
Ouça este conteúdo
Em 1992, quando estava lançando seu filme de estreia, Quentin Tarantino veio a São Paulo participar da tradicional Mostra de Cinema. Ainda que Cães de Aluguel fosse um filmaço, ninguém poderia projetar que aquele cineasta então com 29 anos, participando de uma mesa de debate com a atriz portuguesa Maria de Medeiros aqui e tirando uma foto ao lado de um poste com uma propaganda eleitoral de Paulo Maluf acolá, iria se tornar um dos grandes criadores de sua geração.
A ideia se cristalizou quando, dois anos depois, Tarantino lançou sua obra-prima: Pulp Fiction, que no Brasil ganhou um adendo no título: Tempo de Violência. Quem era jovem no meio da década de 90 e lia sobre o explosivo filme em todos os jornais e revistas temia não conseguir pegar o filme nos cinemas graças à censura de 18 anos. Na semana passada, o mesmo se deu com a estreia de Demon Slayer: Castelo Infinito. A diferença é que em 1994 havia a sensação de “sabe-se lá quando esse filme chegará às locadoras ou passará na TV”, angústia que os serviços de streaming encurtaram bem.
A trajetória do diretor, com cultura formada justamente num balcão de locadora de VHS, seguiu com filmes inspirados ou um pouco decepcionantes, mas sempre divertidos. Pela internet, encontram-se muitos rankings e tier lists tentando organizar a produção de Tarantino hierarquicamente. Não há um consenso nem sobre a base nem sobre o topo. Portanto, o ranking a seguir não se pretende definitivo. É só uma visão de alguém que vibrou quando conseguiu entrar no cinema sem precisar mostrar a identidade para ver Pulp Fiction e nunca mais perdeu um filme do cara nas telonas.
Ranqueados do pior para o melhor, cada filme abaixo possui a indicação da disponibilidade no streaming quando a lista foi feita (setembro de 2025).
10) Kill Bill: Volume 1 (2003)
A saga da noiva que vai em busca de vingança ficou longa demais e precisou ser dividida em dois filmes. Muita coisa se pensarmos que Kill Bill é somente isso: um filme sobre vingança. O primeiro volume é o que entrega mais cenas violentas e deixa Tarantino solto para explorar seus fetiches. Quem curte filmes japoneses de samurais se divertiu mais do que o resto da audiência.
Onde assistir: disponível para locação e compra na Amazon e Apple TV+.

9) Kill Bill: Volume 2 (2004)
Algumas peças se encaixam no quebra-cabeças e o espectador finalmente descobre o nome da noiva, que segue matando geral e tentando concluir seu ato de vingança. Tem mais diálogos do que o primeiro volume, mas confirma que é a obra mais oca de Tarantino, ainda que tenha se espalhado pela cultura pop. No Brasil, o programa Pânico na TV usava muitas cenas do filme, além de sua trilha sonora.
Onde assistir: Globoplay e para locação e compra na Amazon.
8) À Prova de Morte (2007)
É o trabalho que levou Tarantino para a lona. Seu fracasso fez o diretor dizer: “minha sensação era de que minha namorada havia terminado comigo. Só que minha namorada era o mundo inteiro.” A analogia é boa, mas houve quem amasse esse projeto, que sob o chapéu Grindhouse trazia outro filme dirigido por Robert Rodriguez: Planeta Terror. A ideia era de que o espetador assistisse aos dois filmes na mesma sessão. O de Tarantino é sobre um dublê que usa seu carro para apavorar mulheres, até que quatro delas decidem enfrenta-lo.
Onde assistir: Lionsgate+ e para locação e compra na Amazon.
7) Era uma Vez… Em Hollywood (2019)
A carta de amor de Tarantino para a Los Angeles dos anos 1960 é seu filme mais recente. Nele, o diretor brinca com personagens que de fato existiram (Bruce Lee, Sharon Tate, os comandados pelo guru Charles Manson) e os mescla com artistas fictícios que habitam ou rondam Hollywood. O foco é no galã decadente Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê e motorista Cliff Booth (Brad Pitt), mas hoje outra figura chama atenção no longa: a incinerada Sadie, vivida pela novata Mikey Madison. Seis anos depois, ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz por Anora. Sean Baker, diretor do filme, conheceu seu talento assistindo a Era uma Vez… Em Hollywood.
Onde assistir: Prime Video (até o fim de setembro) e para locação e compra na Amazon, Apple TV+ e Claro Video.
6) Os Oito Odiados (2015)
O faroeste de Tarantino reúne oito estranhos buscando refúgio de uma nevasca nos estertores da Guerra Civil Americana. Termina numa grande carnificina, como muitos dos trabalhos do diretor, mas tem valor distinto pela sua trilha sonora original. A lenda Ennio Morricone foi convencida a voltar a compor para um bangue-bangue mais de três décadas após se afastar do gênero. E, em vez de criar algo que remetesse às suas criações clássicas, o italiano escreveu uma peça orquestrada, que lhe valeu o único Oscar da carreira (tirando o dado anteriormente pelo conjunto da obra).
Onde assistir: Prime Video e para locação e compra na Amazon, Apple TV+ e Claro Video.
5) Django Livre (2012)
Maior bilheteria de Tarantino, Django Livre conta a história de um escravo liberto que atua como caçador de recompensas e busca resgatar sua esposa de um fazendeiro impiedoso. São ótimas as performances de Jamie Foxx, Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson, mas quem foi agraciado com um Oscar foi o austríaco Christoph Waltz. Ele, que já havia faturado uma estatueta de Melhor Ator Coadjuvante por Bastardos Inglórios, voltou a merecer a honraria pelo seu Dr. King Schultz. Spike Lee anunciou que não veria o filme porque “a escravidão nos Estados Unidos não foi um western spaghetti de Sergio Leone”.
Onde assistir: disponível para locação e compra na Amazon, Apple TV+ e Claro Video.
4) Bastardos Inglórios (2009)
Para quem viu e pirou com o filme, ele traz o desfecho mais adequado para a onda nazista que varreu a Europa durante a Segunda Guerra. O espectador acompanha dois planos para exterminar os políticos alemães responsáveis pelo regime. Um é orquestrado por uma jovem judia francesa que é dona de um cinema. O outro é de incumbência de uma tropa de soldados judeus liderados pelo personagem de Brad Pitt, o primeiro-tenente Aldo Raine. Christoph Waltz está impagável como o coronel Hans Landa, tanto que levou o Oscar. Tarantino demorou dez anos para ter segurança com o roteiro, passando as filmagens de Kill Bill e À Prova de Fogo na frente.

Onde assistir: disponível para locação e compra na Amazon, Apple TV+ e Claro Video.
3) Cães de Aluguel (1992)
A gênese de quase tudo que o cineasta faria depois está em sua estreia. Trata-se de um filme policial que mostra o que aconteceu antes e depois de um roubo de diamantes que tinha tudo para ser bem-sucedido, a não ser pela presença de um traíra entre os seis bandidos. Eles são identificados por cores: Harvey Keitel é o Mr White, Tim Roth é o Mr Orange... Michael Madsen, que morreu no último mês de julho, faz o Mr Blonde, cujo nome de batismo é Vic Vega. Ele é o irmão de Vincent Vega, que ficaria conhecido dois anos mais tarde em Pulp Fiction, interpretado por John Travolta.
Onde assistir: Lionsgate+ e para locação e compra na Amazon, Apple TV+ e Claro Video.
2) Jackie Brown (1997)
Para muitos cinéfilos, foi com Jackie Brown que Tarantino provou ser mesmo um cineasta fora de série. Isso porque depois de explodir com Pulp Fiction, o diretor resolveu voltar às telas com um blaxpoitation, nome usado na década de 1970 para designar obras de ação estreladas por atores negros. Ainda que o elenco conte com Michael Keaton, Robert De Niro e Bridget Fonda, a protagonista é a negra Pam Grier, que havia feito sucesso nos anos 70 e andava esquecida. Tarantino não só a recuperou, como deu um belo personagem para o ator de segundo escalão Robert Forster, pelo qual ele concorreu ao Oscar. Nessa adaptação de um romance de Elmore Leonard, um dos grandes destaques é a trilha sonora, composta por pedradas de Bobby Womack (Across 110th Street) e The Delphonics (Didn’t I Blow Your Mind This Time).
Onde assistir: Lionsgate+ e para locação e compra na Amazon e Apple TV+.
1) Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994)
Como escreveu André Barcinski aqui mesmo na Gazeta do Povo, se O Poderoso Chefão é a cara do cinema dos anos 70 e E.T. O Extraterrestre é sinônimo de anos 80, Pulp Fiction será lembrado eternamente como a maior tradução dos anos 90. E também a tradução de tudo que Tarantino consumiu ao longo de sua vida e resumiu nas várias histórias que compõem sua obra-prima de tirar o fôlego. Há quem tenha sido impactado por Christopher Walken contando para a versão criança de Bruce Willis de onde tirou o relógio de ouro de seu pai. Há quem tenha decorado as falas de Tim Roth e Amanda Plummer anunciando o assalto no restaurante. Há quem saiba reproduzir os movimentos de dança de John Travolta e Uma Thurman ou ainda sonhe em tomar aquele milk-shake de cinco dólares. E há quem tenha tido contato pela primeira vez com os versículos bíblicos deturpados por Samuel L. Jackson antes de passar fogo em alguém pelo filme. Só não há quem tenha passado por Pulp Fiction sem ter sua vida transformada – com Dick Dale tocando Misirlou ao fundo.

Onde assistir: Paramount+ e para locação e compra na Amazon e Apple TV+.
VEJA TAMBÉM:





