É difícil de imaginar uma família que passe 35 anos sem trocar de sofá. Mas esse é o caso dos Simpsons, que continuam com o velho móvel marrom em sua sala de estar. No ar desde 1989, os personagens amarelos do desenho são alguns dos mais icônicos na história da televisão mundial. Mas já há alguns anos eles não aparecem na nossa TV aberta, que sempre reprisava episódios das primeiras dez temporadas (alguns dos melhores da “era de ouro”, como o período é conhecido pelos fãs de Homer).
O motivo desse sumiço é que a animação passou por uma queda de qualidade lenta e gradual, resultando na retirada do programa da grade televisiva brasileira quando atingiu apenas um ponto no Ibope, em 2018. Mas, com a chegada da 35ª temporada de Os Simpsons no streaming Disney+, veio uma pergunta: vale arriscar e investir tempo nos novos episódios?
Depende. É fácil afirmar que não existem mais episódios como o memorável Quem Matou o Sr. Burns?. Porém, a nova leva de capítulos traz muito do charme de antigamente. Homer continua a fazer asneiras, Marge ainda é uma mãe carinhosa, Bart, uma peste, Maggie usa a sua chupeta e Lisa... Bem, ela continua trazendo suas pautas chatas e progressistas, nem parecendo apenas uma criança.
Na nova temporada, os roteiristas finalmente acharam um balanço entre usar a fórmula de sucesso nos anos 1990 e trazer elementos do mundo moderno para oferecer uma leve sátira de nossos tempos. Há momentos em que os personagens brincam com o fiasco das NFTs, com a cultura dos influencers e até com o bilionário Jeff Bezos, dono da Amazon.
Em Marge de Aço, por exemplo, o espectador acompanha Homer lutando para se tornar o “alarmista número um” em uma nova rede social. Ele cria avisos exagerados sobre perigos na cidade, fazendo todos fugirem sem ao menos checar se o que foi alertado é verdade. É algo que não está tão longe do que rola em nossos tristes tempos de desinformação em massa.
Ideias mais malucas
Outro destaque é Sonho de uma Noite de Infância, um episódio doce que mostra Marge assustada com o crescimento de seus filhos (algo que demorou 35 anos para virar pauta na série). Por meio de pesadelos que ela tem enquanto está doente, remetendo ao episódio Funhouse, de Família Soprano, a matriarca dos Simpsons tem visões de Bart se desligando cada vez mais dela. Com isso, o roteiro consegue sair do lugar comum para a série, oferecendo questionamentos importantes e uma piada aqui e ali – uma professora woke de Bart se enrola toda quando é usada a palavra “especial” para se referir ao comportamento delinquente dele.
Esse tipo de episódio não é novidade para Os Simpsons. Homer, por exemplo, já teve uma viagem espiritual após comer muita pimenta, chegando a conversar com uma raposa dublada pelo cantor Johnny Cash. Mas, na fase atual, momentos “filosóficos” assim são mais comuns.
Tal escolha veio de uma decisão de Matt Selman, que virou showrunner do desenho em 2021. Ele contratou novos roteiristas e pediu para que buscassem ideias “mais malucas”, como as apresentadas nos episódios de Halloween da série. “É sempre bom mostrar a vida interior de um personagem que você acha que não tinha vida interior”, disse Selman, em uma entrevista recente à CNN americana, comemorando o marco de quase 770 episódios (faltam apenas dois para chegar lá).
Esganar ou não? Eis a questão
Quem assistir aos novos episódios verá o nome de Matt Groening aparecer nos créditos e se perguntará: o que o co-criador dos Simpsons ainda faz na série? No fim das contas, ele não escreve um episódio desde 2007, mas ainda é um dos produtores e tem o curioso cargo de “consultor criativo”.
Mesmo sem envolvimento direto nos roteiros, ele foi um dos principais entrevistados quando Os Simpsons passaram a ser “cancelados” em meados de 2018. Na época, jovens criticaram personagens clássicos como Apu e o Doutor Hibbert, que eram dublados por atores brancos fazendo vozes que reforçam estereótipos. O barulho foi tanto que levou os produtores a procurarem novos dubladores e dar fim em um deles em 2021.
Em um papo com o jornal USA Today, Groening afirmou: “Essa não foi uma decisão minha, mas estou bem com isso. Porém, direi apenas que os atores não foram contratados para interpretar personagens específicos. Eles foram contratados para fazer qualquer personagem que pensássemos. Para mim, o incrível é ver todos os nossos atores brilhantes fazendo múltiplas vozes. Isso faz parte da diversão da animação.”
Apesar de ter praticamente lavado as mãos naquela ocasião, ele foi o primeiro a se manifestar quando um episódio da nova temporada gerou controvérsia entre os fãs mais antigos: Homer afirmou que não enforcaria mais Bart. Não tardou para surgirem inúmeras manchetes sobre isso, reforçando a readequação da animação aos novos tempos. Mas Groening correu para a página de Facebook da família amarela e postou um desenho feito à mão do pai esganando o menino e o acusando de cair em clickbait.
Para quem acompanhou Os Simpsons em seu auge, o medo de ver os novos episódios é justificadamente grande. Ainda mais quando o seriado só vira manchete quando o assunto é a previsão de algum acontecimento marcante do mundo ou por essas mudanças controversas. Mas ainda é possível rir com os inúmeros habitantes de Springfield.
“Dou um conselho às pessoas que cresceram com Os Simpsons e talvez pensem que não é mais para elas. Confira novamente: a sátira e a qualidade da animação são fantásticas”, defende apaixonadamente Groening, que indica ser quem segura a família de descambar para valer.
- Os Simpsons
- 2024
- 18 episódios
- Indicado para maiores de 12 anos
- Disponível no Disney+
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