Rock sempre esteve ligado à atitude, muitas vezes deixando a qualidade musical em segundo plano. De certa forma, no Brasil atual, aquilo que historicamente convencionamos chamar de rock’n’roll se tornou cultura de nicho. Mesmo assim, alguns daqueles conceitos que revolucionaram a indústria da música foram absorvidos por outros gêneros. E, embora enfrente preconceitos, sobretudo por seu caráter popular, uma acusação que não cabe ao sertanejo universitário é a de falta de atitude: enquanto o Coldplay pede biscoitos sem glúten, mel, gengibre, guacamole com ingredientes orgânicos e decoração do camarim com flores frescas para seus shows no Brasil, nomes do novo sertanejo se veem envolvidos em críticas por supostamente subirem ao palco alcoolizados ou brigas entre produção e artistas locais.
Polêmicas à parte, todas negadas pela dupla, Jorge & Mateus, principal atração da décima atração do Curitiba Country Festival, neste sábado (2), pode ser considerada cafona pela dita “alta cultura”, mas, além de ter mais atitude que qualquer nome do rock nacional contemporâneo, destaca-se musicalmente.
Em meados de 2008, a dupla já mesclava elementos de axé ao sertanejo tradicional enquanto ocorria o primeiro flerte com a guitarra. “Somos ecléticos e procuramos passar um pouco das nossas influências e gostos musicais sem deixar de lado nossa essência, que é a música sertaneja. Fomos pioneiros em levar o sertanejo ao Carnaval de Salvador, fazendo essa mistura de estilos. Tanto deu certo que hoje temos um bloco fixo por lá que também faz parte da agenda de outras cidades pelo Brasil”, justifica Jorge, de 33 anos.
Por outro lado, nos trabalhos mais recentes (“Os Anjos Cantam” e “Como.Sempre.Feito.Nunca”), a guitarra aparece mais consolidada, ofuscando a presença do violão, além de contar com novas referências, como o reggae e o pop rock.
Sábado, 02 de abril
Abertura dos portões 15h30
Abertura Backstage 18h – Início dos shows: 19h. Censura: 16 anos
50% de desconto para membros do Clube Gazeta do Povo
Arena Expotrade, Pinhais
“A questão da guitarra tem muito a ver com as influências do Mateus (29 anos) e foi muito bem aceita pelo nosso público, tornando-se um dos nossos diferenciais”, afirma Jorge. “Em “Como.Sempre.Feito.Nunca”, por exemplo, tivemos a oportunidade de transitar por diferentes gêneros de forma ainda mais evidente. No novo álbum, entre as inéditas, há “Campeão de Audiência”, que é um samba mais leve”, completa.
As inovações dentro de um gênero historicamente limitante não são recentes. Em 2013, durante gravação no Royal Albert Hall, em Londres, houve a inserção de cordas nas canções – eles, aliás, foram os primeiros brasileiros a se apresentarem na tradicional casa inglesa, palco de apresentações de nomes como Led Zeppelin e Eric Clapton. “Pelo ambiente, a introdução das cordas trouxe a sonoridade que queríamos para aquele momento específico. Na época queríamos proporcionar uma experiência que fosse única para o nosso público”, diz Mateus.
Mesmo com o sucesso, a dupla segue reticente quanto à exposição na mídia. A justificativa é focar no que realmente importa. “Nossa agenda é bastante corrida. São cerca de 200 shows por ano, o que dá uma média de 17, às vezes 20 apresentações por mês”, explica Mateus. “Sabemos da importância da divulgação em massa, mas optamos por manter o foco mais voltado para a música.”
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