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Diego Luna e Gael García Bernal são os dois principais atores surgidos no cinema mexicano desde os anos 2000. Juntos, ganharam fama no filme E sua Mãe Também, dirigido em 2001 por Alfonso Cuarón. Tornaram-se grandes amigos no set daquele filme e ainda colaboraram em Fidel, Rudo e Cursi e Casa de Mi Padre. A amizade é tanta que, há 14 anos, durante uma noite regada a drinques, tiveram a ideia de fazer uma série sobre um boxeador em fim de carreira e seu agente. Esse roteiro finalmente chegou ao streaming em forma de seriado.
Disponível no Disney+, A Máquina mostra o relacionamento conturbado entre Esteban “La Máquina” Osuna e Andy Lujan, o lutador vivido por Bernal e o manager encarnado por Luna, respectivamente. Após um nocaute vergonhoso, a dupla luta para conseguir uma revanche e limpar a história até então imaculada do pugilista.
Na seara audiovisual, acompanhar um boxeador em momento deprimente da carreira não é nenhuma novidade – basta assistir a Touro Indomável ou Rocky para esbarrar com isso. A Máquina se diferencia por seu teor dramático. Além de tentar reconstruir a reputação, Osuna batalha para manter a sobriedade e lida com danos neurológicos causados por anos de lutas. Já no primeiro episódio, ele começa a ouvir vozes e ter lapsos de memória.
Lujan, um personagem enérgico e viciado em aplicar botox no rosto, precisa tourear a gangue Otras Personas. Essa organização criminosa está cobrando uma dívida e quer que Osuna perca sua aguardada revanche para conseguir faturar uma nota preta. A partir disso, os amigos se encontram diante de uma difícil decisão – que aqui não será revelada para não estragar a surpresa.
Anti-fábula sobre a liberdade
Com os dois polos da história se desdobrando ao mesmo tempo, o espectador acompanha muitas reviravoltas e a inclusão de outras situações que fazem tudo escalar exponencialmente. O mais bacana é que o roteiro foge de conclusões previsíveis ou precipitadas.
“Queríamos fazer uma anti-fábula em que perder é ganhar sua liberdade”, contou Bernal em entrevista conjunta com Luna ao portal americano Vulture. No bate-papo, os amigos explicaram que se dedicaram por mais de dez anos no roteiro, que por pouco não virou um filme há oito anos.
“Muitos dos elementos com os quais trabalhamos estão desde esse primeiro roteiro. Essa coisa de conseguir a liberdade por meio da derrota foi uma ideia abstrata que sempre tivemos”, complementou Luna. “O sacrifício do amigo também é algo que sempre existiu – essa amizade tão desequilibrada precisa desse sacrifício para acertar as coisas.”
Apesar do desequilíbrio, mais adiante, o espectador entende que os amigos nutriam um carinho fraternal, o que deve agradar aos fãs de E sua Mãe Também. “Estávamos pensando muito em E sua Mãe Também, em relação ao rigor que colocamos no nosso trabalho, no tempo que levamos para tomar decisões, na especificidade que queríamos encontrar, na equipe com quem trabalhávamos”, disse Luna na entrevista. Mas a relação entre os personagens de A Máquina é completamente diferente da abordada no filme de Cuarón, segundo o ator.
“A beleza de trabalharmos juntos a cada 10 anos é que somos diferentes. Não sabemos o que teria acontecido com os caras do E sua Mãe Também vinte anos depois. Provavelmente, podemos encontrar um paralelo, mas não acho que isso tenha feito parte da nossa conversa sobre a série.”
Mesmo com enredos diferentes, os dois trabalhos atestam a importância de se cultivar boas amizades. A história do boxeador e seu agente reaproximou Bernal e Luna em mais um bom produto.
- A Máquina
- 2024
- Seis episódios
- Indicado para maiores de 16 anos
- Disponível no Disney+
