Conflitos entre sócios são uma realidade comum no mundo dos negócios, independentemente do porte ou do setor da empresa. Um estudo da consultoria canadense Miller Bernstein revelou que até 70% das parcerias empresariais acabam fracassando devido a desentendimentos sobre questões fundamentais, como finanças, responsabilidades e direção estratégica dos negócios. Essas divergências podem levar à estagnação da organização, prejuízos financeiros e, em casos extremos, à dissolução da empresa.
No Brasil, o caso emblemático do Grupo Pão de Açúcar (GPA) ilustra bem o impacto que essas disputas podem ter. A tensão entre o empresário Abílio Diniz e o conglomerado francês Casino, no controle do GPA, foi amplamente divulgado pela mídia. O desentendimento surgiu em torno da estratégia de crescimento da empresa e culminou numa batalha judicial em 2012, quando o Casino assumiu o controle total da empresa, encerrando uma longa e tumultuada parceria.
O consultor empresarial Ricardo Urso, fundador da Urso Consultoria, explica que os conflitos entre os sócios podem surgir de diferenças em visões estratégicas, falta de alinhamento sobre o futuro da empresa ou, como no caso do Pão de Açúcar, de disputas sobre o controle acionário. No entanto, o especialista alerta que o impacto desses embates não se limita à governança interna, mas também afeta a confiança dos investidores, a imagem pública da companhia e até a moral dos funcionários. “Um grande desafio para a empresa é quando sócios têm perspectivas opostas sobre o futuro da empresa, visões opostas para o negócio”, comenta.
Outro problema grave, destaca Urso, é quando algum dos sócios descumpre os acordos estabelecidos ou há uma quebra de confiança. “Essa desconfiança pode ocorrer por causa das finanças da empresa ou mesmo sobre a forma de condução dos negócios”, esclarece.
Em empresas familiares, há ainda as questões que envolvem disputas no plano sucessório, quando não há clareza sobre quem assumirá o controle da organização. “Mas há situações mais práticas que envolvem, por exemplo, as responsabilidades dos sócios. Um deles pode achar que está se dedicando mais do que os outros, gerando conflitos internos que refletem no posicionamento da empresa no mercado”, salienta o consultor.
Gestão Empresarial e o papel da Consultoria
Acostumado a conduzir situações como essa, Ricardo Urso explica que, nesses momentos, é fundamental recorrer a uma consultoria empresarial para evitar desgastes e prejuízos à companhia. “Quando o diálogo entre os sócios se esgota e os impasses não podem ser resolvidos internamente, é necessário acionar ajuda especializada, com uma visão externa e imparcial sobre o negócio”, garante.
Urso explica que o papel da consultoria empresarial é realizar um diagnóstico completo da situação da empresa, um panorama que vai além dos conflitos aparentes e capaz de identificar erros e oportunidades em diversas áreas, como na organização da contabilidade e dos recursos da empresa. “É muito importante investigar outros fatores que podem estar travando o crescimento da organização, como desajustes fiscais, desequilíbrios nos processos internos ou problemas na gestão de recursos humanos”, pontua.
Segundo ele, o papel da consultoria é identificar as raízes dos problemas e oferecer caminhos práticos e eficazes para resgatar a saúde da empresa e garantir que ela volte a crescer de forma sustentável. “Algumas vezes, isso pode incluir propostas de fusões e aquisições ou a reestruturação do quadro societário para garantir a viabilidade do negócio”, completa.
Urso alerta, ainda, que ignorar os sinais de conflito pode ser desastroso para uma empresa. O impacto pode ser sentido na operação, na imagem da marca, na motivação dos funcionários e, em última análise, na rentabilidade do negócio. “As empresas que buscam ajuda externa rapidamente têm mais chances de manter a harmonia entre os sócios e evitar crises maiores”, enfatiza.