Ainda neste mês, o lendário guitarrista britânico Eric Clapton fará apresentações em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, para a surpresa de muitos que não esperavam ter nova chance de vê-lo ao vivo, já que sua aposentadoria foi cogitada anos atrás. E não é toda hora que esse deus das seis cordas visita nosso país – ele veio apenas três vezes: em 1990, 2001 e 2011. Para quem está com o ingresso garantido, assistir ao documentário Eric Clapton: Life in 12 Bars, disponível no Globoplay pelo pacote + Canais, pode funcionar como um bom esquenta.
Dirigido por Lili Fini Zanuck, com quem Clapton colaborou na década de 1990, o longa esmiúça a trajetória do guitarrista de maneira bastante tradicional. O documentário aborda sua história desde a infância até meados dos anos 2010. Para isso, a diretora utiliza de imagens de arquivos, entrevistas antigas com figuras como Jimi Hendrix e B.B. King, além de narrações do próprio Clapton.
Por essa escolha, com pouco material inédito de Clapton em vídeo, Life in 12 Bars está longe de merecer a nota máxima. Ainda assim, o conteúdo oferece muitos insights a respeito da personalidade e da carreira do 35º melhor guitarrista da história, segundo a polêmica lista recente da revista Rolling Stone – obviamente, ele deveria estar no top 10.
Não faltam curiosidades sobre Clapton ao longo das mais de duas horas de material. A película relembra que o músico foi criado por seus avós, e que só depois de algum tempo ele descobriu que sua irmã era, na verdade, sua mãe. Também é mostrado que o pequeno Eric era garoto introvertido, apesar de bastante criativo, autor de desenhos e até de histórias em quadrinhos.
Mais adiante, o espectador entende como ele chegou na guitarra e sua inspiração em levar o blues de B.B. King para uma nova geração. A referência permeia o documentário, com Clapton recomendando o disco Live at the Regal para quem não conhece o bluesman que foi o seu farol.
Auge setentista
Boa parte de Life in 12 Bars foca a produção do músico ao longo da década de 1970, quando foi mais prolífico e influenciou muitos outros guitarristas. Antes da carreira solo, ele tocou com as bandas Cream e Blind Faith nos idos de 60, grandes referências do rock clássico.
Nessa parte, vemos sua rotina ao lado de gigantes da música, como Steve Winwood, Ginger Baker e George Harrison, amigo com quem se envolveu em uma de suas polêmicas mais famosas: Clapton casou-se com Pattie Boyd, que ele conheceu quando ela ainda era namorada do Beatle autor de Something.
Além desse elemento, que é mais ligado ao universo da fofoca e das piadas, o longa-metragem aborda a relação do britânico com o álcool e as drogas. Por muitos anos ele consumiu grandes quantidades de bebida e de cocaína (como era de se esperar de alguém famoso pela gravação de Cocaine). Mas o documentário não faz juízo de valor, apenas descreve a luta de Clapton pela redenção e a chegada da sobriedade.
Lágrimas no céu
Como também era de se esperar, Life in 12 Bars relata a principal tragédia da vida do guitarrista: a morte do filho Connor, aos quatro anos, em 1991. O filme escancara toda a dor que o músico sentiu e a forma encontrada para lidar com o luto.
Sóbrio três anos antes do ocorrido, Clapton não voltou às drogas, como poderia acontecer em uma situação dessas. Felizmente, ele fez o que sabia de melhor, que foi pegar o violão e compor uma música.
O resultado é a belíssima Tears in Heaven, destaque na trilha sonora do filme Rush – Uma Viagem ao Inferno, dirigido pela própria Lili Fini Zanuck. A música também foi um hit do álbum Unplugged, gravado em parceria com a MTV, que deu novo sopro para sua carreira na década de 1990.
Depois de apresentado esse destaque, Life in 12 Bars acelera pela velhice de Clapton, chegando ao festival Crossroads, criado por ele em 2007 para financiar um centro de tratamento para viciados em drogas. Fica de fora a fase mais recente de sua trajetória, em que ele tem se mostrado cada vez mais ousado em seus posicionamentos – que vão desde críticas às vacinas contra a Covid-19 ao uso de uma guitarra Fender com as cores da bandeira da Palestina.
Mas não tem problema. Para quem só quer se animar antes do show, o documentário faz um bom serviço. Apresenta o principal de sua vida e embala as cenas com mais de 20 músicas de seu repertório, cobrindo desde The Yardbirds (sua primeira banda) até sua carreira solo nos anos 90. É um produto sem grandes pretensões, mas que entrega o que promete: um bom resumo sobre quem é Eric Clapton.
- Eric Clapton: Life in 12 Bars
- 2017
- 133 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Disponível no Globoplay
Deixe sua opinião