
Com investimentos consideráveis nas áreas de biocombustíveis e mineração, o Brasil nunca antes esteve tão embrenhado no tema da transição energética. Em 2024, por exemplo, uma ação destacada pelo Ministério de Minas e Energia foi a criação da chamada Política Nacional de Transição Energética. Esse plano prevê que, dentro dos próximos anos, o país investirá um total de R$ 2 trilhões na tal da economia verde.
Não é difícil relacionar isso ao fato de que, cada vez mais, estrangeiros estão de olho na área, inclusive os chineses e o bilionário Elon Musk. E o que os têm atraído é um minério encontrado em nossas terras: o níquel.
Esse cenário se confirmou na última semana, quando o grupo britânico Anglo American anunciou a venda de todo seu negócio de níquel no Brasil para a MMG Limited, companhia chinesa controlada pela estatal China Minmetals. No negócio, cujo valor pode chegar a US$ 500 milhões (o equivalente a R$ 2,8 bilhões), a empresa assume dois ativos da operação de níquel, localizados em Barro Alto e Niquelândia, ambos em Goiás. Além disso, ela poderá trabalhar no desenvolvimento de novas operações nos estados de Mato Grosso e Pará.
Em comunicado à imprensa, a MMG afirmou que tem "portfólio focado em metais relevantes para um futuro de baixo carbono". Seu presidente, Xu Jiqing, celebrou o acordo pela fato de a operação ser um "negócio com forte desempenho", oferecendo "uma vantagem considerável dado o seu histórico operacional estável".
A fala dele faz sentido, considerando um levantamento da Fitch Solutions, referência em análise de riscos. No ano passado, a consultora previu que os preços do níquel devem crescer fortemente até 2028, chegando ao valor de US$ 21,5 mil por tonelada (R$ 122,5 mil por tonelada).
Segundo dados divulgados pela Anglo American no anúncio da venda, Barro Alto e Niquelândia produziram o equivalente a 39,4 mil toneladas do minério em 2024. Dessa forma, caso a análise da Fitch esteja correta e a produção se mantenha firme em Goiás, os chineses terão daqui a três anos uma receita de US$ 847,1 milhões, ou R$ 4,8 bilhões, com as terras brasileiras.
"O acordo, juntamente com outros assinados em novembro de 2024 para vender nosso negócio de carvão siderúrgico, deverá gerar um total de até US$ 5,3 bilhões em receitas brutas de caixa", explicou Duncan Wanblad, diretor-executivo da Anglo American, em comunicado à imprensa. Com o montante de, aproximadamente, R$ 30,22 bilhões no caixa, a venda também faz sentido.
Mas e Musk?
Embora Elon Musk não tenha feito um investimento recente no mercado brasileiro de níquel, ele provou estar de olho no potencial produtivo brasileiro. A empresa de carros elétricos dele, a Tesla, fechou há quase três anos um acordo com a mineradora Vale, que oferece níquel de baixo carbono a partir de sua operação no Canadá.
Valores não foram divulgados na ocasião, mas o comunicado publicado pela companhia brasileira dizia que o acordo era de "longo prazo" e que reforçava a "estratégia de ampliar a exposição [da Vale] à indústria de veículos elétricos".
Contudo, no mais recente resultado operacional, divulgado no último dia 20, a Vale anunciou que "iniciou uma revisão estratégia relacionada às operações de níquel em Thompson [no Canadá]", inclusive considerando a "possível venda de seus ativos de mineração e exploração" no local.
Apesar dessa mudança, a empresa brasileira ainda seguirá com suas operações de níquel em outras áreas do Canadá, como Voisey’s Bay e Long Harbour. Inclusive, a primeira delas encerrou no ano passado um processo de expansão que elevará a produção da mina para cerca de 45 mil toneladas por ano.
Faz parte da Vale também uma operação em Onça Puma, localizada no Pará, que dado o cenário no Brasil, pode vir a se tornar um ativo interessante para investimentos (sejam eles da própria companhia ou de capital estrangeiro). Segundo a agência de notícias Reuters, em junho de 2024, Mark Cutifani, que lidera o conselho da Vale para metais básicos, anunciou um investimento de US$ 3,3 bilhões para impulsionar as produções de cobre e níquel no Brasil e no Canadá. Até agora, nada mais a respeito disso foi divulgado.
Por que o níquel?
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), nos próximos cinco anos os investimentos no níquel devem chegar à faixa de R$ 3,8 bilhões, com projetos principalmente na região amazônica.
Julio Nery, diretor de sustentabilidade do Ibram, destaca este minério por sua versatilidade. "É um metal extremamente importante para a indústria aeroespacial e para a indústria de defesa. Serve para fazer ferroligas, oferendo melhores resistências ao aço", diz.
Sobre outros possíveis usos, o especialista explica: "Ele também é muito relevante no caso da transição energética, sendo utilizado para a construção de catalisadores, pilhas e acumuladores", ressalta. A própria empresa de Musk, por exemplo, utiliza do minério para a produção de baterias, o que justifica a parceria com a Vale em 2022.
Porém, o porta-voz do Ibram reforça que a Indonésia ainda é o país que comanda este mercado. A nação do sudeste asiático produziu 215 milhões de toneladas de níquel no ano passado, segundo Tri Winarno, diretor-geral de mineração e carvão no Ministério de Energia e Recursos Minerais da Indonésia.
Apesar da forte concorrência, Nery reforçou que o Brasil possui boas reservas, mas que a criação de novas minas exige investimentos altos. "Temos bons projetos que estão sendo implantados por empresas brasileiras e é realmente um metal muito procurado por causa dessa importância dele para a nova economia", conclui.
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