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O escândalo envolvendo Jeffrey Epstein chocou o mundo em 2019 e, mesmo anos depois, ainda repercute em escala global. Nesse tempo todo, diversas investidas, entre reportagens e documentários, tentam desvendar os detalhes da rede de exploração sexual de menores articulada pelo mega-financista americano.
Dentre os principais trabalhos, a minissérie documental Jeffrey Epstein: Poder e Cobiça é talvez o mais completo e profundo. Disponível na Netflix, a obra lançada em 2020, meses após a morte de Epstein na prisão, reconstitui em quatro episódios de cerca de uma hora os detalhes de uma intrincada trama que envolve personagens da elite mundial.
O caso de Epstein é emblemático por escancarar como estruturas inteiras — jurídicas, políticas, midiáticas — colaboraram para a manutenção de um predador em operação por anos. A história também espanta pelo número de pessoas poderosas que se relacionaram com Epstein, mesmo após denúncias públicas, protegendo-o por interesses econômicos e estratégicos.
Mais do que contar a história de um criminoso poderoso, o documentário busca revelar as relações que permitiram a manutenção de um ciclo de violência que vitimou dezenas de mulheres. A série é dirigida por Lisa Bryant e produzida por Joe Berlinger, conhecido por diversas obras sobre crimes reais.
O esquema detalhado
Ao longo dos episódios, o espectador é apresentado a depoimentos de mulheres que relatam como foram aliciadas ainda na adolescência, geralmente em contextos de vulnerabilidade social e emocional. Promessas de dinheiro fácil para realizar massagens se transformaram em abusos sexuais sistemáticos.
As jovens aliciadas eram incentivadas e premiadas caso conseguissem recrutar outras meninas, um processo que transformava vítimas em parte do mecanismo liderado por Epstein e a esposa dele, a socialite britânica Ghislaine Maxwell. Impressiona a repetição dos padrões nos relatos das vítimas entrevistadas.
O primeiro episódio, Zona de Caça, mostra como a casa de Epstein, em Palm Beach, na Flórida, funcionava como uma espécie de central de recrutamento e abuso. Ex-funcionários, policiais e sobreviventes descrevem a logística envolvida, desde a manipulação psicológica até os pagamentos em dinheiro vivo.
O segundo capítulo se concentra nas origens obscuras da fortuna de Epstein. Empresário sem trajetória transparente nos mercados, o americano se tornou conhecido por administrar dinheiro de milionários e frequentar os círculos mais altos do poder — de políticos a cientistas, de presidentes dos EUA, como Bill Clinton e Donald Trump, a membros da realeza britânica.
O terceiro capítulo leva o espectador à ilha particular de Jeffrey Epstein no Caribe, um lugar que ficou conhecido como “ilha da pedofilia”, onde abusos ocorriam longe dos olhos da justiça. O documentário mostra como o isolamento geográfico servia para dificultar qualquer fiscalização e como essa ilha se tornou parte da engrenagem internacional dos crimes cometidos.

Por fim, A voz das Vítimas, o último episódio, retrata a prisão de Epstein em 2019, seu breve período sob custódia federal e o impacto de sua morte em circunstâncias altamente controversas numa cela de segurança máxima. Mesmo após sua morte, as vítimas conseguiram se manifestar em audiência pública, onde puderam finalmente ser ouvidas por juízes, advogados e pela sociedade.
Jeffrey Epstein: Poder e Cobiça se destaca pela sobriedade narrativa. Não há reconstituições dramatizadas nem trilhas sonoras apelativas. A força do material está nos depoimentos, nos documentos exibidos e na clareza da exposição dos fatos. Mas a história, como se vê no noticiário, ainda está longe de terminar.
- Jeffrey Epstein: Poder e Perversão
- 2020
- 4 episódios
- Indicado para maiores de 18 anos
- Disponível na Netflix
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