Em novembro, a criação do serviço de streaming da Apple, o Apple TV+, completará cinco anos de existência. De 2019 para cá, a plataforma já lançou muitos produtos bons, como as séries Slow Horses, Ted Lasso, Matéria Escura e Silo, gastando mais de 20 bilhões de dólares em audiovisual, segundo a revista Vulture. Mesmo realizando esse investimento pesado e emplacando sucessos entre a crítica especializada, o serviço ainda não decolou em volume de assinantes – no caso do Brasil, será que isso acontece porque o aplicativo é limitado para usuários de iPhones em um país dominado pela rival Samsung?
Seja qual for a resposta, a real é que a empresa está mudando sua estratégia de priorizar produtos cults e agora deve investir mais em ofertas de apelo popular. A primeira aposta nesse sentido é Lobos, que marca o reencontro de Brad Pitt e George Clooney nas telas. Disponível desde a última sexta-feira (27), o filme já é o mais visto do Apple TV+ numa semana de estreia, superando Napoleão e Assassinos da Lua das Flores.
Quem viveu os anos 1990 e 2000 sabe que a dobradinha Pitt e Clooney é uma das mais descoladas de Hollywood. Juntos, estrelaram a saga Onze Homens e um Segredo e o longa Queime Depois de Ler, mas não se encontravam em filmagens há 16 anos. Por isso que Lobos gerou tanta expectativa, principalmente depois da divulgação do trailer, com os dois vestidos com jaquetas de couro e fazendo o que sabem melhor.
No filme, dirigido e roteirizado por Jon Watts (responsável pelo Homem-Aranha mais recente da Marvel), Pitt e Clooney interpretam personagens com nome desconhecidos. Ambos trabalham como “solucionadores”, aquele sujeito que aparece em filmes de assassinos e espiões para limpar cenas de crime. Brincando com a ideia de esse ser um ofício para “lobos solitários”, o roteiro cria uma situação para colocá-los para trabalhar em dupla pela primeira vez na vida.
O longa segue Pitt e Clooney resolvendo uma situação específica (que escala rapidamente) e tendo de lidar com gente armada. Até aqui, essa descrição poderia ser de um filme de ação e suspense. Só que Lobos, acima de tudo, é uma comédia.
Química intacta
O primeiro momento que pode arrancar risadas dos espectadores é quando Pitt chega na cena do crime após Clooney. Ambos foram chamados para o mesmo serviço: ajudar uma defensora pública de renome a se livrar do corpo de um rapaz de vinte e tantos anos num quarto de hotel. A partir disso, os dois pressionam a advogada para saber se “o garoto” (como é chamado pelos solucionadores) é um profissional do sexo ou não.
Algumas das risadas vêm justamente do bate-boca entre os dois, que não querem dar o braço a torcer de que o parceiro está fazendo um bom serviço. Algumas escolhas para os personagens também enriquecem as cenas; enquanto Pitt é mais boca suja e desleixado, Clooney é sério e refinado, ouvindo os maiores sucessos da cantora Sade no som de seu carro. A química entre os galãs veteranos é um belo combustível para o longa-metragem.
Outro destaque é a participação do suposto michê, vivido pelo ator Austin Abrams, de apenas 28 anos. Nas cenas em que não é apenas um defunto no quarto da defensora, ele funciona como o grande alívio cômico da obra, conquistando o espectador pela tolice típica de um jovem despreparado para a vida.
Lobos pode não ser o filme mais original da história, mas é aí que reside seu charme. Watts sabia exatamente o que tinha em mãos ao conseguir unir Pitt e Clooney mais uma vez. Os atores são os responsáveis por fazer o roteiro recheado de clichês funcionar.
Para quem gosta de uma trama construída com esmero, assinar o Apple TV+ só por Lobos não é recomendável. Mas o filme vale a pena para quem já tem o serviço e só quer se divertir com uma receita que faria muito sucesso há 20 anos. Quem for fisgado por Pitt e Clooney pelo menos poderá explorar outras boas opções da plataforma, como The Morning Show, Falando a Real e Ruptura, séries que devem ganhar novas temporadas em breve.
- Lobos
- 2024
- 108 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível no Apple TV+
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