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A Brasil Paralelo fez fama com seu conteúdo com visões críticas sobre questões políticas e sociais da atualidade. Para isso, sempre investiu na produção de documentários e programas que trouxessem informações reais e embasadas por teóricos ou entendidos de um assunto, como ocorre em longas como Unitopia e From the River to the Sea. Neste ano, a empresa deu um passo além ao lançar sua primeira obra de ficção, chamada Oficina do Diabo.
Planejada inicialmente para 2023, a estreia foi adiada após um imbróglio de direitos autorais com a The CS Lewis Company, empresa inglesa que cuida do espólio do autor de Crônicas de Nárnia. O motivo seria sua inspiração na obra Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, algo que chegou a ser divulgado pela companhia.
O filme acompanha Pedro, um homem que tentou carreira na música, mas acabou ficando pobre e precisando voltar para a casa da mãe, no interior do Paraná. E é nesse contexto que surge em sua vida, sem ele saber, o demônio Natan. O aprendiz de diabo tenta corrompê-lo com a ajuda de Fausto, um capeta mais experiente.
Oficina do Diabo desenrola-se principalmente pela interação entre a dupla maligna. Ao apontar falhas e momentos de fraqueza de Pedro, os dois acabam provocando no espectador questionamentos sobre a fé e como ser uma pessoa melhor. Como citado por Paulo Polzonoff em sua coluna a respeito da produção: “É um filme cheio de oportunidades para entrarmos em crise e, assim, reafirmarmos nossa fé.”
Há uma cena, por exemplo, em que Pedro é levado a uma livraria por seu irmão, um jovem bastante religioso e firme na vida. O par de diabos entende que a ocasião é perfeita para desviar Pedro. Natan e Fausto atraem um homem ateu e amante da ciência para palestrar na livraria. Dessa forma, apelam para que Pedro deixe o caráter religioso de lado e fique somente no racional, atraído pelo discurso. O tiro sai pela culatra, mas reforça como, diariamente, qualquer um pode deparar com eventos capazes de alterar seus pensamentos – o segredo é conseguir entender o que é o bem e o mal no meio disso.
O diabo mora nos detalhes
Mesmo com um roteiro interessante, propondo uma reflexão saudável sobre moralidade, o longa-metragem demonstra que a empresa ainda precisa de ajustes para emplacar um sucesso verdadeiramente imbatível. Para começar, eles poderiam tomar um cuidado maior com a escolha de elenco.
Há bons atores, como Elizângela, morta em 2023, e Roberto Mallet, que vivem a mãe de Pedro e Fausto, respectivamente. Mas há muitas cenas em que outros artistas não convencem. Pela sinopse, parece que o protagonista deveria ser alguém mais jovem e inocente do que Sergio Barreto, o ator de 37 anos que encarna Pedro.
Outro ponto que poderia ser considerado em um projeto vindouro, é o formato de série. Com duas horas de duração, Oficina do Diabo tenta abordar ideias demais, que poderiam ser utilizadas em mais de uma produção. Ao tentar fazer um apanhado sobre todos os temas relevantes, como religiosidade, política e até aborto, o filme cansa após algum tempo.
Por fim, na cena da livraria citada acima, uma das conversas dos cramulhões se dá na frente das estantes de sociologia e filosofia. Embora haja uma sacada aí, no sentido de indicar que a Brasil Paralelo é capaz de fazer referências escondidas, a cena reforça uma visão deturpada acerca de duas áreas importantes das ciências humanas. Obviamente, nem todo filósofo ou sociólogo é uma figura má que busca destruir a sociedade. Existem bons pensadores conservadores que funcionariam bem caso fossem referenciados pelo filme.
Tirando esses detalhes, Oficina do Diabo aponta que a empresa pode ter futuro no mundo das ficções, desde que saiba jogar as cartas corretamente. É salutar que exista mais uma alternativa aos filmes repletos de ideologia que vêm de Hollywood e outros redutos progressistas.
- Oficina do Diabo
- 2025
- 120 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível na Brasil Paralelo






