Poucos dias após sofrer um atentado, Donald Trump anunciou o candidato a vice em sua chapa presidencial. J.D. Vance, de 39 anos, foi o escolhido, o que surpreendeu muita gente. Isso porque Vance é diferente de um republicano a que estamos acostumados, ou seja, ele não é um sujeito íntimo das elites. O vice de Trump é muito mais um hillbilly, como os americanos se referem aos “caipiras”, do que qualquer outra coisa.
Declaradamente católico, Vance é também um defensor do "pós-liberalismo". Trata-se de uma ideologia que busca superar o liberalismo tradicional, deixando de lado questões como liberdade econômica, e trazendo outras como coesão social, estrutura familiar e o bem comum. E esses são os eixos do seu excelente livro de memórias, Era uma Vez um Sonho (2017, Leya), hoje no topo de vendas da Amazon americana. O filme, de mesmo nome, foi lançado em 2020 com elenco encabeçado por Amy Adams e Glenn Close (indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante) e está na Netflix.
O filme começa com um dos muitos episódios de violência da vida de Vance, em que ele apanha de alguns amigos. Em seguida, vemos sua família, grande e sempre à beira de um conflito, partir de sua cidade natal, Jackson, no Mississippi, em busca de um lugar melhor. Durante boa parte de sua trajetória, ele teve de se acostumar com essa insegurança, tanto emocional, quanto financeira.
A partir daí, o experiente diretor Ron Howard (de Uma Mente Brilhante e O Código da Vinci) alterna entre as cenas da infância e da vida adulta de Vance, buscando estabelecer uma conexão. Porém, erro comum em obras inspiradas em livros, o ritmo é muito apressado e a tal conexão não se efetiva. Também não há espaço para as interessantes reflexões que Vance escreveu em suas memórias.
Há muitos gritos de uma mãe em constante desespero e as cenas de violência doméstica podem ser incômodas. Falta sensibilidade ao diretor para abordar os problemas e, ao final, não entendemos o porquê de tanto sofrimento. O filme também ignora o período decisivo em que Vance serviu na Marinha americana. Parece que em nenhum momento ele tem controle sobre sua vida. No livro, notamos, Vance é muito mais decidido.
Bruto, rústico e sistemático
J.D. Vance se formou em Direito em Yale, uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos. Não sem antes, como vemos no filme, ter de se submeter a olhares de desdém de uma certa elite, capaz de saber usar vários tipos de talheres, mas não de entender profundamente os problemas sociais do próprio país.
No livro, Vance faz uma observação muito reveladora a respeito da ascensão econômica pela qual passou. Segundo ele, “quando você melhora de condição social, também está fugindo de algo”. E esse “algo” sempre vai permanecer com você, em qualquer ambiente que venha a frequentar.
No final das contas, o filme serve como uma introdução às ideias de um candidato a vice-presidente, que certamente terá influência em um provável segundo governo Trump. Vance é um homem de sensibilidade que, com extrema sinceridade, consegue detectar a fundo os problemas do seu país. Problemas que superaram a velha dicotomia, ainda em voga aqui no Brasil, entre pobres e ricos. Para Vance, essas questões a serem superadas também são de natureza espiritual. Esse caipira é diferente.
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