Sofia Coppola, 52 anos, diretora e filha do também diretor Francis Ford Coppola, é uma figura de tanto privilégio hollywoodiano que sua vida emocional, artística e fantasiosa encontra um paralelo perfeito em Priscilla Beaulieu, a menina do Exército que, aos 14 anos, conheceu Elvis Presley e morou com ele por quatro anos antes de se tornar sua esposa, em 1967. Recém-chegada aos cinemas brasileiros, a cinebiografia Priscilla, versão de Sofia desses eventos (baseada nas memórias de Beaulieu-Presley), é seu filme mais completo.
Desta vez, Sofia quase justifica os seus elogios como a melhor cineasta mulher dos Estados Unidos. Estreando como diretora hipster nos anos 90, ela construiu uma reputação como porta-estandarte feminista que não é infundada. Mesmo assim, Priscilla não convence quando sua heroína proclama independência. (“Você está me perdendo para uma vida própria.”)
As melhores cenas são as mais femininas: Priscilla (interpretada pela pequena morena Cailee Spaeny) usando esmalte vermelho nas unhas enquanto caminha pelo tapete macio ou passeando pelo corredor da escola envolta em um suéter angorá rosa ao ritmo da imortal Crimson and Clover, de Tommy James and the Shondells.
A ênfase de Sofia no esplendor feminino, como na imagem quase pornô de Scarlett Johansson no começo de Encontros e Desencontros, confunde a noção acadêmica feminista do “olhar masculino”. O olhar feminino de Sofia se glorifica pelo ser sensual de Priscilla: especificamente em sua consciência da menarca que é despertada pelo rei da música pop.
A ideia é que Elvis ungia a feminilidade recatada de Priscilla, mas Sofia mostra isso como uma requintada feminilidade adolescente. A balada elevada de Frankie Avalon, Venus, oferece uma epifania significativa. (“Tornar meus sonhos realidade.”) Isso está além da nostalgia da cultura pop – é fetichização. (A predisposição erótica evoca Dorothy Arzner, a mentora lésbica do pai de Sofia na universidade.) Mais importante, a poesia visual extasiada e delicadamente focada de Sofia atende à definição do correlativo objetivo do poeta TS Eliot: “Um conjunto de objetos, uma situação, uma cadeia de eventos que será a fórmula dessa emoção particular”.
Princesa esperando ser violada
As suaves notas do piano de Love Me Tender, evocadas enquanto Priscilla faz o dever de casa de aritmética, transmitem anunciação. Seu futuro determinado por Elvis dá vida ao seu diário particular. O ator Jacob Elordi incorpora bem Elvis – um homem alto que representava sexo, talento e adoração. Ele fala em um barítono educado (exceto por um deslize na voz, remetendo a Nicolas Cage em Peggy Sue – Seu Passado a Espera – uma piada interna da família Coppola, embora na cosmologia de Sofia todos os homens sejam OVNIs). Mas ele é o namorado perfeito. “Permaneça do jeito que você é”, Elvis diz a Priscilla, expressando uma inscrição no anuário do ensino médio.
E, então, Sofia enfrenta a vida: Priscilla sai lentamente de seu nebuloso casulo de amor. Elvis apresenta-a à sua comitiva da Máfia de Memphis, à sua avó, ao seu temperamento derivado da mãe – e às drogas (500 mg de Placiderm deixam-na inconsciente durante dois dias, depois experimenta LSD). A princípio, seu cavalheirismo sulista a deixa sexualmente frustrada. (“Temos de controlar nossos desejos, ou nossos desejos nos controlarão.”) Ela é uma princesa esperando para ser violada. Em vez disso, eles travam brigas de travesseiros que se tornam difíceis (“Você só quer jogar quando está vencendo!”). E o mantra do celibato de Elvis – “Mantenha o fogo da casa aceso” – deixa-a insatisfeita. “Podemos fazer outras coisas”, garante-lhe Elvis, o que leva a uma saída para compras, onde Sofia revela a sua idiotice.
O retrato juvenil do casamento feito por Sofia lembra a sua assexuada Maria Antonieta (2006), em que companheiras de cama lado a lado honram apenas a tolerância da mulher. A visão dessa vítima parece estranha e fraudulenta quando Priscilla casualmente combina cores de pistolas Derringer com vestidos de grife. Submetendo-se a um penteado de colmeia preto para se parecer com o cafona e fantasiado Rei do Rock, ela é mais do que uma esposa troféu, ela é a boneca de Elvis – sua Barbie.
© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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