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Queda do avião da VoePass
Não houve sobreviventes na queda do ATR 72-500 da VoePass em Vinhedo (SP).| Foto: Isaac Fontana/EFE

Um avião da companhia aérea paulista VoePass caiu na tarde da última sexta-feira (9) quando fazia um voo entre a cidade de Cascavel (PR) e o Aeroporto Internacional de São Paulo em Guarulhos. A queda, em um condomínio na zona residencial de Vinhedo (SP) vitimou todos os 62 ocupantes da aeronave, sendo 58 passageiros, dois pilotos e duas comissárias.

O voo era operado em um avião modelo ATR 72-500 que saiu de Cascavel às 11h58, com 18 minutos de atraso. O plano do voo, de cerca de 2 horas, se encerraria no aeroporto de Guarulhos. Informações preliminares dão conta de que às 13h21 o piloto parou de responder à torre de controle de tráfego aéreo. Um minuto depois a aeronave deixou de ser contactada pelo radar.

O avião estava a uma velocidade de apenas 48 km por hora em relação ao solo e caindo a uma taxa de quase quatro quilômetros por minuto. A queda ocorreu a 14 quilômetros do aeroporto internacional de Campinas (SP).

Os trabalhos de remoção dos corpos das 62 vítimas foram encerrados no começo da noite de sábado (10), e levados para o Instituto Médico Legal central da capital paulista. Dois já foram identificados, e os demais passam por exames variados com o auxílio de informações dos parentes, que são atendidos no local e que também foram abrigados em um hotel da cidade.

Após o término da remoção dos corpos, o corpo de bombeiros e o Instituto Nacional de Criminalística (INC) deram início ao planejamento da remoção dos destroços do avião, que serão catalogados para ajudar na investigação das causas da queda. Segundo o governo do estado de São Paulo, os escombros da aeronave agora estão sob responsabilidade do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira (FAB).

Também no sábado (10), o Comando da Aeronáutica informou que o Cenipa já abriu e começou a analisar os dados das duas caixas-pretas resgatadas do avião no local do acidente. As informações de voz e de dados foram extraídas intactas e serão analisadas pelo órgão, com a expectativa de se divulgar um laudo preliminar em até 30 dias.

Investigadores da BEA, a agência francesa de investigação de acidentes aéreos, chegaram ao local da queda na manhã de domingo (11) para auxiliar o Cenipa. Isso porque o avião foi produzido na França, e contará também com a participação da própria fabricante, a ATR. Técnicos canadenses da autoridade aeronáutica e da fabricante dos motores também auxiliarão na apuração.

No mesmo dia, o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu uma investigação para apurar as circunstâncias trabalhistas dos tripulantes do voo – dois pilotos e duass comissárias. A promotoria pediu documentos à VoePass sobre os contratos de trabalho e informações às autoridades sobre a apuração das causas do acidente.

A investigação deve apurar, além das circunstâncias trabalhistas dos tripulantes do voo, a denúncia de um outro piloto da companhia que disse, em uma audiência pública da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em junho, que era pressionado a trabalhar mesmo em dias de folga. Ele relatou, ainda, não receber alimentação adequada e nem condução de sua residência ao aeroporto em que é baseado.

Além do MPT, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, anunciou que notificará a VoePass na segunda (12) para ampliar os canais de comunicação para os familiares da vítima da tragédia. Relatos apontam que a empresa disponibilizou apenas um meio de atendimento, o que não seria suficiente para a demanda.

Avião da VoePass que caiu em Vinhedo estava apto a voar

De acordo com o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), o avião, de prefixo PS-VPB, estava em situação regular de aeronavegabilidade. A aeronave foi fabricada no ano de 2010, e antes de entrar em operação na VoePass, em setembro de 2022, já tinha operado por empresas na Itália, Albânia e Indonésia.

Em nota, a empresa aérea informou que o avião que caiu não tinha restrições operacionais e estava apto a voar. A mesma informação foi confirmada mais tarde pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

De acordo com a agência, a aeronave estava “em condição regular para operar, com certificados de matrícula e de aeronavegabilidade válidos”, e os tripulantes a bordo no momento do acidente “estavam devidamente licenciados e com as habilitações válidas”.

Caixa preta localizada em meio aos destroços vai passar por perícia

A caixa-preta da aeronave, localizada em meio aos destroços, foi enviada para Brasília neste sábado (10). Os equipamentos que gravam os dados da navegação do avião e as conversas do piloto com os tripulantes e a torre de controle estão sendo periciados por investigadores. Para o brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, ainda é prematuro apontar o que pode ter provocado a queda do ATR.

“O que nós temos até agora é essa catástrofe desse evento. São os dados factuais. É importante deixar claro que tudo que nós temos nesse início da investigação, tudo é muito prematuro, até mesmo aquilo que nós poderemos ventilar neste momento, que porventura venha se concretizar no futuro, ainda é muito prematuro", explicou o brigadeiro.

Segundo o chefe do Cenipa, os investigadores levarão em conta diversos fatores ligados ao ambiente no momento da queda, ao equipamento e também em relação a possíveis falhas humanas. Não há, reforçou o brigadeiro, registros de que o piloto tenha relatado quaisquer situações de emergência durante o voo.

Luiz Ricardo de Souza, diretor da Anac, reforçou que o avião estava em condições regulares de documentação. “A VoePass é uma empresa de transporte regular, não é uma empresa de táxi aéreo. A aeronave se encontrava em condições normais de aeronavegabilidade, como chamamos. Foi construída em 2010 e usada no Brasil desde 2022. Nesse caso, está tudo de acordo previsto com a nossa regulamentação”, confirmou.

De acordo com o chefe do Cenipa, o trabalho de investigação do órgão é dividido em três fases: coleta de dados, análise de dados e a emissão do relatório final. Esta última etapa, de acordo com Moreno, é a “a palavra final do Estado brasileiro em ocorrências aeronáuticas catastróficas” e é elaborado “não com provas, e sim com fontes de informação, tudo previsto na lei maior da aviação que o Código Brasileiro de Aeronáutica”.

Avião havia feito manutenção preventiva na noite anterior à queda

Era o quarto voo que a aeronave estava fazendo no dia. O primeiro trajeto foi de Guarulhos a Ribeirão Preto (SP). Ele partiu às 0h12 e chegou à 1h00. Depois de 4h30, às 5h30, decolou de volta para Guarulhos. Às 9h06, com um atraso de 46 minutos, decolou em direção à Cascavel, onde pousou às 11h17.

No dia anterior, fizera cinco voos. Saiu de São José do Rio Preto (SP) para Guarulhos. De lá foi para Rio Verde (GO) e retornou. A sequência foi um voo para Goiânia. O avião chegou na cidade paulista às 19h26.

“Em Ribeirão Preto, a nossa principal base de manutenção, o avião passou por uma manutenção de rotina na noite anterior. Ele saiu daqui sem nenhum tipo de problema técnico que inviabilizasse sua aeronavegabilidade. O avião estava perfeitamente dentro dos regulamentos, dos manuais e dos requisitos tanto do fabricante quanto dos nossos processos internos”, garantiu Marcel Moura, diretor de operações da VoePass, em uma entrevista coletiva concedida por volta das 20h.

Cia. divulga lista de passageiros e eleva número de vítimas

Com a divulgação da lista de passageiros no fim da tarde de sexta (9) foi possível identificar quem eram os passageiros que morreram na queda do avião. Em nota, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) lamentou a morte de quatro professores, duas médicas e duas ex-alunas ligadas à instituição de ensino que estavam na aeronave.

O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) emitiu uma nota na qual lamenta a morte de 15 médicos que estavam entre as vítimas do acidente. Uma professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e nove pessoas ligadas à Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) também eram passageiros no avião que caiu.

Na manhã de sábado (10), a companhia aérea, que havia inicialmente anunciado 61 passageiros a bordo, elevou este número para 62. De acordo com a Voepass, um dos passageiros que estavam na aeronave não teve seu check-in registrado ao embarcar. Com isso, o número oficial de ocupantes, vítimas da tragédia, é de 62.

Presidente e governadores do Paraná e de São Paulo decretaram luto oficial

O governo do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), decretou luto oficial de três dias em respeito às vítimas do acidente. Além de pessoas ligadas à Unioeste, também morreram na queda do avião um professor da rede estadual e um funcionário da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também decretou luto oficial de três dias pelas 62 vítimas do acidente aéreo. Segundo o Palácio do Planalto, o Decreto nº 12.135 será publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) ainda na noite de sexta (9). “Em memória das 62 vítimas do trágico acidente em Vinhedo, decretamos luto oficial de 3 dias no país”, disse Lula nas redes sociais ao anunciar a medida.

Os governadores de Paraná e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estavam no Espírito Santo participando do encontro do Consórcio de Integração Sul Sudeste (Consud) quando souberam da queda do avião da VoePass.

“É um dia triste. Todo acidente aéreo é uma fatalidade que choca todo mundo por não estar dentro da normalidade. Ainda há pouca informação sobre as vítimas que estavam no avião, mas quero deixar minha solidariedade às famílias. O povo do Paraná abraça a cidade de Cascavel. Que Deus conforte amigos e familiares das vítimas desse trágico acidente. Estamos colocando todas as nossas forças à disposição para ajudar”, disse o governador paranaense.

Em São Paulo, governador anunciou criação de gabinete de crise

Além do luto oficial, Tarcísio anunciou a criação de um gabinete de crise para colaborar na apuração das causas do acidente aéreo. Freitas afirmou, pelas redes sociais, que “a Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC) e a Polícia Civil estão mobilizadas no resgate das vítimas e equipes do Instituto Médico Legal (IML) foram encaminhadas ao local para reforço. O governo de São Paulo vai prestar todo o suporte e divulgar todas as informações necessárias. Minha solidariedade a todas as vítimas e afetados por essa tragédia”.

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