"É melhor olhar a parede por uma hora do que aprender mentiras por uma hora”, crava o filósofo americano Peter Boghossian em sua participação em Unitopia, documentário que acaba de ser lançado pela Brasil Paralelo. Essa é uma frase que parece sintetizar muito do que os acadêmicos sérios sentem hoje.
Dividido em duas partes, cada uma com mais de uma hora, o lançamento analisa por meio de entrevistas, recortes de jornais e publicações científicas o atual momento das universidades ao redor do mundo. Antes um espaço para a construção de senso crítico e desenvolvimento de ideias para o avanço da humanidade, o ambiente acadêmico vem sendo impregnado por ideologias políticas, o que motiva perseguições a quem pensa diferente.
A produção retrata como alunos de universidades públicas e até professores são limitados por esse cenário. Discussões não acontecem sem que os mais críticos e questionadores acabem taxados de “nazistas”, “racistas” e outros “istas” que fazem parte do vocabulário estudantil moderno.
Em um primeiro momento, Unitopia foca principalmente as universidades dos Estados Unidos. O espectador ouve causos de uma bióloga frustrada com seus alunos questionando conhecimento científico estabelecido há décadas, é apresentado a universidades que estão se “descolonizando” de ideias que surgiram de europeus, e vê manifestantes estudantis trajados como terroristas do Hamas. Tudo isso é chocante, mas é fichinha comparado à parte em que o documentário finalmente chega ao Brasil.
Modismos estruturais
Entre as cenas mais alarmantes, vê-se em instituições públicas daqui momentos de agressão e alunos desrespeitando professores que tentam ensinar alguns poucos verdadeiramente interessados. Em um dos vídeos apresentados pela Brasil Paralelo, um estudante apaga imediatamente o que é escrito na lousa, alegando que nada pode ser ensinado durante a greve. Estarrecedor, não é mesmo?
Depoimentos de pessoas que estão na linha de frente, como os professores Carlos Adriano Ferraz e Ubirajara Ferreira, ajudam a trazer profundidade ao tema. Eles relatam dificuldades dos profissionais na luta contra visões ideológicas que estão sendo cultivadas na mente dos jovens como verdades absolutas.
Unitopia pega carona em um levantamento realizado pelo editor da Gazeta do Povo Gabriel de Arruda Castro em junho deste ano. No e-book que acompanha a série, é destacada a informação de que a questionável tese do “racismo estrutural” aparece em mais dissertações de mestrado e trabalhos de doutorado do que o próprio “descobrimento do Brasil”. Também é mencionado que nomes como os do filósofo Michel Foucault, do pedagogo Paulo Freire e do revolucionário socialista Karl Marx são os mais presentes nas produções dos estudantes.
Com essa reunião de informações, dados e fontes bombásticas, Unitopia se impõe como a principal obra audiovisual brasileira a fazer uma crítica sobre a situação atual das universidades. Juntos, os dois episódios podem e devem servir de referência para debates sobre como solucionar essa questão e transformar o ambiente acadêmico em um local com pluralidade de ideias novamente.
- Unitopia
- 2024
- Dois episódios
- Indicado para maiores de 16 anos
- Disponível na Brasil Paralelo
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