Após o último Halloween, senti que precisava fazer uma confissão: sou um tanto obcecado com O Exorcista. Essa obsessão nasceu do medo. A ideia de uma possessão demoníaca me aterrorizava quando fiquei sabendo do filme pela primeira vez. Referências brincalhonas feitas por um colega de classe da minha escola (católica) ao filme de 1973 apenas reforçaram meu terror. Passei muitos anos depois disso tentando evitar a longa e infernal sombra do filme na cultura popular.
Então, em 2016, antes do Halloween, decidi enfrentar meu medo e assistir ao filme. Descobri que, apesar de ter absorvido muito sobre ele por uma osmose cultural (por mais que tenha evitado), o longa-metragem ainda tem um poder incrível de chocar e assustar (não consegui dormir naquela noite depois de assisti-lo). Mas também tem o poder de elevar. Como escrevi naquele ano: “minha educação católica torna-me não só susceptível ao terror do filme, mas também ao seu tema principal, um que move tanto filmes de terror quanto películas no geral: a fé. O mal demoníaco revela a realidade superior e vitoriosa do bem transcendente.”
Não me interesso tanto pelo gênero de terror, mas sempre assistirei a filmes de terror que se destaquem como ótimos filmes. E O Exorcista definitivamente se qualifica e é, provavelmente, o meu favorito do grupo. Mesmo que eu não o tenha assistido mais uma vez.
Parece inútil assistir a qualquer outro filme sobre possessão demoníaca agora. Como Operação Dragão (também lançado há 50 anos), O Exorcista inventou tantos clichês de seu gênero que a coisa toda existe em sua sombra. É difícil até encontrar muitas novidades a dizer sobre o filme em si. É por isso que, em 2017, li o romance original, de William Peter Blatty. (Para efeito adicional, terminei o livro no Halloween, enquanto estava sentado na escadaria de Georgetown, em Washington DC, onde ocorre seu clímax.)
Se isso parece um pouco patológico, culpe a minha educação católica e a culpa católica que a acompanha. Mas me consolo pelo fato de não ser o único que escreveu sobre o livro ou sobre o filme. Na verdade, apenas na última semana, o City Journal publicou dois artigos sobre eles.
Um deles, de Chris R. Morgan, é uma resenha de The Devil Inside: The Dark Legacy of The Exorcist, de Carlos Acevedo. The Devil Inside é um livro sobre a produção do filme. Nas palavras de Morgan, “não deixa quase nada de fora no que diz respeito à concepção do filme, sua produção, seu legado crítico e suas controvérsias contínuas”. Mesmo assim, Morgan acredita que "o relato objetivo e 'desmascarador' de Acevedo talvez ofusque uma apreciação daquele impulso inato e indispensável dos fãs de terror de se deleitarem com a credulidade – e de correr o risco de vomitar o almoço dentro do cinema".
A restauração da fé do padre
Também foi publicado um excelente estudo do caráter do padre Damien Karras, feito por John Hirschauer, ex-National Review. Interpretado no filme por Jason Miller (que passou por sua própria crise de fé), Karras é um padre consumido por dúvidas. Embora, como detalha Hirschauer, a natureza de suas dúvidas seja um pouco diferente entre o livro e o filme. Em ambos, porém, ele representa um retrato convincente e comovente de uma fé incerta, “justificada, ironicamente, pela existência incontestável do mal”. Em 2019, observei da mesma forma, focando no livro, que a experiência traz “a restauração da fé de Karras”.
Hirschauer também vê corretamente no personagem de Karras “a difícil reaproximação entre a psicologia e o catolicismo, que persiste meio século depois”. A jornada da resolução do problema da possessão do material ao espiritual está ainda mais presente no livro. O demônio que possui Regan, no princípio, delicia-se com as visitas do “racional” Karras, porque “nada provaria algo para você. É por isso que amo todos os homens razoáveis”.
Ambos os textos ajudam a explicar como o filme consegue perdurar (assim como o livro) e o porquê de alguns de nós continuarmos obcecados. Os modernos sentem-se por vezes desconfortáveis em admitir o verdadeiro mal, mas a sua presença no nosso mundo dificilmente diminuiu, mesmo que os meios tradicionais de o confrontar possam ter diminuído. À deriva na anomia da modernidade, podemos achar que essas concepções mais antigas e seguras do bem são mais reconfortantes do que nos sentimos confortáveis em admitir. Mas elas sempre estarão lá para nós.
© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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