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Capa de vídeo postado no YouTube pelo canal Don’t Tell Comedy com trecho de show de Rafinha
Capa de vídeo postado no YouTube pelo canal Don’t Tell Comedy com trecho de show de Rafinha| Foto: Reprodução YouTube

Pouco antes da pandemia de Covid-19 trancar todo mundo em casa, Rafinha Bastos anunciou que iria se aventurar pelos palcos de comédia americanos, fazendo stand-up em inglês para o público de lá, não para imigrantes saudosistas, algo extremamente ousado para um comediante brasileiro. O gaúcho de 46 anos, que fez fama na bancada do programa televisivo CQC, esteve entre os pioneiros da modalidade humorística no país há duas décadas, quando começou a formar grupos de comédia em São Paulo, após retornar de um período nos Estados Unidos em que acalentou o sonho de jogar basquete profissionalmente na NBA. Ser pioneiro, portanto, não é uma novidade em sua trajetória.

Nesta semana, Rafinha divulgou uma agenda com 12 shows por clubes de comédia americanos, numa turnê batizada de Unfamiliar Territory (território desconhecido) e ainda avisou que apresentações no Canadá, Europa e Oriente Médio estão prestes a serem confirmadas. Considerando que ele já passou por festivais e casas de espetáculos referenciais para o stand-up, dividindo palco com humoristas de ponta, além de ter dado uma longa entrevista para Joe Rogan em seu popularíssimo podcast, em 2019, é nítido que seu plano está sendo colocado em prática. A questão seria avaliar se seu material funciona também em inglês, se ele não está pregando para expatriados que gargalhariam com qualquer bobeira dita com sotaque brasuca.

Pelo que está disponível no YouTube e em seu Instagram internacional (@raficomedy), em que adota o nome Rafi Bastos, sem o “nha” que complica a pronúncia dos gringos, fica difícil questionar sua graça. Por vezes, “ele é até mais engraçado em inglês do que em português”, como apontou um usuário do YouTube num dos vídeos com trecho de show. Para cativar as novas audiências, o gaúcho explora suas dificuldades com o idioma e com as formas de pensar e agir do americano comum, além de gozar muito da brazilian wax, depilação total dos pelos pubianos que foi introduzida nos EUA por profissionais brasileiras.

Outra fonte geradora de piadas é a agenda woke e todos os seus compartimentos. As troças de Rafinha passam pelas tartarugas que estariam sofrendo com os canudos de plástico dispensados nos oceanos e chegam até ao gênero neutro e os usos alternativos de pronomes, que dificultam ainda mais a vida de quem chegou há pouco de fora (construção intencional) e ainda não está habituado com tais modismos. O fato dele ser alto demais para se parecer com um latino típico também rende bons chistes. Para provar sua origem a uma pessoa que a colocou em xeque, ele diz ter feito algo bem latino: a roubou!

O crescimento internacional orgânico de Rafinha (ou Rafi) em seu setor gera a reflexão do motivo desse feito não estar sendo mais comentado e celebrado em seu país natal. Comediantes de stand-up seguem rendendo manchetes apenas quando algum político encana com suas piadas ou quando perdem emprego por fazer galhofas pesadas demais segundo algum prisma. Por outro lado, a ascensão de Anitta na base do investimento pesado em divulgação e até agora sem ter emplacado um hit de verdade, alguma canção ao menos no top 40 da Billboard, motiva notícias semanalmente, sem uma análise se de fato ela está construindo algo sólido. É rir para não chorar.

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