Para John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, a conquista do primeiro lugar nas paradas britânicas sempre foi uma das principais metas para as músicas dos Beatles. Ao longo dos curtos dez anos em alta atividade, o grupo conseguiu emplacar 17 canções entre as mais ouvidas em sua terra natal – o que rendeu a compilação intitulada 1, na virada para os anos 2000. Agora, 54 anos depois de levar seu último single, The Ballad of John and Yoko, à nobre posição, o número de faixas na coletânea precisará ser revisto.
Com apenas algumas dicas dadas por Sir Paul em entrevistas no começo deste ano, os Beatles lançaram a música Now and Then em 2 de novembro. Já no lançamento, eles foram capazes de derrubar a queridinha do pop, Taylor Swift, com a música mais ouvida no Spotify do Reino Unido naquele dia. Mas a verdadeira coroação do quarteto acontece somente nesta semana.
Conforme previsto pela Official Charts Company, empresa britânica que realiza o levantamento das músicas mais ouvidas semanalmente, os Fab Four realizaram um retorno espetacular à primeira posição nesta sexta-feira (10), subindo 41 posições. O novo número 1 é importante, pois, além de considerar o volume de audições no streaming, ele leva em conta as vendas em formatos físicos, como CDs, LPs e até fitas K7. Como disse Martin Talbot, o chefão da companhia, “Os Fab Four são uma parte fundamental da história da música britânica e das paradas do Reino Unido, então esse retorno com um impacto tão grande é incrível”.
Um lixo que virou flor
Mas como o grupo que acabou oficialmente há 53 anos – e já perdeu dois de seus membros ilustres – conseguiu terminar uma música? A história de Now and Then é contada em um minidocumentário, divulgado simultaneamente com o single. Ela é uma das composições gravadas em versão demo por Lennon, antes de sua trágica morte, em 1980. Ela havia sido oferecida por sua viúva, Yoko Ono, aos Beatles sobreviventes quando eles se reuniram em 1994 e produziram novas canções para a compilação Anthology.
Quem viveu a época deve se lembrar de que a série resultante deste esforço chegou a ser exibida no Brasil pela Rede Globo, com bastante ênfase nas músicas Free as a Bird e Real Love, que só chegaram à quarta posição nas paradas britânicas. O lançamento de 2023 faria parte daquele momento, mas a faixa acabou vetada por Harrison, que não estava satisfeito com a qualidade do áudio para os vocais póstumos de Lennon, chamando-a de “lixo”.
Depois da morte do “Beatle quieto”, em 2001, nunca mais uma canção inédita dos Fab Four voltara à pauta. Tudo mudou com o avanço da tecnologia e uma pequena ajuda do cineasta Peter Jackson, responsável por blockbusters como a trilogia Senhor dos Anéis e King Kong.
Contratado pela Apple Corps, a empresa dos Beatles (não a dos celulares), Jackson se debruçou sobre 150 horas de áudios gravados pela banda em 1970, durante a produção do que viria a ser o disco Let It Be. Como existiam muitos ruídos e faixas com instrumentos misturados, ele e sua equipe precisaram desenvolver um software capaz de separar e refinar os áudios, o que permitiu o lançamento da série documental Get Back, disponível na Disney+ desde 2021.
A tecnologia fascinou Macca e Starr, que decidiram terminar Now and Then em 2023. Para isso, empregaram o truque de Jackson e limparam o áudio de Lennon cantando, resgataram contribuições de Harrison registradas nos anos 1990 e fizeram novas partes de baixo, violão, guitarra e bateria. E, para dar ainda mais a cara de música produzida pelos Beatles, contrataram Giles Martin, filho de George Martin (que produziu a maioria dos discos deles) para compor e gravar um belo arranjo de cordas.
“Quando estávamos no estúdio, tínhamos a voz de John em nossos ouvidos, então conseguíamos imaginar que ele estava na sala ao lado, em uma cabine vocal ou algo assim, e sentíamos como se estivéssemos trabalhando com ele novamente. Foi muito alegre”, disse McCartney, em uma entrevista à rádio BBC 1 nesta semana. “Para mim, é muito especial poder cantar com John novamente.”
A recepção da faixa foi praticamente unânime por parte de fãs e imprensa. O jornal The Guardian cravou: “um comovente ato de encerramento” e ainda chamou Now and Then de “sucesso qualificado”. E hoje veio a confirmação do novo número 1 de Lennon, McCartney, Harrison e Starr. Só mesmo os quatro rapazes de Liverpool para alcançarem um feito tão gigantesco.
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