Lançada em 2019, After Life – Vocês Vão Ter de Me Engolir conta a história do luto de Tony (Ricky Gervais, também criador da série), um jornalista que mora em Tambury, uma cidade minúscula (e fictícia) da Inglaterra. Após a morte da sua esposa, toda a sua vontade de viver se transforma em raiva, enquanto a vida segue desafiando todos os seus limites. O personagem reclama, briga, chora e vivencia o luto de forma nada discreta. Aparentemente, Tony quer descontar no mundo toda a sua dor, e ninguém passa ileso. E por que essa é uma excelente produção, apesar do clichê que o tema traz? Porque Ricky Gervais se preparou para essa obra ao longo de sua carreira inteira.
O consagrado ator, diretor e roteirista que explodiu com The Office trouxe todas as suas referências para essa série. É quase como se ele tivesse preparado ali o seu legado para a posteridade. No pacote estão seu sarcasmo tipicamente britânico, suas músicas favoritas, atores parceiros com quem já havia contracenado (incluindo a atriz Kerry Godliman, sua esposa na série, que também está em Derek) e a rotina ao lado de sua companheira na vida real, com quem está junto há 42 anos. Tudo isso faz parte de After Life.
Em três temporadas curtas de seis episódios cada, disponíveis na Netflix, vamos conhecendo aos poucos não só a dor de Tony, mas as pessoas da pequena comunidade em que ele vive. Tony é um jornalista em um periódico falido, e seu trabalho é noticiar o cotidiano da cidade. A cada história pitoresca escrita e “investigada” por ele, mais vamos percebendo a intenção do roteiro em colocar o personagem a teste. As histórias mais triviais e desinteressantes mostram para Tony a delicadeza da vida que ele faz questão de esquecer que existe.
Podemos esperar pequenos momentos de lucidez quando esses personagens ao seu redor tentam mostrar para Tony que a vida vale ser vivida e que a beleza dela está nos pequenos momentos, como quando entra em cena a personagem que ele conhece no cemitério e é viúva como ele. Anne (Penelope Wilton) transforma o homem amargurado em amigo e assim eles engatam conversas diárias sobre perder o cônjuge. E sempre de forma engraçada e sarcástica.
Devoção canina
Aqui precisamos enfatizar a figura que traz o conforto e o relacionamento mais satisfatório da série: sua cachorra Brandy. Ricky Gervais sempre se envolveu com a causa animal, chegando a dizer mais de uma vez que prefere animais a pessoas (sem sombra de dúvidas, seu personagem em After Life concordaria com isso). Durante as duas primeiras temporadas, Tony deixa claro que não liga mais para a vida e que não tem medo de nada. E Brandy é o elemento que afasta Tony de tomar medidas desesperadas.
A série evolui com o personagem. Aos poucos, apesar do luto, Tony vai percebendo que para se sentir vivo precisa ajudar essa comunidade. E isso vai o trazendo de volta à vida ou à sobrevida como sugere o nome da série. No final das contas, é impossível não se emocionar e torcer por aquele ranzinza infeliz.
A trilha sonora é um ponto para ser enfatizado em After Life. Gervais chegou a ter uma banda nos anos 80 em que ele era o vocalista. A Seona Dancing não chegou a fazer sucesso no Reino Unido, mas teve hits nas Filipinas.
Com esse passado musical, que sempre esteve muito latente em suas obras, o astro inglês escolheu as músicas criteriosamente para After Life. Clássicos como Rocket Man, de Elton John, Starman, de David Bowie (que chegou a participar de uma de suas séries anteriores, a hilária Extras), e Satellite of Love, de Lou Reed, podem ser apreciados em lindas cenas de desespero. Com certeza, trata-se de uma série que não perdeu sua força cinco anos após seu primeiro episódio ir ao ar e que merece ser vista e revista.
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