O documentário Caos e Ordem: A Ascensão de Jordan Peterson conta uma história tão antiga quanto a de Sócrates, que morreu 2.400 anos atrás: ao buscar a verdade acima de tudo, um pensador acaba se tornando um inimigo do regime e se dispõe a pagar um preço alto por isso.
Disponível no serviço de streaming da Lumine, o filme lançado em 2019 mostra como Peterson identificou, na origem, a emergência do politicamente correto na virada de 2010. Os campi universitários nos Estados Unidos e Canadá sempre tiveram uma inclinação à esquerda – mas, historicamente, uma esquerda libertária que entendia a importância da liberdade de expressão. Isso mudou na década passada.
A equipe da diretora Patricia Marcoccia começou a acompanhar Peterson em 2015. Na época, ela estava interessada na obra acadêmica dele, um autor respeitado no campo da Psicologia. Mas, no ano seguinte, Peterson alcançou notoriedade internacional por outro motivo: ele era o professor da Universidade de Toronto que se recusava a seguir novas regras criadas para acomodar alunos que se identificavam como seu gênero. Peterson não aceitava tratar os estudantes pelos pronomes escolhidos por eles. Ele deixava claro que o seu alvo não eram os alunos em si, mas a tentativa de limitar a sua liberdade de expressão. “Não reconheço que outra pessoa tenha o direito de determinar quais pronomes eu uso para me dirigir a ela. Não vou fazer isso”, Peterson explica, em uma fala exibida no documentário.
Mas, como o filme mostra, Peterson é muito mais do que um polemista: ele é um personagem intrigante e inquieto, que encontrou uma audiência leal sobretudo entre homens jovens. O documentário traz um relato sincero de quem é Peterson e o que ele pensa: um homem amoroso com a família, energético em sala de aula, e intransigente com manifestantes em debates. Mas também traz um Peterson introspectivo, sincero sobre sua luta contra uma depressão recorrente. Ao ouvir desafetos do autor canadense e não carregar no tom ideológico, Patricia Marcoccia oferta uma visão equilibrada de Peterson.
Em sua batalha pela liberdade de expressão, o autor mais perdeu do que ganhou. Em 2017, o Canadá implementou uma norma que criminaliza o “discurso de ódio” contra transgêneros – o que inclui o uso de “pronomes errados”. Neste ano, o estado americano do Michigan fez o mesmo. Nas universidades, as regras contra o uso de “pronomes errados” se tornaram onipresentes. E, já aposentado da Universidade de Toronto, Peterson foi recentemente forçado a participar de um programa de “reeducação” por determinação do Conselho de Psicologia do Canadá, que questiona (dentre outras coisas) a recusa dele em usar o pronome indicado por pessoas que se identificam como transexuais. Ainda assim, como consta no filme, nem tudo foi em vão: Jordan Peterson ajudou muitos jovens a entender que a liberdade de expressão é um pré-requisito para a resolução de problemas de forma coletiva.
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