“A Yoko acabou com os Beatles.” Há anos essa afirmação polêmica flutua no imaginário da música. A imagem da artista japonesa Yoko Ono invadindo as gravações do grupo reforça a teoria, que até já virou piada em um episódio de Os Simpsons. Essa visão começou a mudar em 2021, quando o cineasta Peter Jackson lançou a série documental Get Back. A partir daí, muitos beatlemaníacos se ligaram que o problema estava nos gênios fortes dos músicos, especialmente de Paul McCartney e George Harrison.
Acontece que isso não deveria ter sido tratado como novidade. Tudo o que Jackson fez foi reorganizar e remasterizar o material gravado pelo diretor Michael Lindsay-Hogg quando a banda já estava caminhando para sua separação. Foi Lindsay-Hogg quem lançou, em 1970, o documentário Let It Be (sim, homônimo ao disco do quarteto). A película setentista chegou agora ao streaming, pelo Disney+, e está sendo bastante debatida por crítica e fãs.
Enquanto o Get Back se tornou uma febre mundial por disponibilizar quase oito horas de conteúdo dos Beatles, o documentário original de Lindsay-Hogg por anos foi considerado “perdido”. Ele estava em uma espécie de limbo jurídico há mais de meio século e não tinha apoio de nenhum dos músicos. Essa falta de carinho do quarteto de Liverpool ficou escancarada em 1971, quando ganharam o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original por Let It Be, porém preferiram furar a badalada cerimônia. “Para mim, não há muita alegria nele”, chegou a afirmar o baterista Ringo Starr, em uma entrevista recente para a agência de notícias da Associated Press, aproveitando o relançamento do filme.
Com 1 hora e 21 minutos de duração, a película original realmente trazia um clima tenso, revelando as discussões entre os quatro e um Macca ditador, tentando controlar o que restava da banda. Ringo aparece em muitas cenas apático, provavelmente por ser aquele que sempre evitou dramas e permaneceu focado na música. Já George nitidamente busca se provar como compositor talentoso, mas ainda é tratado como um irmão mais novo. E John Lennon... Bem, ele está lá com Yoko, lutando contra uma crise de inspiração para tentar finalizar suas composições, caso da bela Across the Universe.
Apesar de retratar o fim abrupto do grupo que já não se aguentava mais, também há momentos descontraídos em Let It Be. Dancinhas, caretas e piadas dominam muitas cenas, só que em uma porcentagem muito menor do que no Get Back lançado por Jackson. Não é à toa que o documentário foi um fiasco em seu lançamento, com o jornal The Guardian afirmando que o mesmo era um “tédio”.
Da Líbia para o telhado
O lançamento de Get Back há três anos eclipsou o trabalho de Lindsay-Hogg. As imagens eram dele, mas muito foi falado sobre como diretor de O Senhor dos Anéis usou de uma maneira positiva as tecnologias de inteligência artificial. Também elogiaram sua capacidade de oferecer uma visão mais ampla dos fatos ocorridos nas últimas sessões de gravações da banda; requisito mínimo para um produto audiovisual de quase oito horas. O trabalho de Jackson ganhou ainda mais prestígio quando ele ajudou Paul e Ringo a terminarem Now and Then, a suposta última canção dos Beatles, lançada no ano passado. Mas só um verdadeiro beatlemaníaco para aceitar assistir a oito horas de conversas e músicas tocadas com vozes engraçadas ou até pela metade.
Por isso, o relançamento de Let It Be cumpre sua função. O documentário de 1970 mostra o principal do que está nas oito horas de Jackson e consegue entreter e retratar o fim do grupo em menos tempo, mesmo que de maneira imperfeita. Também traz um reconhecimento tardio para Michael Lindsay-Hogg, hoje com 84 anos, principalmente por meio de uma introdução inédita feita para o produto do Disney+.
Nela, Jackson entrevista Lindsay-Hogg, discutindo a importância do trabalho de gravar em vídeo naquele momento da banda. O papo é bastante honesto e mostra que ambos os cineastas entendem que seus trabalhos são complementares. E o bacana é que Jackson não evita a pergunta sobre a ideia mais furada de Let It Be: o diretor original queria gravar o último show dos Beatles em um anfiteatro de Trípoli, a capital da Líbia, “iluminado por tochas! Na frente de 2 mil árabes!”. Uma pena que essa cena não exista, mas o show no telhado da Apple até que dá para o gasto.
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