Há quase 50 anos, mais precisamente em 1º de outubro de 1974, um filme de orçamento modesto estreou em Austin, no Texas. Era um thriller de terror chamado “O Massacre da Serra Elétrica” (literalmente, seria O Massacre da Motosserra do Texas, mas a tradução brasileira transformou a serra em “elétrica” e aboliu a referência geográfica).
Com um orçamento ridículo, de cerca de US$ 100 mil (cerca de R$ 600 mil hoje em dia), o filme arrecadou, só nas bilheterias americanas, cerca de 300 vezes o seu custo, tornando-se o 12º filme mais visto nos Estados Unidos em 1974. Somando as bilheterias obtidas no resto do mundo, O Massacre da Serra Elétrica foi um dos filmes mais rentáveis de todos os tempos, proporcionalmente aos custos.
Dirigido e escrito, em parceria com Kim Henkel, por um jovem cineasta de 30 anos, Tobe Hooper, o filme se tornou um marco do cinema de horror, influenciando uma imensa linha de filmes slasher, obras sangrentas em que um assassino poderoso faz picadinho de jovens indefesos. Franquias como A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13 e Pânico devem tudo a O Massacre da Serra Elétrica.
Na verdade, o filme de Hooper não inventou muita coisa, ele apenas adaptou um gênero que estava pipocando desde os anos 1960, o terror gore, uma vertente mais sanguinolenta e explícita do terror, que já existia desde filmes como Blood Feast (Herschell Gordon Lewis, 1963) e o clássico filme de zumbi A Noite dos Mortos-Vivos (George Romero, 1968), e lhe deu uma roupagem mais moderna e - por que não? - contracultural.
No filme, cinco amigos – três rapazes e duas moças – dirigem por uma área rural do Texas quando, por um imenso infortúnio, acabam alvos de um lunático vestido com uma máscara feita de pele humana. Não vou contar muito para não estragar as surpresas de quem nunca viu o filme, mas a maneira como Hooper filma os cenários isolados e macabros dão à obra uma envolvente aura de mistério.
Momento de desesperança
Para entender o impacto do filme na sociedade, é preciso retroceder no tempo e tentar entender a conjuntura política e social da época. Em 1974, os Estados Unidos estavam perdendo a Guerra do Vietnã e eram comandados por um presidente vil e mentiroso, Richard Nixon, prestes a renunciar devido ao escândalo de Watergate. A desconfiança no governo e nas instituições estava em seu ponto máximo.
Cinco anos antes, em 1969, uma gangue de assassinos liderada pelo alucinado Charles Manson havia cometido crimes terríveis, que chocaram toda a sociedade e praticamente sepultaram a ideia romântica dos anos 1960 como um período de paz e amor.
Todo o otimismo jovem simbolizado pelo rock e por festivais como Monterey Pop e Woodstock levaram um banho de realidade. O presente não era tão bonito e colorido como diziam muitos, mas um período violento e coberto de sangue. Num período de pouco mais de um ano, os Beatles acabaram e o rock perdeu Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix. A cultura jovem agonizava.
No cinema, obras como Sem Destino, O Poderoso Chefão e Tubarão exibiam histórias sangrentas em que, sob formas variadas, a sociedade era mostrada como hipócrita e fora de sintonia com a realidade. Não é à toa que, no mesmo ano de 1974, estreou um romancista que se tornaria o mais aclamado autor de histórias de terror e suspense de todos os tempos: Stephen King. Com Carrie, King mostraria um terror moderno e urbano, em que histórias sobrenaturais não aconteciam em castelos góticos, mas na casa de seu vizinho.
A chancela de Spielberg
Hooper sentia que um filme contemporâneo de terror precisava contemplar tudo isso e tentou fazer o filme mais realista possível, usando locações de verdade, situando a história num local igual a milhares de outros nos Estados Unidos e criando uma narrativa em que jovens eram atacados sem razão aparente, apenas por estarem ali naquele momento.
Para completar, disse ter inspirado o personagem principal, Leatherface, o sádico assassino da motosserra, num serial killer de verdade, Ed Gein, que havia inspirado o filme Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, e que inspiraria o Hannibal Lecter de O Silêncio dos Inocentes (1991). O cartaz de O Massacre da Serra Elétrica, na maior cara-de-pau, dizia: “baseado em acontecimento reais”.
Os espectadores compraram a ideia, e o filme, lançado em poucas salas, começou a ganhar público na base do boca-a-boca. Um grande admirador era Steven Spielberg, outro cineasta que iniciou a carreira no cinema B dos anos 70, dirigindo thrillers como Encurralado (1971), Something Evil (1972) e Tubarão (1975). Em 1982, Spielberg estava prestes a fazer E.T. – O Extraterrestre e havia escrito Poltergeist, mas seu contrato o proibia de dirigir qualquer filme no mesmo período. Ele lembrou então do impacto que sentiu ao assistir a O Massacre da Serra Elétrica e convidou Hooper para dirigir Poltergeist. Tobe Hooper morreu em 2017, aos 74 anos.
O Massacre da Serra Elétrica está disponível para locação via Apple TV e Amazon.
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