Lançado pela Netflix há três meses, O Vendedor de Ilusões: O Caso Geração Zoe narra uma das histórias mais inacreditáveis sobre golpes financeiros dos últimos tempos. O esquema de pirâmide começou na Argentina, mais precisamente em Villa María, uma cidade de Córdoba que lidera a produção de leite no país, e se alastrou por toda a América Latina (exceto Brasil), atravessando o oceano e fazendo vítimas na Espanha e em outros pontos da Europa. Para quem é daqui e nunca ouviu falar nesse negócio, assistir ao documentário dirigido por Matías Gueilburt é uma experiência, no mínimo, fascinante.
O coach Leonardo Cositorto é a figura principal da narrativa. Nascido numa família que oferecia livros de porta em porta, ele já participava de pregações em cultos no final dos anos 90, como mostrado em imagens de arquivo conseguidas pelo filme. Mas foi só recentemente que o vendedor conseguiu transformar sua lábia poderosa em um grande volume de dinheiro. Em Villa María, ele lançou o Generación Zoe, uma mistura de plataforma financeira com curso para formar “coaches ontológicos” que atraiu a atenção de muita gente. A pessoa fazia um investimento que dava direito a um treinamento (com muitos papos espirituais no meio), duas viagens internacionais ao longo de dois anos e ainda recebia 7,5% do dinheiro aplicado mensalmente, além de vantagens ao atrair novos tolos.
Tratava-se, obviamente, do bom e velho esquema Ponzi. Contando com o carisma de Cositorto e dos demais palestrantes do núcleo duro do Zoe, a arapuca foi turbinada pela chegada da pandemia de Covid-19. Um mundaréu de argentinos recolhidos em casa, procurando lives para matar o tempo e pensando em saídas para descolar algum dinheiro naquela nação quebrada: era o cenário perfeito para um caô desses prosperar.
Faz o C
O ágil documentário conta com depoimentos de Cositorto, de diversas vítimas do Geração Zoe e de jornalistas, twitteiros e de uma promotora local (Juliana Companys), que foram figuras fundamentais para desmascarar a quadrilha. Com planos megalomaníacos de empreendimentos de todos os tipos (de lanchonete a criptomoeda) e patrocínios em clubes de futebol, a organização tornou-se suspeita primeiramente entre usuários do antigo Twitter interessados no tema. Sem o barulho inicial que eles fizeram, invadindo lives dos coaches e fazendo memes, aliado às denúncias de um jornal da região, a gangue de Cositorto (que viveu dias de empresário celebridade) seguiria enganando ingênuos por muito mais tempo.
O ápice do escândalo se deu entre 2021 e 2022, quando já era grande o número de ludibriados querendo recuperar o dinheiro investido sem sucesso. O líder foi preso preventivamente durante uma viagem internacional – logo, suas falas para o filme são colhidas do cárcere, em Córdoba, onde segue detido. Simpatizante de Javier Milei, Cositorto clama para que o presidente intervenha no caso e o liberte, pois assim ele poderá retomar seus negócios e devolver a guita (expressão que os argentinos usam para falar de grana) devida. Estimativas cautelosas apontam que o Zoe movimentou cerca de 120 milhões de dólares. Já um dos twitteiros responsáveis pela casa cair acredita que a soma chegue a 400 milhas.
Antes de ir para o xilindró, o coach fundou um partido político, o Despertar. Nas entrevistas concedidas nos últimos dois anos, ele sempre manifesta a intenção de entrar para a política para valer e disputar eleições. Quem sabe ele não tenta a prefeitura da maior cidade do país?
- O Vendedor de Ilusões: O Caso Geração Zoe
- 2024
- 107 minutos
- Indicado para maiores de 12 anos
- Disponível na Netflix
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