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O ator Kevin Costner em cena de "Horizon: An American Saga"
O ator Kevin Costner em cena de “Horizon: An American Saga”| Foto: Warner Bros./Divulgação

Avaliar uma obra de arte inacabada é sempre um desafio, se não impossível. Mas se a primeira parte de Horizon: An American Saga, dirigido e estrelado por Kevin Costner, servir de indicação, um fascinante triunfo cinematográfico está à vista. Coroado com uma das cinematografias mais deslumbrantes que o gênero faroeste já viu neste século e com uma trilha-sonora emocionante, as pinceladas iniciais de Costner nesta tela ambiciosa são inegavelmente ousadas e magníficas. E, para a alegria dos brasileiros, o longa-metragem finalmente chegou ao streaming e está disponível no Max (antigo HBO Max).

Um elenco composto por atores experientes e estrelas em ascensão dá vida à esta saga arrebatadora ambientada no oeste americano. Este épico extenso e multinarrativo se desenrola pelas perspectivas de colonos, nativos americanos e imigrantes viajando nas vastas paisagens, do Kansas ao Wyoming, resultando na fundação da cidade fictícia de Horizon. 

Este primeiro filme apresenta principalmente os protagonistas do drama. O roteiro de Horizon é totalmente consciente do contexto histórico e do legado cinematográfico que o precede, incluindo as próprias contribuições de Costner para o gênero. O elenco homenageia os arquétipos clássicos do faroeste com seus toques e nuances únicos: Abbey Lee retrata a prostituta com um coração de ouro, que lembra  Onde os Homens São Homens; Sam Worthington, Michael Rooker e Danny Huston dão vida aos soldados da União em uma homenagem a Dança com Lobos; e Sienna Miller encarna a bela da cidade, canalizando o charme de filmes antecessores como O Homem Que Matou o Facínora e Matar ou Morrer. O próprio Costner assume o papel do viajante solitário e robusto, evocando o heroísmo estoico de Gary Cooper, em quem ele muitas vezes se inspirou.

Sem higienização do passado

Os faroestes há muito enfrentam os desafios de retratar as relações complexas entre os nativos americanos e os colonos que acabaram por conquistar grande parte das suas terras, uma tarefa ainda mais complicada pelas nossas divisões políticas atuais. Costner, familiarizado com a controvérsia, enfrentou sua própria cota de críticas ao longo dos anos, incluindo acusações de um complexo de “salvador branco” – uma acusação especialmente ridícula, já que são os nativos que o salvam em Danças com Lobos. Aqui, Costner empreende uma exploração diferenciada desta intrincada história ao longo de um extenso período de três horas. 

O filme, já mal avaliado pela crítica progressista, não é adequado para aqueles que preferem narrativas simplificadas de faroeste e que atendem mais aos preconceitos contemporâneos do que à verdade histórica. Somente os primeiros 40 minutos de Horizon retratam três ataques brutais de nativos americanos contra colonos anteriores à Guerra Civil, tribos rivais e grupos maiores que mais tarde se reuniram para construir a cidade. Essas cenas angustiantes são equilibradas por retratos íntimos subsequentes da vida nativa – uma reminiscência de Estrela de Fogo, do diretor Don Siegel – e dos abusos que os nativos sofreram. Costner evita higienizar o passado, apresentando, em vez disso, uma visão mais holística e pura da história americana. 

Naturalmente, nenhum filme pode resumir a vasta complexidade do Velho Oeste, e é por isso que Costner embarcou neste projeto apaixonante em quatro partes. Apesar de ter sido aplaudido de pé em Cannes, o filme teve uma recepção mista da crítica, com grande parte da ira dirigida à sua estrutura narrativa. Alguns críticos acusaram-no de negligenciar o desenvolvimento dos personagens, considerando-o “incompleto”. Muitas destas críticas, com todo o respeito, parecem obtusas e, em alguns casos, simplesmente tolas. 

Pode-se questionar se Costner deveria ter criado quatro filmes distintos e independentes, cada um contando a história do Velho Oeste a partir de perspectivas diferentes – semelhante ao tratamento que o diretor Sam Mendes dará à história dos Beatles. Talvez uma introdução narrada pelo diretor pudesse ter definido melhor as expectativas do público. Mas criticar um filme explicitamente rotulado como “Capítulo 1” como “incompleto” é como pedir um aperitivo e reclamar que não era um prato principal. 

Gostinho de quero mais

Devidamente entendida como uma entradinha cinematográfica, essa primeira parte de Horizon deixa o público ansioso por mais. A verdadeira estrela do filme é a paisagem deslumbrante do sul de Utah, capturada pelo olhar amoroso de seu talentoso diretor de fotografia, J. Michael Muro, que anteriormente liderou a fotografia em Pacto de Justiça, de Costner, e aperfeiçoou sua arte em O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final. Os visuais de altíssima qualidade são ainda enriquecidos pelas cordas evocativas de John Debney, conhecido por seu trabalho em A Paixão de Cristo, cujas composições acrescentam profundidade emocional. 

Costner, que investiu mais de 40 milhões de dólares do seu próprio dinheiro no projeto, planeja Horizon há 36 anos. Ao longo dessas décadas, a evolução de sua arte de direção fica mais evidente nos detalhes meticulosos do filme. Por exemplo, a iluminação e o design robusto do cenário são marcadamente mais cinematográficos e autênticos do que as cenas internas de Pacto de Justiça, de 2003, estrelado por Robert Duvall. Um filme adorável, com certeza, que se assemelhava mais aos faroestes polidos da década de 1950 do que à estética corajosa do gênero pós-Trilogia dos Dólares de Sergio Leone. 

Essa verdadeira lenda de Hollywood, que deu vida a Eliot Ness e Crash Davis nas telas de cinema, claramente tem um forte amor pelos Estados Unidos e uma profunda compreensão do papel fundamental do gênero faroeste na formação não apenas da autoimagem americana, mas também de como o mundo a percebe. O poder dos faroestes me impressionou recentemente, enquanto conversava com uma imigrante recém-chegada da zona rural de Cuba. Antes de se mudar para os Estados Unidos, ela sabia pouco sobre o país, para além dos mais de 60 anos de propaganda do regime de Castro. No entanto, uma das razões pelas quais ela resistiu às narrativas antiamericanas foi porque conhecia John Wayne. Veja, na mente dela, um país que produziu homens como o personagem Ethan Edwards, de Rastros de Ódio, não poderia ser tão ruim assim. 

Há algo profundamente comovente, para não dizer admirável, no patriotismo de Costner e sua aposta em uma das principais exportações artísticas dos Estados Unidos. É justo que uma coleção de filmes que se esforça para ser o relato definitivo do Velho Oeste arrisque ser tão expansiva quanto os céus sem limites e ousada quanto os pioneiros que forjaram o país. A história de Horizon apenas começou e, tal como a própria vasta fronteira, esta viagem está repleta de incógnitas. Este episódio inicial, no entanto, mostra Costner na mesma pegada do personagem Ray Kinsella, do Campo dos Sonhos, apostando tudo para construir algo verdadeiramente especial. Os americanos virão, ou pelo menos devem ir – porque isto é ainda maior do que um campo de beisebol em Iowa; é uma celebração da herança e legado cultural dos Estados Unidos. 

A má notícia é que a Warner adiou o lançamento do capítulo 2 de Horizon: An American Saga. Inicialmente previsto para ir para as salas americanas em 16 de agosto, o segundo filme não tem mais data para estrear. A justificativa é dar mais tempo para que o público conheça as histórias presentes no capítulo 1 com a ajuda de sua chegada às plataformas digitais dos Estados Unidos, visto que seu desempenho nos cinemas foi muito aquém do esperado.

© 2024 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.  

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