Esta ambiciosa cinebiografia de Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix) abrange desde a execução de Maria Antonieta na guilhotina – em 1793, em pleno terror da Revolução Francesa – até a morte, em 1821, do carismático e ambicioso militar corso durante seu exílio na Ilha de Santa Helena. E, entre uma data e outra, o filme que chegou aos cinemas na semana passada e logo estará no streaming da AppleTV recria a brilhante ascensão de Napoleão dentro do exército, seu casamento tempestuoso e estéril com a ex-aristocrata Josephine de Beauharnais (Vanessa Kirby), sua passagem de cônsul a imperador da França e suas sangrentas campanhas militares, que causaram a morte de cerca de 6 milhões de soldados e civis.
Uma ambientação esmerada, uma fotografia atraente, figurinos exuberantes, música bombástica e uma edição eficaz geram um espetáculo por vezes impressionante, especialmente nas sangrentas batalhas de Toulon, Austerlitz, Borodino, Moscou e Waterloo. As cenas com milhares de extras e sofisticados efeitos digitais imitam as grandes reconstruções históricas dos diretores David W. Griffith, Cecil B. DeMille, David Lean, William Wyler, Stanley Kubrick... e Abel Gance, cujo silencioso e inacabado Napoleão, de 1927, permanece como o grande referencial.
O britânico Ridley Scott, que completa 86 primaveras justamente hoje (30), já causou impacto com suas exibições épicas em 1492: A Conquista do Paraíso, Gladiador, Cruzada, Robin Hood, Êxodo: Deuses e Reis e O Último Duelo. Dentre todos esses, com certeza apenas o Gladiador tem a força dramática e a ética das grandes obras. O novo e episódico Napoleão está tão longe do Gladiador quanto o seu protagonista está do espectador, que espera empatia e emoções autênticas que quase nunca chegam.
Resta saber se a primeira montagem feita por Scott – com duração superior a quatro horas – resolve ou aumenta essa frieza dramática, ou se esclarece o suposto temperamento neurótico-rude-infantil-autista de Napoleão, cujas últimas palavras foram: “França, exército, Josephine”. E também fica pendente se essas imagens adicionais endurecem ainda mais seu tratamento sórdido e até grotesco da violência e do sexo, ou se enriquecem de alguma forma os perfis pálidos dos personagens secundários.
Os historiadores já questionam o rigor histórico do filme, a sua visão muito dura da Revolução Francesa e do próprio Napoleão, os perfis confusos do corso como estadista, a ausência flagrante da Guerra da Independência Espanhola e as várias amantes do imperador. Enquanto isso, nós que somos mais cinéfilos nos perguntamos se o octogenário cineasta inglês estava certo ao dar o papel principal a Joaquin Phoenix. Porque, se a personalidade de Napoleão já era complexa e difusa, na pele desse ator singular ele se torna ainda mais inacessível. Em outras palavras, quase sempre se vê Fênix na tela e não Napoleão.
© 2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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