Quem viveu outras eras da música pop tende a pensar que a atual não é nada empolgante. Hoje temos de conviver com o trap (um formato bem menos interessante do rap), com o anódino k-pop, com divas que precisam de vinte compositores para finalizar uma canção e com roqueiros decrépitos que já não desempenham como no auge. Isso para não falar do cenário nacional! Mas um dos músicos mais celebrados do momento, capaz de ser admirado e também colaborar com artistas tão distintos quanto Red Hot Chili Peppers, Ariana Grande e Michael McDonald, prova que nem tudo está perdido. Seu nome é Thundercat.
Na verdade, seu nome é Stephen Lee Bruner. Ele usa Thundercat por ser fã dos ThunderCats, o desenho animado que foi sensação na segunda metade da década de 80. Aos 39 anos (completados anteontem), o baixista e cantor de Los Angeles desembarcará em São Paulo no dia 5 de novembro para se apresentar no Allianz Parque, dentro do festival GPWeek, ao lado do rapper Kendrick Lamar, do duo eletrônico Sofi Tukker, da cantora carioca IZA, e outras atrações. Quem comparecer, ouvirá um jazz funkeado com letras que falam de personagens dos quadrinhos (Lone Wolf and Cub), de animes (Tokyo), de videogames (Friend Zone), e que, vez ou outra, extrapolam o universo da cultura pop e tocam na religiosidade (Thundercat é cristão e gosta de explorar o tema em suas canções, vide A Message for Austin/Praise The Lord/Enter The Void).
É um ótimo momento para assistir ao baixista virtuose, visto que a perda de alguns amigos próximos (como o rapper Mac Miller, vítima de uma overdose aos 26 anos) o fez reconsiderar a vida desregrada que levava e se afastar do álcool, além de passar a se alimentar melhor. Com quatro álbuns e um EP no currículo, dois troféus do Grammy (um deles por uma parceria com Kendrick Lamar) e uma legião de admiradores famosos, Thundercat vive sua melhor fase e deve soltar trabalho novo em breve – seu último lançamento foi um single em parceria com a banda psicodélica australiana Tame Impala, no primeiro semestre.
Herança sonora
Muito de sua eclética formação artística ele deve aos pais e ao grupo de hardcore Suicidal Tendencies. O pai era o instrumentista mais bem-sucedido de uma família musical, tendo tocado bateria com grupos de renome da soul music, casos dos Temptations e das Supremes. Já o Suicidal Tendencies foi de suma importância pois recrutou Thundercat, ainda com 16 anos, para ser seu baixista oficial e rodar o mundo (Brasil incluso). Foi sua primeira vivência na estrada, algo crucial para que ele decidisse que seu futuro seria mesmo nos palcos.
Fora da música, sua única ocupação foi como vendedor de uma loja de quadrinhos. Metade de seu salário era pago com créditos para serem usados no local. E como eles eram usados! Thundercat é obcecado com hqs americanas e japonesas (os indefectíveis mangás), ostentado uma coleção que inclui peças valiosas como as primeiras aparições em gibis do Incrível Hulk e do Homem de Ferro. Não por acaso, esse universo é recorrente em suas composições. A paixão pelos quadrinhos e também pelos videogames ele divide com alguns integrantes do West Coast Get Down, coletivo de músicos de Los Angeles do qual faz parte o grande saxofonista Kamasi Washington, seu amigo de infância.
Neste ano, o grande feito de Thundercat foi servir como atração de abertura da turnê do Red Hot Chili Peppers e assim poder assistir ao seu ídolo Flea se apresentar dia após dia. Nesse mundo do rock das grandes arenas, Dave Grohl, do Foo Fighters, também é um grande entusiasta de seu trabalho. Já na esfera pop, Ariana Grande é tão fã que já dividiu o palco com Thundercat e a dupla DOMi & JD BECK, numa performance memorável de Them Changes. Mas a colaboração mais surpreendente de sua carreira é com Michael McDonald, cantor e tecladista que fez o Doobie Brothers ser uma das bandas mais populares da virada dos anos 70 para os 80. Thundercat compôs e gravou uma música (Show You the Way) com o veterano do soft rock e o levou para algumas apresentações, sempre com ovação máxima dos jovens da plateia.
E é com essa facilidade de transitar por diferentes gêneros, falando de temas mundanos ou do cristianismo, que Thundercat vai espalhando seu contrabaixo (de seis cordas) jazzístico pelo planeta e provando que na música popular ainda tem gente interessante dando expediente. Pode ser que a tarefa de encontrar esses artistas esteja tão difícil quanto a de achar uma agulha no palheiro para quem tem mais o que fazer da vida. Mas que ainda há feras à solta, isso a obra do baixista americano comprova.
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