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O Segredo dos Seus Olhos

Filme brutal sobre vingança é redescoberto e ganha espaço no streaming

Uma história de amor, crime e silêncio em "O Segredo dos Seus Olhos"
Silêncio, paixão e vingança: o drama envolvente de "O Segredo dos Seus Olhos" (Foto: Divulgação/ Tornasol Films)

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Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010, O Segredo dos Seus Olhos é uma obra-prima do cinema argentino que volta aos holofotes ao entrar no catálogo dos principais streamings. Agora disponível no Prime Video e na plataforma Brasil Paralelo — onde conta com uma análise aprofundada sobre seus simbolismos — o longa é um convite para revisitar (ou descobrir) uma história sobre paixão, injustiças e a dor que o tempo não cura. 

Dirigido por Juan José Campanella e baseado no romance A Pergunta em Seus Olhos, de Eduardo Sacheri, o filme equilibra com maestria um drama policial com uma comovente história de amor interrompida. Tudo isso ambientado na sombria atmosfera da ditadura argentina dos anos 1970. 

Atenção: esta análise contém spoilers.

Muito além do plot twist: uma aula de cinema

A análise disponível na Brasil Paralelo ressalta o que muitos cinéfilos já reconheciam: O Segredo dos Seus Olhos é uma verdadeira aula de cinema. A narrativa não linear, os saltos temporais e o uso simbólico de objetos — como a máquina de escrever sem a letra “A”, que obriga o protagonista a preencher manualmente as lacunas, como quem tenta completar a própria memória — elevam o filme a um patamar que merece ser revisitado.

Não é apenas o que acontece que impacta, mas como se chega até lá. É uma história sobre paixões que resistem ao tempo, ressentimentos e passados não perdoados. O desfecho, frequentemente lembrado pelo seu “plot twist”, é, na verdade, o encerramento de um arco emocional riquíssimo — que ressoa ainda mais forte em tempos de tantas injustiças, como na ditadura argentina, onde a impunidade imperava.

Campanella conduz a trama com sutileza e precisão, transformando elementos simples — como olhares e portas entreabertas — em metáforas poderosas. O romance entre Benjamin Espósito (Ricardo Darín) e Irene (Soledad Villamil), sufocado por medos e olhares incompreendidos, pulsa no subtexto, enquanto o caso Morales — a investigação de um assassinato brutal — questiona a impunidade, o rancor e a justiça feita pelas próprias mãos.

Por que a vingança não salva?

O filme, com uma delicadeza extraordinária, revela uma face vil do ser humano: aquele que cultiva seu apego ao passado com um zelo inabalável. Com tamanha beleza de narrativa, o ato pode ser mal interpretado — ou usado como mau exemplo. Assim, ele nos leva a refletir: o homem que vinga a morte brutal da esposa é mais cruel do que aquele que seduz uma mulher casada, incentivando-a a trair sua família por uma paixão antiga?

No enredo, o casal que sempre desejou viver um romance, mas nunca confessou seus sentimentos, perde a chance quando cada um se casa com outra pessoa. Em outro caso, o homem que perde a esposa assassinada não a tem de volta ao se vingar do criminoso. Ambos os erros precisam ser superados para que haja redenção. O verdadeiro vilão, portanto, é o apego à culpa — seja própria ou alheia — quando ela não é perdoada nem esquecida. Caso contrário, o desejo egoísta e mesquinho será sempre o fio condutor das ações humanas, e a injustiça prevalecerá.

Em uma análise mais profunda, o filme trata a vingança como resposta à frustração causada por amores perdidos, decisões mal resolvidas e falhas da justiça. Tão trágica quanto dolorosa, a vingança não cicatriza — apenas mantém a ferida aberta. É uma solução aparente, mas destrutiva, que rouba a chance de redenção e perpetua o ciclo da dor. Ao assisti-lo, cuidado para não aceitar a vingança como solução imediata. Lembre-se: trata-se de um alerta, não de um erro justificado.

O que aconteceu com os atores após o sucesso?

Além do roteiro primoroso, o filme conta com um elenco memorável que, anos após o lançamento, segue em plena ascensão. Ricardo Darín, um dos maiores nomes do cinema latino-americano, protagoniza atualmente O Eternauta, série da Netflix baseada na icônica HQ de Héctor Germán Oesterheld. A produção se tornou, desde sua estreia em 30 de abril, a mais assistida em língua não inglesa da plataforma, com 10,8 milhões de visualizações.

Crime, desejo e segredos não ditos: um clássico inesquecível do cinema argentino Benjamín (Darín), Irene (Soledad Villamil) e Pablo Sandoval (Guillermo Francella) em "O Segredo dos Seus Olhos" (Foto: Divulgação/Alta Films)

Guillermo Francella, que dá vida ao hilário e trágico Pablo Sandoval, hoje protagoniza Meu Querido Zelador, série mais popular do Disney+ na América Latina. Já Soledad Villamil, par romântico de Darín no longa, brilhou recentemente na minissérie Cilada, que alcançou o topo da Netflix.

Para assistir, rever e refletir

Mais que um drama policial ou um romance interrompido, O Segredo dos Seus Olhos é um espelho da hipocrisia e da impotência diante do passado. O espectador, ao final, é levado a questionar os desfechos dos personagens: um indivíduo que exige justiça, mas trai e engana, está certo? Outro que prega o esquecimento, mas se vinga de forma cruel, é justificável?

É exatamente essa camada extra — emocional, moral e filosófica — que torna o filme ainda mais pertinente. Ele mostra como indivíduos marcados por traumas sociais e existenciais acabam perpetuando os erros que condenam.

O Segredo dos Seus Olhos permanece como uma joia do cinema latino-americano. Seja pela qualidade cinematográfica, pelas atuações impactantes ou pela crítica social refinada, sua relevância só cresce. Agora disponível em streaming, oferece a uma nova geração a chance de conhecer — ou de enxergar, pela primeira vez — os verdadeiros segredos deste clássico.

  • O Segredo dos Seus Olhos 
  • 2009 
  • 129 minutos 
  • Indicado para maiores de 16 anos 
  • Disponível no Prime Video e Brasil Paralelo 

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