Considerando o mau humor que boa parte dos espectadores tem com as narrações de Galvão Bueno, convencer de que as cerca de quatro horas e meia da série documental Galvão: Olha o que Ele Fez valem a pena poderia ser uma tarefa inglória. Mas o produto exclusivo do Globoplay é um documento histórico que repassa não só as cinco décadas de atuação do narrador, como as vitórias e derrotas que o Brasil sofreu nos principais esportes que competiu. Uma vez que se embarca no primeiro capítulo, é impossível não querer completar os outros quatro.
De cara, o serviço de streaming liberou dois episódios. No primeiro, abre-se um grande leque para que se entenda as raízes, carências e motivações de Galvão Bueno. O menino criado sem o pai biológico, mimado pelos demais parentes, que se muda de cidade com frequência e que certo dia recebeu um afago de Pelé ao invadir os vestiários do Pacaembu se transforma no profissional obstinado, folgado na hora de cobrar esportistas nas transmissões, e pai ausente, que nunca levou os filhos pequenos para ver uma partida de futebol em estádio.
Os depoimentos e imagens de arquivo seguem uma cronologia, mas são cortados por cenas recentes, de Galvão se preparando para narrar a última Copa do Mundo. Os diretores Sidney Garambone e Gustavo Gomes optaram por exibir informalidades e passagens de bastidores que mostram o narrador soltando o verbo, com direito a muitos termos chulos, o que só contribui para a riqueza do material. Também ajuda muito o fato de que para cada comentário estratosférico (e merecido) sobre Galvão, como o de Cleber Machado dizendo que o colega mudou a forma como um locutor esportivo é enxergado no país, exista um lateral Cafu o chamando de corneteiro ou um volante Alemão revelando uma mágoa que o tempo nunca curará.
Pedido de desculpa
Esses danos que Galvão causou na vida de muitos esportistas e familiares podem ser resumidos numa cena do segundo capítulo, que mostra o narrador procurando o meia Zinho para se desculpar pelas falas desabonadoras proferidas durante os jogos da Copa de 1994. O ex-jogador aceita as escusas, mas enche os olhos de lágrima ao dizer que o mais importante seria se seu falecido pai estivesse ali naquele momento de perdão. Todo esse segundo episódio é dedicado a recordar como Galvão se tornou essa figura magnânima nas transmissões esportivas, como foco nos gramados.
Nos três episódios restantes, que o Globoplay começa a liberar a partir desta quinta-feira (25), entra em destaque o Galvão narrador de Fórmula 1 e sua relação com Ayrton Senna. Os esportes olímpicos também devem merecer um capítulo especial, bem como seu atual momento profissional, em que ele deu uma desacelerada das transmissões, prometendo foco em seu canal de YouTube, e entrou para o mundo dos vinhos. Com um início tão promissor, é improvável que a série desande e mereça uma cornetada à la Galvão.
Moraes retira sigilo de inquérito que indiciou Bolsonaro e mais 36
Juristas dizem ao STF que mudança no Marco Civil da Internet deveria partir do Congresso
Idade mínima para militares é insuficiente e benefício integral tem de acabar, diz CLP
Processo contra Van Hattem é “perseguição política”, diz Procuradoria da Câmara
Deixe sua opinião