Sonho de consumo dos turistas de todos os cantos do Brasil, a serra gaúcha calcula os prejuízos deixados pela enchente histórica que atinge o Rio Grande do Sul. Em Gramado, cidade que tem 40 mil habitantes e recebeu oito milhões de turistas no ano passado, as perdas somam R$ 100 milhões somente em maio.
Ampliada aos 15 municípios serranos, a conta pode duplicar. O Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares da Região das Hortênsias (SIndTur) avalia que os prejuízos podem alcançar R$ 550 milhões se as condições de acesso se mantiverem precárias até o fim de julho, atingindo a alta temporada do setor.
O turismo regional é altamente dependente do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, que está interditado por tempo indeterminado. "Assim que possível, trabalharemos na avaliação de danos causados pela enchente, bem como em um plano de recuperação do sítio aeroportuário", disse em nota a Fraport, empresa administradora do aeródromo.
“A gente depende muito desse aeroporto, precisaríamos de outro alternativo porque não é a primeira vez que sofremos com o Salgado Filho fechado. Não acreditamos que ele estará liberado no final do mês e os prejuízos vão se arrastar no período mais forte do nosso turismo, quando chega o frio”, lamentou Nestor Tissot (PP), prefeito de Gramado.
Destino certo para quem ama temperaturas baixas e quer tentar a sorte para ver a neve, a região serrana também enfrenta dificuldades de acesso terrestre em algumas rotas. Tissot destaca que a RS-115 depende da remoção de barreiras simples, problema que pode ser resolvido quando as chuvas cessarem e o sol retornar.
Já o caminho pela RS-235 está liberado, assim como pela Rota do Sol. No entanto, as maiores dificuldades estão na BR-116, onde há quedas de barreiras e danos severos à infraestrutura, problemas que não devem ser resolvidos a curto prazo.
Efeitos à população e apelo para turistas voltarem à serra
Na região serrana do Rio Grande do Sul, foram confirmadas mais de 30 das cerca de 150 mortes causadas pelas chuvas. A prioridade das autoridades continua sendo salvar vidas, realocar moradores em risco e monitorar os mais de 500 pontos críticos.
Em Gramado, foram registradas sete mortes, sendo que aproximadamente mil pessoas ainda estão fora de casa. Na última semana, uma rua desmoronou. “Temos três ruas comprometidas e uma delas está completamente destruída”, disse o prefeito da cidade.
Apesar da crise causada pelas chuvas, Tissot afirma que algumas regiões do município estão preservadas. Gramado concentra cerca de 300 bares e restaurantes, 12 parques temáticos e mais de 30 mil leitos, considerando apenas hotéis e pousadas.
“Está tudo bem na região central da cidade de Gramado, na área dos hotéis, restaurantes e parques temáticos, mas o problema é o acesso. Os turistas do Paraná, de Santa Catarina, do Paraguai e do Uruguai conseguem chegar de carro. Acreditamos que, assim que tudo isso passar, o movimento voltará ainda maior, como aconteceu no pós-pandemia da Covid-19”, avalia o prefeito de Gramado.
O presidente do SindTur, Cláudio Souza, faz um apelo para que as pessoas não cancelem as viagens previstas à Serra Gaúcha, mas remarquem a estadia em um dos destinos regionais. Souza destacou que a entidade está se empenhando para que os empregos sejam mantidos, com acordos firmados com sindicatos que representam os empregadores.
Medidas governamentais para diminuir os impactos ao turismo
O governador Eduardo Leite (PSDB) disse que o governo avalia medidas para minimizar o impacto no turismo do estado: “Vamos ver tudo que possa ser feito em ações emergenciais para que a serra não sofra um segundo impacto, com as dificuldades de acesso para o turismo e a queda no número de visitantes.”
Em reunião com o governador, o ministro do Turismo, Celso Sabino, disse que o Rio Grande do Sul dá aula ao Brasil quando se trata de empreendedorismo no turismo e mencionou Gramado como exemplo. Citando a campanha “Não Cancele, Reagende Sua Viagem ao RS”, ele afirmou que a “medida será fundamental para assegurar a injeção de recursos e garantir o Rio Grande do Sul como rota turística”.
Superaquecimento do litoral norte do estado
Mesmo fora da temporada turística, a preocupação com a infraestrutura no litoral do Rio Grande do Sul cresce à medida que o fim do ano se aproxima. O estado tem 16 municípios banhados pelo mar que, juntos, recebem mais de um milhão de visitantes por temporada.
Entre eles destacam-se Rio Grande e Chuí, que abrigam a Praia do Cassino. Localizada no extremo sul do estado, a Praia do Cassino é conhecida por sua extensão de 240 km, o que a torna a maior do mundo em faixa de areia, conforme registro no Guinness Book desde 1994. Este balneário, um dos mais antigos do Brasil, recebe anualmente cerca de 150 mil turistas.
A região está em parte inundada com o transbordamento da água da lagoa dos Patos para o mar. Embora não haja registro de turistas fora de temporada em grande escala, algumas áreas estão observando um movimento contrário. Normalmente, esse seria o período em que as cidades litorâneas estariam mais vazias devido ao fim do verão e à chegada do inverno.
A situação no litoral norte, no entanto, está diferente. A vida segue agitada, com municípios superlotados como se estivessem em período de alta temporada. Infelizmente, esse movimento é resultado das enchentes que assolam diversas cidades do RS. Em resposta aos apelos para evacuação, muitos moradores buscaram refúgio no litoral, onde possuem casas, amigos ou parentes. Como consequência, a procura por supermercados e farmácias de algumas dessas cidades estão repletos de pessoas.
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