Com uma dúzia de filmes lançados só nos últimos cinco anos (ou seja, de Vingadores: Ultimato para cá), os estúdios Marvel têm lutado consistentemente para deixar a maioria dos espectadores entusiasmados com seus super-heróis após um grande volume de projetos medíocres. Seu mais novo longa-metragem contraria essa tendência, por enquanto. Deadpool & Wolverine, que acaba de chegar ao Disney+, é a vitória que o chefe da Marvel, Kevin Feige, precisava.
Trazendo Deadpool/Wade Wilson (Ryan Reynolds) e Wolverine/Logan (Hugh Jackman) para o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) pela primeira vez desde a aquisição da 20th Century Fox pela Disney, em 2019, o terceiro filme da saga vê os dois anti-heróis mutantes duelando em uma brincadeira hilariante e irreverente. Depois de começar com o pé esquerdo, a dupla aprende a se dar bem em benefício do multiverso, conceito que foi criado para conectar franquias diferentes dos quadrinhos em um só produto. Apesar de sua violência exagerada, a comédia de amigos tem um forte apelo emocional (manifestado em seus personagens titulares) que proporciona um entretenimento muito saudável.
O filme começa com Wilson desejando se tornar mais do que sua personalidade vulgar e brincalhona. Ele se candidata aos Vingadores em seu desejo de se tornar um herói, mas acaba sendo rejeitado. Então, a Autoridade de Variância Temporal (TVA), entidade que aparece no seriado Loki, do Disney+, dá a ele a oportunidade de salvar seu universo da extinção, e acontece que a única pessoa que pode salvá-lo é Wolverine. O único problema é que Wolverine morreu no final de Logan, lançado em 2017, forçando Deadpool a encontrar uma versão alternativa do X-Man para ajudá-lo. Mas aquele que Deadpool escolhe é a pior versão de todas. “Este Wolverine falhou com o seu mundo”, explica o Sr. Paradox (Matthew Macfadyen), por uma razão que o espectador só descobrirá mais tarde, no transcorrer dos 127 minutos de filme.
Deadpool e Wolverine são então obrigados a se unir para derrotar Cassandra Nova (Emma Corrin), a irmã gêmea ainda não nascida do Professor Charles Xavier, e salvar toda a estrutura da realidade. Essas apostas inconcebivelmente grandes são suficientes para incutir apatia no público, mas a complexa relação entre seus dois protagonistas é o que faz brilhar a nova película da franquia Deadpool.
Sangue, humor e dinâmica
O humor desequilibrado de Deadpool e o pessimismo taciturno de Wolverine atingem o equilíbrio perfeito para aqueles que podem não ter gostado do sarcasmo desagradável do mercenário tagarela em seus dois primeiros filmes. Muitas vezes batendo de frente por causa de suas personalidades díspares, ambos aproveitam ao máximo seus poderes regenerativos para dilacerar e cortar um ao outro em duas sequências de luta bem coreografadas. As outras cenas de ação também são sangrentas, tornando este novo filme do MCU o mais violento que a Disney já lançou.
O humor autorreferencial é excelente. Deadpool zomba do atual estado sem brilho do MCU e brinca sobre como a Disney fará Jackman interpretar Wolverine até os 90 anos. A maioria das piadas é bem efetuada, graças ao timing cômico impecável de Reynolds. As participações especiais, que remontam à franquia X-Men da Fox e aos filmes de super-heróis do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, são tão divertidas quanto significativas. Ao contrário da aparição desperdiçada do Senhor Fantástico em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, as participações especiais aqui fazem sentido para a trama.
Apesar disso, o roteiro deixa a desejar. Os tais multiverso e TVA são as partes menos interessantes do filme. Felizmente, eles ficam em segundo plano em relação à dinâmica entre Deadpool e Wolverine, que comanda a história. Certos momentos parecem cheios de coincidências, como se os dois mutantes fossem amarrados por outros personagens no momento certo para que a trama pudesse progredir. Esses acontecimentos exageradamente convenientes provavelmente se devem ao fato de o roteiro ter sido escrito por cinco pessoas, incluindo Reynolds e o diretor Shawn Levy. Como resultado, a história tende a ser sinuosa porque não é tão bem-estruturada quanto nos dois filmes anteriores de Deadpool. Além disso, devido às poucas cenas de Emma Corrin na tela, a antagonista é esquecível.
Heróis que se sacrificam
Mesmo com todas as suas falhas, o filme respeita Wolverine o suficiente para fazer o público se importar com o personagem sete anos após sua aposentadoria cinematográfica. Incapaz de superar a qualidade da despedida de Jackman em Logan, Deadpool e Wolverine consegue oferecer arcos de redenção satisfatórios à dupla improvável. Deadpool prova ser um herói que pode tomar decisões difíceis, enquanto Wolverine aprende a superar seus piores erros. É por causa dessas mensagens comoventes que discordo parcialmente do texto de Armond White, publicado em inglês na National Review, de que o blockbuster do momento é “a sequência niilista definitiva da Marvel”. Deadpool & Wolverine pode não incorporar valores morais tradicionais, como pode ser visto em sua violência sanguinolenta, mas os personagens estão à altura da ocasião ao se tornarem heróis que se sacrificam.
No entanto, o 33º filme dos estúdios Marvel não faz nada pelo universo cinematográfico maior em que se passa. Apesar de seus melhores esforços como o autodenominado “Messias da Marvel”, Deadpool não pode salvar o MCU dos próximos projetos nada desejáveis que serão lançados a seguir – os dois principais são Agatha All Along, um spin-off de WandaVision com pegada de terror que ninguém pediu, e Capitão América: Admirável Mundo Novo, que não apresenta Steve Rogers como o herói estrelado. Levará algum tempo até que a Marvel lance algo que valha a pena assistir, seja no Disney+ ou nos cinemas.
Deadpool & Wolverine, no entanto, é um triunfo extraordinário para a Marvel, uma vez que arrecadou US$ 824 milhões em todo o mundo (até o começo deste mês) e continua a ter um bom desempenho com o público. O tamanho do sucesso após duas semanas da estreia é surpreendente para um filme liberado somente para maiores de 18 anos. Só podemos torcer para que o estúdio conduzido pela Disney produza mais histórias que levem os fãs mais radicais de quadrinhos e os espectadores casuais a quererem assisti-las de novo e de novo, como é o caso em tela.
© 2024 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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