O humorista Jô Soares, que também era escritor, apresentador, diretor e ator, morreu em São Paulo, na madrugada desta sexta-feira (5). Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês desde 25 de julho para tratar uma pneumonia. A causa da morte não foi confirmada. Jô Soares tinha 84 anos.
A informação sobre o falecimento foi postada por Flávia Pedras Soares, ex-mulher do humorista, por meio das redes sociais. Segundo ela, o funeral será reservado para familiares e amigos próximos. No Instagram, ela escreveu a seguinte mensagem:
“Faleceu há alguns minutos o ator, humorista, diretor e escritor Jô Soares. Nos deixou no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, cercado de amor e cuidados. O funeral será apenas para família e amigos próximos.
Assim, aqueles que através dos seus mais de 60 anos de carreira tenham se divertido com seus personagens, repetido seus bordões, sorrido com a inteligência afiada desse vocacionado comediante, celebrem, façam um brinde à sua vida.
A vida de um cara apaixonado pelo país aonde nasceu e escolheu viver, para tentar transformar, através do riso, num lugar melhor.
Viva você meu Bitiko, Bolota, Miudeza, Bichinho, Porcaria, Gorducho. Você é orgulho pra todo mundo que compartilhou de alguma forma a vida com você. Agradeço aos senhores Tempo e Espaço, por terem me dado a sorte de deixar nossas vidas se cruzarem. Obrigada pelas risadas de dar asma, por nossas casas do meu jeito, pelas viagens aos lugares mais chiques e mais mequetrefes, pela quantidade de filmes, que você achava uma sorte eu não lembrar pra ver de novo, e pela quantidade indecente de sorvete que a gente tomou assistindo.
Obrigada para sempre, pelas alegrias e também pelos sofrimentos que nos causamos. Até esses nos fizeram mais e melhores. Amor eterno, sua, Bitika”, disse a ex-mulher de Jô Soares.
Carreira
José Eugênio Soares, o Jô Soares, nasceu em 16 de janeiro de 1938, no Rio de Janeiro. Era filho único do empresário paraibano Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Pereira Leal. Estudou na Suíça e nos Estados Unidos, falava seis línguas e queria ser diplomata, plano que abandonou para se dedicar à carreira artística.
Foi ator de teatro, cinema e televisão, além de roteirista, diretor e escritor. Interpretou dezenas de personagens humorísticos, com seus conhecidos bordões, e se tornou o mais famoso apresentador de programa de entrevista da TV brasileira.
Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Jô Soares trabalhou em emissoras como Continental, TV Rio, Tupi, Excelsior, Record, SBT e na Globo. Fez sucesso em programas humorísticos como o “Viva o Gordo”, transmitido pela Globo nos anos 80. Posteriormente, passou a ser apresentador de talk-shows. De 1988 a 1999, estrelou o “Jô Soares Onze e Meia”, no SBT. Depois voltou à Globo e comandou o “Programa do Jô” entre 2000 e 2016. Em quase três décadas, fez cerca de 15 mil entrevistas.
Como escritor, Jô Soares publicou uma coletânea de crônicas e alguns romances, entre eles O Xangô de Baker Street (1995), que figurou na lista de mais vendidos e foi adaptado para o cinema. Escreveu para as revistas Manchete e Veja e para os jornais O Globo e Folha de S. Paulo. Em 2016, foi eleito para a Academia Paulista de Letras.
Personagens
Torcedor fanático do Fluminense, Jô Soares era apaixonado por futebol e esteve entre os quase 200 mil torcedores presentes ao Maracanazzo, na final da Copa de 1950. Em 1982, quando a Seleção Brasileira era comandada por Telê Santana, o humorista deu voz ao clamor da torcida com o personagem Zé da Galera, no programa "Viva o Gordo". “Bota ponta, Telê!”, dizia ele, ligando para o técnico de um orelhão, em referência à ausência de um ponta-direita no time.
O nome do programa foi inspirado na peça “Viva o Gordo e Abaixo o Regime!”, em que fazia críticas veladas à ditadura. Outros de seus personagens marcantes são o Reizinho, sempre preocupado com os problemas do reino (uma sátira à situação política do Brasil) e o Capitão Gay, um super-herói homossexual que usava uniforme cor de rosa e andava com seu ajudante Carlos Sueli.
Os bordões dos personagens de Jô Soares ficaram famosos entre a população brasileira, como "Cala-te boca, tem pai que é cego" (sobre um pai que fingia não notar que o filho era homossexual), "É o meu jeitinho" (de um tímido e desengonçado Rochinha, que andava com um mulherão, causando inveja nos homens), "Cala a boca, Batista" (do Irmão Carmelo, que não deixava seu dentuço colega de sacristia falar).
Em seus programas de entrevista, costumava usar o “Não querendo te interromper, e já interrompendo…” e encerrava com o saudoso "Beijo do Gordo". Pelo sofá passaram políticos, personalidades e figuras anônimas, do Brasil e do exterior. Na Globo, uma das entrevistas da estreia do programa foi com o jornalista Roberto Marinho, fundador da emissora, gravada nos jardins de sua residência.
Depois de 16 anos no ar, Jô Soares se emocionou na despedida do talk-show, ao entrevistar o cartunista Ziraldo. "Que alegria ver tantos amigos queridos aqui na plateia. O programa só durou esse tempo todo graças a essa equipe. Minha vida realmente mudou graças à plateia, sem vocês eu não existo. A todo esse pessoal, meu eterno beijo do Gordo".
Homenagens
Nas redes sociais, famosos postaram homenagens a Jô Soares, nesta sexta-feira. “Jô era um grande amigo, inteligente, perspicaz, bem humorado e adorava uma boa conversa. Acordo muito triste com a notícia de que essa grande estrela nos deixou. Apesar daquela famosa fala do filme, não, eu não sou Jô Soares. Mas como profundo admirador, eu adoraria ter sido”, lamentou o ex-jogador Pelé, pelo Twitter.
"O Fluminense lamenta profundamente a morte do apresentador, humorista, ator e escritor Jô Soares, um dos principais nomes do cenário cultural brasileiro e Tricolor de coração. Desejamos muita força aos amigos e familiares", tuitou o clube do coração de Jô.
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