes, cometidos em um raio restrito ao redor da casa dele. “Como nessas imagens, ele sempre agia do mesmo jeito, a maiorias das vezes à noite, usando roupas pretas e boné para esconder o rosto. Ele é um predador, um assassino em série”, afirmou o delegado.
A DHPP de Alagoas enviou a arma e o celular apreendidos para perícia no Instituto de Criminalística de Maceió. Foi a partir dos exames de balística e de um trabalho de cruzamento de informações que as equipes conseguiram confirmar a ligação entre a arma apreendida e os outros homicídios.
“Foi um trabalho de equipe, com a coleta dos projéteis e estojos nos locais de crime periciados, a remoção de projéteis nos corpos das vítimas, no IML, e a apreensão da arma para produção dos padrões, que permitiram a realização dos exames de microcomparação balística, possibilitando identificar, caso a caso, que aquela arma apreendida foi a mesma utilizada nos crimes”, explicou a perita Suely Mauricio.
O perfil balístico da pistola utilizada por Lima, que pertence ao pai dele - um militar da reserva - será inserido no Banco Nacional de Perfis Balísticos (BNPB), do Ministério da Justiça. Esse banco de dados permite estabelecer conexões interestaduais entre crimes e pode ajudar na investigação de outros casos relacionados.
Albino Santos de Lima segue preso e foi indiciado em três inquéritos policiais por homicídio qualificado. Novos desdobramentos podem surgir a partir do cruzamento de informações obtidas na perícia e no banco de dados nacional.
Pai de acusado é indiciado pelo uso da arma
O pai de Albino Santos de Lima foi indiciado por ter supostamente entregue a pistola calibre 380 ao filho. A arma foi utilizada nos 10 crimes atribuídos a ele. O policial militar aposentado, José Alfredo de Lima, de 69 anos, disse que guardava a arma em uma gaveta no quarto e que não sabia que o filho a estava utilizado.
O PM aposentado também alegou que não sabia dos crimes e que o filho emprestou a arma duas vezes: a primeira, há cerca de três anos, para que Albino "saísse com uma mulher para namorar" e a segunda, há cerca de quatro meses, para que ele pudesse trabalhar como segurança num condomínio de casas em Marechal Deodoro, município de Alagoas. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo.
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