Responsável por dar o Oscar de Melhor Atriz para Sandra Bullock em 2010, o filme Um Sonho Possível voltou ao noticiário nas últimas semanas – e por um mau motivo: Michael Oher, o jogador de futebol americano cuja história é retratada no longa, está processando sua (suposta) família adotiva. Ele diz que o processo de adoção nunca foi formalizado e que a família o usou para ganhar dinheiro com o filme, sem compartilhar nenhum dos ganhos com ele.
Além do Oscar, Sandra Bullock levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz por sua atuação na obra, que também foi indicada ao Oscar de Melhor Filme. A reviravolta no caso gerou dúvidas em alguns cinéfilos. Se a história do filme é, em parte, falsa, a estatueta de Sandra Bullock poderia ser removida? A resposta é não. Nada indica que isso possa acontecer.
De qualquer forma, para os fãs, a decepção com o desfecho da história pode ser uma boa oportunidade para conhecer outros filmes que tratam do tema adoção. A Gazeta do Povo separou três deles, cada um com um estilo diferente. Veja a lista abaixo.
De Repente uma Família (2018)
Interpretado por Mark Wahlberg e Rose Byrne, o casal protagonista da trama se dá conta de que pode ser tarde demais para ter filhos biológicos depois de anos priorizando suas carreiras. Os dois decidem, então, adotar uma criança – um adolescente, nem pensar. Mas eles acabam mudando de ideia depois de um encontro acidental com Lizzie (Isabela Merced), jovem de 15 anos que traz consigo um irmão de 10 anos, Juan, e uma irmã de 6, Lita. De uma vez, o casal ganha três filhos. Mas a conexão entre pais adotivos e seus novos filhos nem sempre é automática, e não acontece por mágica. A rebeldia de Lizzie, a insegurança de Juan e o temperamento forte de Lita se revelam um desafio para o casal inexperiente e desastrado.
De Repente uma Família foi escrito e dirigido por Sean Anders, especialista em comédias populares (como Débi & Lóide 2). A obra diverte ao mesmo tempo em que informa sobre a realidade da adoção. Uma das passagens mais engraçadas é a da mulher de meia-idade que busca adotar um jovem negro que possa se tornar um jogador de futebol americano no futuro, exatamente como a personagem de Sandra Bullock em Um Sonho Possível. A atuação da pequena Julianna Gamiz como Lita também merece destaque. O filme tem passagens dispensáveis e quase bobas, além de umas poucas falas com palavreado chulo e uma breve alusão (positiva) à adoção por casais gays. Mas o saldo é positivo. A principal é a de que amar é uma decisão, muito mais do que um sentimento.
Onde assistir: Netflix, Globoplay
O Garoto da Bicicleta (2011)
A produção belgo-francesa O Garoto da Bicicleta traz um retrato mais cru dos desafios da adoção. Cyril (interpretado pelo ótimo Thomas Doret) é um garoto de 12 anos abandonado pelo pai. Da mãe biológica, nada se sabe. Vivendo em um abrigo, ele tenta fugir constantemente. Em uma das fugas, esbarra (literalmente) em Samantha (Cécile de France), uma cabeleireira quase tão solitária quanto o garoto, mas que gradualmente aceita cumprir o papel de mãe. Isso significa lidar com o temperamento instável do jovem, profundamente perturbado pela decisão do pai de deixá-lo para trás. Também significa impedir que ele seja cooptado pelo bandido do bairro, interpretado por Egon di Mateo. A tensão entre esses dois polos preenche boa parte do enredo.
Como obra não-hollywoodiana, O Garoto da Bicicleta tem ritmo e linguagem diferentes de De Repente uma Família. Ela traz longos silêncio, trilha sonora minimalista e nenhuma pretensão de explicar tudo nos mínimos detalhes. Se De Repente uma Família mostra que amar é uma decisão, O Garoto da Bicicleta afirma que ser amado também é. Além disso, a obra dirigida pelos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne ilustra que, em certas circunstâncias, o amor exige doses iguais de ternura e dureza.
Onde assistir: Mubi
A Luz entre Oceanos (2016)
Este é o filme mais artístico da lista. Aqui, a adoção não ocorre pelos meios tradicionais. O casal formado por Tom (Michael Fassbender) e Isabel Sherbourne (Alicia Vikander) tem uma vida perfeita na ilha (fictícia) de Juno, na Austrália, onde o rapaz toma conta do farol que guia os navios rumo ao continente. O isolamento parece ser uma dádiva ele, depois de quatro anos lutando nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Em Janus, tudo é bom e belo. Mas esse equilíbrio é interrompido por dois abortos espontâneos. Logo após o segundo, o casal se depara com o que parece ser um milagre: um pequeno barco em que uma bebê chora ao lado do pai já sem vida. Isolado do mundo, o casal decide criar a menina como sua e enterrar o corpo do navegador desconhecido na praia. De início, tudo vai bem, e os dois se convencem de que essa solução é melhor do que enviar a criança para um orfanato frio e sem amor. Mas a decisão trará consequências.
Em A Luz entre Oceanos (quarto filme da carreira do diretor Derek Cianfrance), a “adoção” é um pano de fundo para um drama bem construído e que traz perguntas sobre a solidão, o sacrifício e o significado dos laços familiares. O filme tem uma fotografia belíssima e uma trilha sonora à altura. As reviravoltas do enredo (adaptação de um livro de M. L. Stedman) têm um alto potencial de produzir lágrimas. A interpretação de Alicia Vikander, em especial, é comovente. Aliás, os protagonistas do filme, que se conheceram durante as gravações, casaram-se no ano seguinte e tiveram uma filha.
Onde assistir: locação via AppleTV e Google Play
Cientistas e teólogos concordam que o laço afetivo entre pais e filhos biológicos é um dos fatos mais incontestáveis da natureza humana. O que a teoria da evolução tem mais dificuldades em explicar é por que o ser humano é capaz de gerar um amor tão intenso por alguém que não carrega os seus genes. De maneiras diferentes, os três filmes indicados nesta lista ajudam a explicar esse fenômeno.
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