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“Eu queria ter coisas ruins para falar dele. Mas esse é o problema ao falar do John. As pessoas não conseguem falar mal dele. Espero que este documentário encontre alguém que tenha algum podre dele”, diz o ator Bill Murray, logo na abertura de John Candy: Eu Me Amo, filme sobre o comediante canadense.
Murray e Candy foram amigos e trabalharam juntos. E, à primeira vista, pode parecer monótona e desinteressante a vida de alguém sobre quem não há absolutamente nada de ruim a dizer. Não é o caso da trajetória de Candy, ator de ao menos uma dezena dos filmes de comédia mais bombados dos anos 80 e início dos 90.
Se você já passou dos 40 anos, conhece a graça e o carisma do grandalhão nascido em Toronto, no Canadá, em 1950. Candy começou a escrever sua história na televisão do país, uma das estrelas do Second City, um programa de esquetes ultra popular que revelou artistas em série, ao estilo do Saturday Night Live americano e do TV Pirata brasileiro.
O canadense já havia atuado em produções menores no cinema quando, finalmente, ganhou a primeira grande chance na telona. Encantado pelo carisma de Candy, Steven Spielberg, que àquela altura já explodira como o diretor de Tubarão, o convidou para um papel pequeno em 1941 - Uma Guerra Muito Louca, lançado em 1979.
Mas foi em 1984 que a carreira do versátil ator cômico mudou de patamar, ao interpretar o irmão do personagem de Tom Hanks em Splash - Uma Sereia em Minha Vida. A elogiada atuação na comédia típica da Sessão da Tarde brasileira alçou Candy à condição de participante quase obrigatório em todos os lançamentos mais importantes do gênero na década.
O encontro com Culkin
Vieram Chuva de Milhões (1985), com Richard Pryor, Spaceballs - Tem um Louco Solto no Espaço (1987), dirigido por Mel Brooks, Antes Só do que Mal Acompanhado (1987), com Steve Martin, Quem Vê Cara Não Vê Coração (1989), de John Hughes e o sucesso brutal Esqueceram de Mim (1990), para citar somente os mais conhecidos. Teve bem mais.
Como se vê, e não por acaso, graças ao seu talento, Candy esteve ao lado de uma série de figuras do primeiro escalão de Hollywood. O documentário traz o depoimento de várias delas. Mas nenhuma fala é mais forte do que a de Macaulay Culkin, talvez o maior astro mirim de todos os tempos do cinema. Aos 45 anos, desde 1994 afastado do show business, o americano faz uma revelação.

Culkin recorda o respeito e o profissionalismo com que Candy tratava as crianças no set (ele contracenou algumas vezes com os pequenos ao longo da carreira). E conta que, antes de todos à sua volta, foi o canadense quem percebeu o comportamento perturbador de seu pai, Kit Culkin, com quem o ator mirim cortou relações posteriormente.
“Ele [Kit Culkin] já não era um cara legal. Acho que John [Candy} estava com um olhar meio de lado, tipo: 'Está tudo bem aí? Você está bem? Bom dia? Está tudo bem? Tudo bem em casa?”, revela Macaulay. Em Quem Vê Cara Não Vê Coração, Candy e Culkin fizeram uma dupla entrosada e estiveram juntos no mega triunfo de Esqueceram de Mim.
Abusos e tragédias
Se ninguém tem nada para falar mal de Candy, e aparentemente com razão, não quer dizer que a vida do comediante não foi difícil e marcada por tragédias. O pai do canadense morreu com somente 35 anos, de uma doença cardíaca, quando o filho tinha 5 anos. Um episódio traumático que nunca recebeu a devida importância na vida do ator.
O irmão de Candy, Jim, também enfrentou problemas cardíacos ainda jovem, e a chance de uma morte precoce assombrava o artista. Especialmente, por causa de suas conhecidas compulsões: o ator era viciado em tabaco, álcool e cocaína e passou a vida inteira atormentado pelo sobrepeso, que acabou virando uma marca pessoal.
Ele chegou aos 170kg e toda essa situação o fazia sofrer de uma ansiedade crônica, que por diversas vezes o paralisou. Nas imagens de arquivo em que Candy é questionado, em entrevistas, sobre se fazia seus esforços para perder um pouco de peso, são justamente os momentos em que ele aparece visivelmente perturbado e vulnerável.
O documentário do diretor Colin Hanks, filho de Tom Hanks, peca em não se aprofundar nos temas mais complicados, principalmente porque o comportamento abusivo de Candy acabou relacionado à sua morte. Quando gravava no México, em 1994, o comediante sofreu um infarto fulminante, aos 43 anos. O canadense deixou a esposa e dois filhos e, infelizmente, terminou a vida como tragédia.
- John Candy: Eu Me Amo
- 2025
- 112 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível no Prime Video e Apple TV+
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