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O Angel Studios, conhecido por seu modelo de financiamento coletivo e por produções como as primeiras temporadas do seriado The Chosen e o filme Som da Liberdade, tem por missão “contar histórias que amplificam a luz”, considerada como “tudo o que é verdadeiro, honesto, nobre, justo, autêntico, amável, admirável, excelente ou digno de louvor.”
Este propósito fica mais evidente com o lançamento recente de A Redenção: A História Real de Bonhoeffer, uma cinebiografia de Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano que desafiou o regime nazista, sendo executado no campo de concentração de Flossenbürg, dias antes do fim da guerra. O filme passou brevemente pelos cinemas brasileiros no fim de 2024, mas já pode ser encontrado para aluguel e compra em serviços de streaming.
Na prisão, Bonhoeffer escreveu sobre a relação entre fé e liberdade, política e religião, e a responsabilidade dos cristãos de agirem contra o mal, mesmo sob risco pessoal, como foi seu caso. Esses escritos foram publicados como Cartas e Documentos da Prisão e embasam quase todo o roteiro do filme, cuja premissa é promissora.
Mas a execução não fica à altura da vida do pastor. A direção é burocrática, as atuações oscilam entre o sofrível e o aceitável, e por vezes as imagens parecem servir apenas de pano de fundo para discursos, não contando uma história. Não há nada que impressione o espectador habituado a cinebiografias de maior calibre.
No entanto, se como cinema não há muito o que destacar, seria injusto descartar completamente a obra quando seu propósito é outro, o de trazer à tona a história pouco conhecida de Bonhoeffer, amplificando sua luz. Nesse aspecto, A Redenção cumpre a tarefa de divulgador histórico, ainda que de forma superficial.
O cristão na sociedade atual
O mais interessante é a reflexão que o filme provoca – propositalmente – sobre o papel do cristão na sociedade atual. Vivemos tempos semelhantes ao da época de Bonhoeffer, com a política alargando seus limites a ponto de se confundir com a religião, não raro com muitos tratando políticos e ideólogos como ídolos intocáveis. O exemplo de Bonhoeffer serve como um contraponto necessário a essa tendência, ajudando a dissolver um pouco dessa confusão espiritual nos cristãos.
O teólogo alemão, em sua luta contra o nazismo, demonstrou que a verdadeira fidelidade a Cristo pode e deve exigir oposição a sistemas políticos injustos, mesmo quando apoiados por líderes religiosos. É uma lição que muitos cristãos contemporâneos fariam bem em revisitar. Infelizmente, o filme não aprofunda essas questões como poderia. Prefere uma abordagem mais segura e palatável, perdendo a oportunidade de provocar um debate mais profundo sobre fé, política e compromisso social.

Em suma, A Redenção: A História Real de Bonhoeffer é um filme que vale mais pelo tema que aborda do que pela forma como o faz. É uma obra que serve mais à educação histórica do que à apreciação cinematográfica. Para quem busca conhecer a história de Bonhoeffer, é um ponto de partida – no fim do filme há até um QR Code para o espectador saber mais e melhor. Mas para quem busca uma experiência cinematográfica memorável, é melhor procurar em outro lugar.
O que temos é um esboço tímido de uma vida extraordinária. Talvez seja hora do cinema cristão ousar mais, tanto na forma quanto no conteúdo. Afinal, se a fé deve inspirar e desafiar, por que o cinema sobre ela deveria ser diferente? Por enquanto, fica a sensação de oportunidade perdida. A história de Dietrich Bonhoeffer merecia um filme mais digno de sua coragem.
- A Redenção: A História Real de Bonhoeffer
- 2024
- 133 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível para locação e compra na Amazon e AppleTV





