Em julho, a conquista do Tetra pela seleção brasileira completa 30 anos. Aproveitando desse marco histórico do nosso futebol, o Max (antigo HBO Max) lançou Romário, O Cara, nova série documental que retrata a personalidade do jogador, mas com uma sacada: aborda sua vida apenas até a final contra a Itália em 1994, copa em que o jogador foi a grande estrela da seleção. Toda a carreira do “Baixinho” como deputado federal pelo PSB e senador pelo PL foi cortada. E ainda bem, porque se discutir política ou futebol é receita para a briga, imagine os dois juntos.
Já no primeiro capítulo, é perceptível que essa é uma produção que não poupou esforços. Além de entrevistas exclusivas com o próprio Romário, os produtores conseguiram depoimentos inéditos de figuras como Neymar, Carlos Alberto Parreira, Pep Guardiola e até Roberto Baggio, o jogador italiano que perdeu o pênalti na final e entregou o título ao Brasil.
Mas fazem falta figuras como Zagallo, que estava vivo na época das gravações do seriado, e Dunga, capitão do time naquela disputa. Os dois se negaram a participar, revelou o diretor da obra, Bruno Maia, durante entrevista ao canal Band.
O seriado desenha a personalidade do jogador com uma série de adjetivos: “competitivo”, “marrento”, “mulherengo”, “diferente”, “emotivo”, “decisivo”, “imbatível” e outros. Também usa de depoimentos do próprio para vender a ideia de que foi um ingrediente imprescindível para a quarta grande conquista da seleção, afinal, foi a atuação dele em uma eliminatória contra o Uruguai que garantiu a vaga do Brasil na Copa. "Quando eu nasci, papai do céu apontou o dedo para mim e disse: 'Esse é o cara'", já costumava dizer o futebolista – fala reforçada no documental.
Diz que me diz
Para quem não lembra ou viveu a época, Romário, O Cara faz um bom trabalho em apontar as polêmicas do atacante. Sua relação tempestuosa com Zagallo é um dos principais destaques. Mas é também um dos problemas. A falta de depoimento do coordenador faz com que o seriado tenha momentos que são um verdadeiro “diz que me diz”.
Em uma cena, por exemplo, Romário é questionado sobre a ocasião em que o coordenador da seleção afirmou à imprensa que berrou com o jogador. O atacante então responde: “Se ele tivesse gritado, mandaria ele tomar no **”. Nessas sequências, a tensão é palpável e fica para quem assiste decidir em quem acreditar.
Os melhores momentos são quando o documentário consegue contrastar opiniões diferentes e trazer uma história inédita. Essa qualidade fica clara quando se intercalam comentários do Baixinho, dos jogadores Zetti e Marcio Santos e de Parreira. Os três primeiros revelam que o técnico tentou se demitir durante as eliminatórias em 1993.
“Ele reuniu o grupo na Granja Comary (centro de treinamento da seleção) e comunicou que estava deixando a gente”, revela Santos. Parreira nega e garante: “Eu nunca cheguei a externar que sairia da seleção”.
No final das contas, Romário, O Cara traz histórias conhecidas e desconhecidas, detalhadas e escancaradas com depoimentos de figuras importantes e que dão o que falar. Mas, como em todo documentário, vale ficar de olho no que é verdade e o que é a visão do diretor ou do entrevistado. Cabe, afinal, ao espectador e conhecedor do esporte decidir se Romário foi de fato um jogador indispensável para a seleção e para o tetra.
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