Mahito, o jovem protagonista deste filme que é um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Animação em Longa-Metragem, acaba de perder a mãe num incêndio. Sua tia o abriga em sua casa no interior do Japão, onde uma misteriosa garça falante lhe mostrará os mistérios de uma torre abandonada. Essa é a premissa da produção nipônica O Menino e a Garça, que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros nesta semana.
Parece que não está sendo fácil suceder Hayao Miyazaki à frente dos Estúdios Ghibli. Se há dez anos o cineasta japonês se despediu do cinema com o magistral A Viagem de Chihiro, em setembro do ano passado ele apresentou o seu último filme no Festival de San Sebastián, coincidindo com a entrega do Prêmio Donostia por toda a sua carreira. Agora, depois de ganhar o Globo de Ouro, há quem diga que apenas Homem-Aranha: Através do Aranhaverso tem condições de impedir Miyazaki de faturar seu segundo Oscar. O fato é que O Menino e a Garça apresenta alguns dos temas preferidos do mestre japonês, como a dor do luto e a pedagogia de uma natureza que surpreende ao mesmo tempo em que ensina os personagens a crescer.
A história do menino Mahito, retirada do romance de Genzaburô Yoshino, é uma viagem a um multiverso peculiar em que a ficção se mistura com a realidade, e o passado com o presente e o futuro. Evidentemente, a criatividade de Miyazaki transborda em cada cena, começando pelo fogo do incêndio que dilui as silhuetas dos personagens afetados pela perda, até chegar à tal torre abandonada, onde habitam criaturas que mudam de textura e cor enquanto mostram suas nuances luminosas e escuras. Pena que essa saturação estilística acabe afetando um roteiro em que há um acúmulo excessivo de metáforas e reviravoltas, que dificultam a empatia com os personagens.
Mesmo assim, a dramática jornada tem trechos excepcionais em que Miyazaki, aos 82 anos, demonstra uma confiança admirável nas novas gerações. Trata-se de um testamento cinematográfico em que o cineasta dá ao protagonista a audácia e a força que parece querer transmitir aos espectadores mais jovens, hoje um tanto desesperançados com o mundo conflituoso em que vivemos.
© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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