Sandra e Samuel são um casal de escritores que parecem compartilhar uma vida luxuosa e isolada em uma casa no meio dos Alpes franceses, com seu filho adolescente cego, Daniel. A morte de Samuel dá início a uma investigação aprofundada para saber se ela se trata de suicídio ou homicídio; nesta segunda hipótese, Sandra é a principal suspeita.
A carreira cinematográfica da diretora e roteirista francesa Justine Triet não parecia encaminhada para ganhar a Palma de Ouro, em Cannes, nem ser indicada a cinco prêmios no Oscar. Filmes como Sibyl, Na Cama com Victoria ou A Batalha de Solferino foram apostas que expressaram mais risco do que sucesso na resolução. Porém, em Anatomia de uma Queda, em cartaz nas salas brasileiras desde quinta-feira (25), há um salto de qualidade para um cinema mais austero no seu estilo, mas consideravelmente mais eficaz na sua capacidade de se conectar com o espectador. E, desta vez, as duas horas e meia têm ritmo e intensidade, graças a um excelente roteiro em que há uma família definida com precisão e engenhosidade nos mínimos detalhes. As explosões de drama estão na medida certa e são brilhantemente interpretadas.
A atriz alemã Sandra Hüller (Toni Erdmann, O Homem Ideal) cria uma personagem tão expressiva em seus gestos e contenção que é fascinante decifrar sua inocência ou culpa. Da mesma forma, o estreante Milo Machado, que interpreta o filho, é um contraponto excepcional, oferecendo à história um ponto de vista que faz crescer o interesse e a tensão da trama ao longo do filme.
Para quem tem interesse especial em procedimentos legais, o filme oferece uma precisão que lembra Anatomia de um Crime, uma das obras-primas de Otto Preminger, estrelada por James Stewart e Lee Remick, em 1959. A semelhança dos dois filmes não somente fica no título, mas também por compartilharem uma homenagem à Lei e ao rigor da investigação e do julgamento, o que torna a história fascinante e emocionante em sua análise profunda do comportamento humano.
Depois de dois anos da Palma de Ouro indo para títulos tão exagerados e herméticos como Titane (2021), de Julie Ducournau, e O Triângulo da Tristeza (2022), de Ruben Östlund, Anatomia de uma Queda é uma aposta óbvia no cinema da qualidade mais sutil e universal. No Oscar, as indicações conquistadas foram de Melhor Filme, Atriz (Sandra Hüller), Direção (Justine Triet), Roteiro Original e Edição. Só não houve uma sexta indicação em Filme Internacional porque a França selecionou outro filme para disputar a categoria.
© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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