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“O Demônio: Mito ou Realidade?” investiga aquele que é a personificação do mal

"O Demônio" chega ao Brasil graças à iniciativa da Minha Biblioteca Católica
O livro chega ao Brasil graças à iniciativa da Minha Biblioteca Católica (Foto: Divulgação Natália Pegorerr)

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“Bem raros são, entre os cristãos de nosso tempo, os que creem real e efetivamente no Demônio”, escreveu Henri-Irénée Marrou em 1948, num famoso estudo especial dos Études Carmelitaines sobre Satanás.

Quem o cita é um aluno seu, René Laurentin, que em 1995 publicou sua obra O Demônio: Mito ou Realidade?, considerada indispensável para qualquer estudioso ou curioso sobre o tema e que agora recebe sua primeira edição brasileira por meio de um fenômeno editorial crescente e fascinante: os clubes de leitura por assinatura. A Minha Biblioteca Católica, que nos brinda com esta primeira tradução ampliada, destaca-se como o maior do Brasil em seu nicho, evidenciando como esses clubes não apenas democratizam o acesso a obras raras ou inéditas, mas também cultivam comunidades de leitores e reconfiguram o próprio mercado editorial, oferecendo uma curadoria que vai além da simples transação comercial, entregando uma experiência de formação integral.

"O Demônio" é um bom exemplo de um fenômeno editorial crescente e fascinante: os clubes de leitura por assinaturaO livro é um bom exemplo de um fenômeno editorial crescente e fascinante: os clubes de leitura por assinatura (Foto: Divulgação Natália Pegorerr)

E, no caso desta obra de Laurentin, não apenas para cristãos. Seguindo citando seu professor, o autor destaca: “a impressão de incômodo e desconforto que a ideia da existência do Diabo causa ao homem comum de hoje. Mesmo André Gide irritava frequentemente seu público, seja protestante ou católico, pela insistência com que utilizava a noção de Demônio; no entanto, isto não passava de um tema mitológico para ele; mas, mesmo reduzido ao estado de mito, nossos contemporâneos não gostam de ouvir falar de Satanás.”

Laurentin publicou sua obra quase 50 anos depois, quando a redução de Satanás ao estado de mito estava praticamente consolidada. É precisamente desta constatação que seu livro se inicia, em um dos capítulos mais interessantes ao homem contemporâneo, cristão ou não, quando apresenta as posições psicologizantes sobre o Demônio, as que o tratam como mero símbolo ou arquétipo, além das que o tomam apenas como uma personificação do mal.

Um presidente que governa sem aparentar

Nos capítulos seguintes o autor repassa pela revelação gradual do Demônio desde o Antigo Testamento até a atualidade, retomando o diálogo com a contemporaneidade a partir do capítulo XII, em que pergunta se o Demônio existe, se age e se seria necessário derrotá-lo. É quando enfrenta as críticas reducionistas e negacionistas, fazendo a crítica da crítica, não apenas no plano teológico, mas, principalmente, no filosófico, concluindo que o reducionismo e negacionismo do Demônio levou a uma ignorância sobre sua ação, favorecendo amplamente uma proliferação do mal que dificilmente se explica sem sua presença.

É no capítulo sobre esta ofensiva do Demônio que o leitor, se até aqui não estava convencido, no mínimo passa a ter sérias dúvidas se não deveria acreditar na existência do Diabo. O autor expõe o maior êxito do Demônio na época moderna, que é ter substituído sua ação direta que gera medo por “uma ação orgânica anônima, invisível e, portanto, tranquila, que avança no tecido social, sem ruído e sem a marca do príncipe deste mundo, por meio de seus agentes humanos bem estabelecidos em postos estratégicos. Tudo se passa como se ele tivesse adotado o estilo de um presidente e diretor-geral discreto que governa sem aparentar.”

O resultado, segundo Laurentin, é a eliminação de Deus, com a substituição do teísmo pelo chamado humanismo. Isso levou a uma “cancerização filosófica” das ideias sobre a realidade, que, por sua vez, 'pariu' as ideologias, “frutos perversos do idealismo”. Citando a ironia de André Frossard, “se o príncipe deste mundo existisse, aconteceria o que acontece hoje”, deixo por conta da curiosidade do leitor descobrir, no livro, que acontecimentos são esses, que culminam com uma irrupção do atual satanismo explícito, com o autor não se furtando a tratar de figuras como Aleister Crowley, Kenneth Grant, Charles Manson e também igrejas satanistas (algumas reconhecidas oficialmente, como o foi a Igreja de Satanás no estado da Califórnia).

O diabo é o pai do rock

Seria uma contradição abordar Aleister Crowley sem mencionar o rock'n'roll. O autor se demora em várias páginas tratando da relação do guru com figuras icônicas do rock, também sobre o gênero em si, citando algumas músicas, discos, supostas mensagens subliminares. Talvez seja a parte mais controversa (e polêmica) do livro, com a generalização sendo bastante discutível, o que não significa diminuir os riscos e negar os efeitos apontados do que não seria um “entretenimento inofensivo”.

Por fim, o autor faz um questionamento sobre o exorcismo e o futuro do ritual, discorre sobre a atuação do Demônio do ponto de vista prático, por meio das suas armas da tentação e possessão. A estas contrapõe as armas do cristão para o combate espiritual, das ordinárias da oração, jejum e sacramentos, até a extraordinária, “a arma suprema e vitoriosa” que é o exorcismo, cuja prática ritual é esclarecida no capítulo derradeiro da obra.

Se a leitura é indispensável a estudiosos e curiosos, o correr do tempo nestes 30 anos depois de lançada revela que ela se destina também a qualquer um que queria entender melhor a cultura em que vivemos, “confusamente atolada” em paradoxos impossíveis de discernir sem (re)conhecer a ação do Demônio. Até porque, como disse o autor: “É na essência do mistério do mal e do mistério da condenação que também está um mistério de amor”, pois “ainda que O combatam e se oponham a Ele, continua Deus a amar suas criaturas desviadas e manter-lhes a existência e a liberdade de más escolhas.”

O livro de René Laurentin foi lançado originalmente em 1995 e sai agora no BrasilA obra de René Laurentin foi lançada originalmente em 1995 e sai agora no Brasil (Foto: Divulgação Natália Pegorerr)

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