A agricultura brasileira mostrou um desempenho notável em 2023, refletindo tanto no valor bruto da produção quanto nas exportações. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) em 2023 atingiu R$ 1,135 trilhão, aumento de 1,9% em relação ao ano anterior. As lavouras lideraram esse crescimento com um aumento de 4%, enquanto a pecuária teve um declínio de 2,9%. O cenário favorável, no entanto, traz preocupações referentes ao impacto ambiental e tem estimulado iniciativas sustentáveis no setor.
A agricultura sustentável no Brasil vem avançando nos últimos anos, destacando-se tanto em práticas quanto em políticas públicas voltadas para a sustentabilidade.
Especialistas destacam que a adesão a práticas sustentáveis na agricultura é fundamental para garantir a segurança alimentar e a preservação dos recursos naturais. Diversas soluções têm se destacado nesse sentido, promovendo tecnologias e iniciativas que buscam um futuro mais sustentável para o setor agrícola.
A advogada Thaís Maria Leonel do Carmo, especialista em Direito Ambiental, sócia do escritório Salles Nogueira Advogados, destaca a importância da agricultura sustentável como um sistema de produção que visa atender às necessidades alimentares atuais sem comprometer a capacidade das futuras gerações. “No Brasil, a adoção de práticas agrícolas sustentáveis vai além de uma questão de responsabilidade ambiental, apresenta-se muitas vezes como exigência legal”, alerta.
Politicas públicas
O Brasil tem implementado uma variedade de práticas agrícolas sustentáveis, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a fixação biológica de nitrogênio, agricultura de baixo carbono e o manejo integrado de pragas e doenças.
O governo federal também tem incentivado a sustentabilidade na agricultura através de programas específicos, como o Plano Safra, que oferece financiamento a juros baixos para práticas sustentáveis, e o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que promove técnicas agrícolas que reduzem a emissão de carbono.
Existem ainda outras iniciativas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que oferece crédito e assistência técnica a pequenos agricultores familiares, incentivando práticas sustentáveis e a produção de alimentos orgânicos; o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), que promove a agroecologia e a produção orgânica e incentiva a adoção de práticas agrícolas que respeitam os ciclos naturais, promovem a biodiversidade e garantem a saúde do solo e dos ecossistemas.
Thaís salienta que essas práticas sustentáveis são fundamentais para promover a sustentabilidade no setor agrícola. “O arcabouço jurídico brasileiro fornece um suporte robusto para essas práticas, incentivando os produtores a adotarem métodos que beneficiam o meio ambiente e a sociedade. A conformidade com a legislação ambiental não só evita penalidades, mas também abre portas para incentivos econômicos e uma maior valorização das propriedades rurais”, pontua.
A agricultura de precisão, que utiliza tecnologias avançadas para otimizar o uso de insumos e maximizar a produtividade, também tem sido amplamente adotada em todo o país.
Capacitação
Diante da necessidade de mudanças no modo produtivo, a startup ManejeBem foi criada para promover o desenvolvimento social, ambiental e econômico sustentável de comunidades rurais vulneráveis, utilizando capacitação e transformação digital acessível.
A startup é especializada em ajudar grandes corporações a se relacionar com os produtores familiares, estruturando cadeias produtivas e trabalhando para que as práticas ESG na agropecuária sejam devidamente aplicadas, rastreadas e monitoradas.
O objetivo é suprir a falta de capacitação tecnológica focada nos produtores familiares, unindo as comunidades com empresas que desejam trabalhar o ESG de forma transparente e com resultados tangíveis.
Entre as ferramentas desenvolvidas, a ManejeBem implementou o ManejeChat, um software para assistência técnica agrícola que efetua a estruturação das cadeias produtivas e promove a coleta de dados sociais, ambientais e econômicos de comunidades rurais.
Com isso, é possível fazer o levantamento de dados socioeconômicos, agronômicos e ambientais, permitindo a elaboração assertiva de ações estratégicas de desenvolvimento. “A partir de um trabalho de capacitação tecnológica, nosso aplicativo conecta o produtor com um agente de campo para assistência técnica agrícola. É realizada a coleta de dados por meio de um contato constante com o produtor e, por meio desses dados, traçamos planos de desenvolvimento e monitoramos os resultados”, explica Juliane Lemos Mendes Blainski, CEO e fundadora da ManejeBem.
Desde que foi criada, há seis anos, a empresa já impactou a vida de mais de 1 milhão de produtores familiares e técnicos agrícolas, espalhados por mais de 17 estados brasileiros, em 210 municípios, com 35 projetos executados.