Por muito tempo, cuidar da segurança no trabalho significava capacete, bota e checklists. Mas os novos tempos e a revisão da NR-1 (Norma Regulamentadora 1), vêm nos lembrar de algo fundamental: as pessoas não são máquinas. O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) agora carrega uma missão maior, ampliando o olhar sobre o ambiente psicossocial, que também pode comprometer a saúde no trabalho.
Maurício Chiesa Carvalho, diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná – Regional Norte Londrina, define essa mudança como um marco na humanização nas relações de trabalho. Para ele, a atualização da NR-1 é clara ao reconhecer que saúde não é apenas ausência de acidentes físicos, mas também equilíbrio emocional, segurança relacional e escuta verdadeira nas organizações.
“Não existe felicidade sustentável em ambientes emocionalmente inseguros. A gestão de riscos psicossociais é o alicerce da segurança emocional. Quando cuidamos do clima, do respeito, da comunicação e da carga emocional dos colaboradores, abrimos espaço para que a felicidade floresça”, pontua o diretor.
Na prática, não basta mais "apagar incêndios". As empresas precisam migrar da cultura da reação para a cultura da prevenção. Isso exige diagnósticos constantes do clima organizacional, uso de ferramentas como a ISO 45003 para mapear riscos psicossociais e, acima de tudo, líderes preparados para acolher, ouvir e agir.
“Isso aproxima as empresas de uma agenda ESG autêntica, baseada na sustentabilidade humana. ESG não é moda: é compromisso com o humano, com o ambiente e com o futuro”, afirma Carvalho.
O papel do RH e os desafios da implementação de ações psicossociais
Nesse cenário, a área de RH assume um papel central, cabendo a ele fazer a ponte entre os indicadores e as emoções. Promover saúde mental não pode mais ser visto como benefício extra e sim como uma estratégia de sustentabilidade humana. E mais: é a chave para destravar engajamento, inovação e orgulho de pertencer.
Claro, os desafios não são poucos. Muitas organizações ainda operam sob a cultura do medo e do silêncio, onde a vulnerabilidade é confundida com fraqueza. Soma-se a isso a falta de preparo de lideranças e o tradicional conflito entre metas de curto prazo e ações de bem-estar de longo alcance.
Mas é preciso virar essa página. Para Carvalho, em um mundo com mais de 9 bilhões de pessoas, ainda estamos dizendo que falta gente boa no mercado quando, na verdade, estão faltando empresas boas para as pessoas. Sinais de desinteresse, rotatividade ou falta de candidatos são recados claros de que algo precisa mudar.

O PGR não é só um documento, mas um trampolim para ambientes seguros, humanos e felizes. Chegamos a um novo tempo. Um tempo em que sai a lógica da empregabilidade e entra a empresabilidade.
“Parece óbvio, mas o óbvio precisa ser dito. A cultura de felicidade nasce quando o cuidado vira valor e a escuta vira prática.”, finaliza Carvalho.
Mais informações: https://abrh-pr.org.br/

